Torre
Angélica T. Almstadter
No alto de que mirante fica essa torre...
Perdida entre as nuvens de que céu...
Sinto a invasão dos setentrionais...
me recolho ao sonhos abissais sentindo
nas vestes o peso da agonia que não
me move os pés...e para onde fugir
das ventanias que se alastram rudes
ricocheteando pelas paredes...
São estas algemas mortais um artefato
ousado que fazem elo entre o vôo da gaivota
e um pássaro idiota que se fere calado...
...entre os açoite dos ventos e o olhar perdido no
firmamento me contorço sem voz e
desconexa nessa ebulição...por essa
inquietude que não cessa...
nesse espaço que não finda...
e essa veia que me inunda...
Deste mundo que tudo parece irreal...
não se mede a fantasia de um corpo ausente...
não se pactua com o presente...tudo é lembrança tola...
nuances opacas de uma visão especial...
onde nada apraza...os coloridos levemente tocados...
esmaeçeram nas ausências...
Sinto o gosto do absinto no toque suave da taça...
brindo essa sede que não passa...
brindo ao gosto adocicado do
leve pecado que se redime...
Do alto dessa prisão de paredes caiadas...
leito mimosamente composto...espelho o brilho
do meu rosto no reflexo dessas
grades rigidamente dispostas...
Quanto odeio essa ampulheta
brilhante que me sorri ameaçadora...
registrando um tempo fora de hora...
que não volta...esse tempo maldito
que me faz tardia...e desperta em mim
a rebeldia por essa prisão arbitrária...genética...patética...
Afinal o que resta?
Uma janela absurdamente injusta...
um vazio intensamente profundo e
uma melancolia que transborda além dos limites...