Queixa estudantil: o que é?

TRÊS TESES SOBRE A QUEIXA ESTUDANTIL NA UNIVERSIDADE (Resumo demonstrativo)

Wilson Correia**

RESUMO

O tema do presente trabalho é a queixa estudantil em nível universitário e indaga: em que consiste a queixa estudantil? O que ela acarreta para o acadêmico? A busca de respostas para essas perguntas nos levou às seguintes teses: a) a queixa realiza a autodesvalorização de si por parte do estudante de terceiro grau; b) a queixa lança o estudante em situação de assujeitamento político na universidade; e c) a queixa redunda em impotência epistêmica e não concorre para o êxito estudantil. Por isso, parece-nos, faz-se necessário intervir junto aos universitários que apresentam os sintomas da queixa para que venham a superá-la.

INTRODUÇÃO

o transtorno da queixa se dá por meio de expressões tais como: “É de difícil acesso”, “É impossível”, “É maçante”, “É muito abstrato, não entendo”, “É muito puxado”, “É muito teórico”, “Não compreendo”, “Estou cansado”, “Não aguento mais”, “Não consigo”, “Não dou conta”, “Não entendi”, “Não sabemos”, “Não tem nada a ver com a prática”, “O professor não explicou”, “Esse professor só sabe impor atividades”..., entre outras que podem ser facilmente ouvidas e registradas por quem faz e sofre a educação em nível universitário em nosso país.

1 A QUEIXA REALIZA A AUTODESVALORIZAÇÃO DE SI POR PARTE DO ESTUDANTE DE TERCEIRO GRAU.

A vigorosa consciência de si implica a responsabilidade, que é, em primeira instância, capacidade de responder pelo próprio ser, bem como por aquilo que dele decorre, tal como o próprio projeto de vida, aí incluída a formação universitária, e as atividades necessárias para conduzi-lo a contento ao bom termo, rumo à realização pessoal.

Nessa perspectiva, a assumência do que se é por parte de cada pessoa, e, particularmente, pelo estudante, pressupõe o envolvimento com a própria existência, a qual, no tempo e no espaço, é pessoalíssima, intransferível, singular e impossível de ser vivida por outrem. Trata-se, aqui, daquela ponte que, segundo Nietzsche, também é única e intransferível: “Ninguém pode construir no teu lugar a ponte que te seria preciso tu mesmo transpor no fluxo da vida – ninguém, exceto tu” (2003).

2 A QUEIXA LANÇA O ESTUDANTE EM SITUAÇÃO DE ASSUJEITAMENTO POLÍTICO NA UNIVERSIDADE.

O alheamento em nível pessoal pode conduzir à alienação quando o estudante, autodesqualificado, é chamado a atuar no âmbito do mundo do “nós”, do coletivo, onde deve valer a palavra perpetrada, os propósitos compartilhados, os objetivos comuns e as decisões e ações que concorram para a consecução dos projetos e propósitos em comum.

O malogro na esfera dos empreendimentos coletivos denota o afrouxamento do posicionamento político que envolve o “eu-nós”. O corolário disso é que a voz pública do grupo não logra a aceitação, a legitimação e a aderência necessária à fala cidadã, para que as bandeiras de luta estudantis se façam legítimas e consequentes. Logo, é o “eu-nós”, o corpo político institucional, que não logra êxito em suas proposições.

3 A QUEIXA REDUNDA EM IMPOTÊNCIA EPISTÊMICA E NÃO CONCORRE PARA O ÊXITO ESTUDANTIL.

O que começa com lamento, acompanhado de uma causa exterior, deságua nos obstáculos de natureza interior, reverbera do “eu” ao “nós”, e, no que é específico no caso estudantil, volta ao acadêmico na forma de fracasso universitário.

No cerne desse fracasso funciona a não operatividade da potência epistêmico-cognitiva pessoal, a qual, somada à inoperência coletiva, redunda, não em êxito acadêmico, mas em malogro anunciado, a priori, no e pelo ato de queixar.

CONCLUSÃO

Pudemos notar nesta comunicação a relevância de se produzir estudos e compreensões sobre a queixa em nível de terceiro grau, principalmente, e sobretudo, porque ela fere a relativa autonomia na condução da vida estudantil e interfere na permanência exitosa do estudante na universidade, fazendo com que o resultado disso seja o fracasso, e não o sucesso estudantil. Isso, seja registrado, não implica perdas apenas para o estudante em sua particularidade, mas, principalmente, para o entorno social de que ele é parte, o qual investe no estudante esperando que o acadêmico cumpra a sua função social.

A queixa, como foi tentada a evidenciação, refere-se a um comportamento que merece atenção porque ela implica e arrasta para o interior da vida do estudante a inação cognitiva, dado que substitui a atividade e o exercício do pensamento, atos precípuos no ensino, na pesquisa e na extensão de que se faz a educação universitária, configurando um estilo existencial estudantil que não concorre para o atendimento das necessidades formativas pessoais, profissionais e sociais.

O combate à queixa poderá auxiliar o queixador a virar o disco e a afirmar e agir segundo as regras proativas e assertivas que sustentam: “Eu consigo o acesso”, “É possível realizar”, “É um trabalho possível”, “Está a serviço da minha formação, ajuda”, “Posso me dedicar e conseguir”, “A teoria é visão e eu preciso enxergar”, “O cansaço é um momento, não é o percurso todo”, “Tenho força suficiente para obter êxito”, “Eu consigo”, “Dou conta”, “Geralmente, entendo sempre”, “Sei, sim”, “O que contribui para a prática nunca sobra”, “Sou o responsável pela qualidade da minha formação”.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA DESTE RESUMO

NIETZSCHE, F. Schopenhauer educador (Terceira Consideração Intempestiva). Trad. N. D. de M. Sobrinho. São Paulo: Loyola, 2003.

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* Este trabalho, adaptado neste resumo demonstrativo, foi aprovado para apresentação no IX Congresso Nacional de Educação (Educere III) e Encontro Sul Brasileiro de Psicopedagogia (ESBPp), a se realizar em Curitiba, entre os dias 26 e 29 de outubro de 2009, na PUC-PR, e conta com a parceria da professora Solange Nascimento em sua apresentação neste evento.

** Wilson Correia é filósofo, psicopedagogo e doutor em Educação pela Unicamp e Adjunto em Filosofia da Educação na Universidade Federal do Tocantins. É autor de ‘TCC não é um bicho-de-sete-cabeças’. Rio de Janeiro: Ciência Moderna: 2009. Endereço eletrônico: wilfc2002@yahoo.com.br