Sobre os relacionamentos modernos
Angélica T. Almstadter
Em meio às tintas de tantas palavras e carinhos sempre uma dúvida me assalta; somos cada um, um universo, e dentro desse espaço que nos acolhe , vivemos soltos sem rastros, sem laços e sem fronteiras...como saber se dentro dessas linhas a sinceridade é pintada com cores fixas...
Já não há segredos tão bem guardados, mas ainda há a perplexidade de se saber que em cada esquina uma nova emoção te colhe e pra cada sorriso enviado um novo desejo nasce...porque os afetos nem sempre se fecham dentro de uns poucos braços...
Fica a sensação de que não se conhece mais a distância...nem física nem emocional, quando se trata de emoções e de ligações, e quem há de dizer que não existe lealdade estampada nesses semblantes que parecem tão serenos... tão vivamente próximos e reais...
Quanto mais o tempo escoa, e mais as relações se estendem como braços em todas as direções...mais se vê a face de cada um...e quanto mais se revela a intimidade, mais se maquia a realidade...fica-se exposto como fruta pronta para ser consumida...vira-se platéia nesse palco de tantas alegorias e representações...onde cada um recolhe seu quinhão de alegria e guarda sua cota de choro, pelas frustrações que entram pelos olhos adentro...sem pedir licença...sem ao menos se preocupar se o outro resiste...
Cruéis são os tempos de liberdade exacerbada, de experimentos e novidades onde se paga caro demais para se ter braços abertos e relações estreitas...quando os valores de cada um são diferentes, quando há uma deturpação de conceitos e uma revolução nos sentimentos e nas ligações...
Seria o paraíso, se não houvessem más intenções...mas humanos são os homens e sujeitos a todos os tipos de tentações...frágil na sua estrutura...se perde irremediavelmente sem saber como se comportar num mundo onde tudo está a mostra e pronto para ser consumido, rapidamente...
Escolhas...são elas que nortearão os nossos sentidos...mas antes de optar, há que se conhecer as próprias defesas e monitorar as ações, para que o abismo não seja o ponto final de cada um de nós...