Inferno Astral

Sei que vou olhar para trás muitas vezes, muitas e muitas vezes vou me agarrar à lembranças que hão de me rasgar de saudade. O tempo não retrocede, só vai em frente, e cada vez mais veloz, o amanhã é uma colcha nos envolvendo com a saudade e as lembranças do hoje...

Quantas gotas precisei para encher esse cálice...quantas vezes bebi nessa taça que chegou a borda e não mais parou de transbordar...

Mas já sinto o abraço da saudade, e a tela das lembranças cutucando minha memória...sinto o frio da distância e o aconchego das recordações que amarelam sobre meus escritos tantos...e tão tolos...

Sorvo e brindo só, a taça de absinto...os papéis empilhados à minha frente...não mais me convidam a leitura...meus dedos se comprimem, enquanto meus pensamentos voam sem rumo...olho a tela vazia ...faço e refaço imagens...nada me preenche...rasgo meus ensaios bobos... e amontôo textos na pasta de rascunhos...

Parece eterno, esse inferno astral...esse túnel que não aponta para uma saída, essa escuridão me atormenta a alma e os olhos cansados desse mergulho sem volta...cansei das horas abertas tremulando nas chamas miúdas das lamparinas; que adentram as noites, silenciosamente, enchendo de sombras e fantasmas os espaços que sobram ao meu redor...

Me cansei dos meus fantasmas, das tantas falas estressadas e descontroladas...me cansei dos meus gestos estúpidos...dos meus anseios quase adolescentes...me cansei de mim...

As malas me esperam na porta...falta-me criar coragem para apagar as luzes...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 27/05/2005
Código do texto: T20036
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