Entre o batente e o horizonte

Entre o batente da minha janela e a linha que desmaia no horizonte, uma estrada a percorrer...uma vida caminhando cheia de trapos de pensamentos e sangue acelerado vertendo pelas palavras...

Zigue-zague de passos, sem rastros engolindo o chão...num desencontro de horas e exagero de paixão...

Vago os olhos no estender do chão...debruçada no desalinho das ausências...sentindo a pele arrepiada pelo desconforto dos olhares e das olheiras cada vez mais freqüentes...

...não apago a visão...não desvio os olhos da meta...inspiro a brisa que levemente sopra...e cada vez que tombo...ralo os joelhos...mas o desafio de tocar e sentir o que de lá me convida...me faz levantar e de cabeça erguida seguir meus próprios instintos...

...Não pedi o sol, nem tão pouco cobrei as estrelas...mas ganhei um mundo aberto e uma imensidão de braços abertos...esperando que neles eu mergulhe...

Tateano sem conhecer os percalços...despida dos atributos...livre das censuras e da percepção do ontem ou do amanhã...finco estacas embandeiradas...onde só posso eu mesma pousar...rasgo estreita passagem, onde só me cabe a decisão de seguir em frente...

Apaguei os ponteiros...e se guardo nas mãos perfumes dos anos que em mim se ajuntam...nesse abraço indeciso, enterneço meus sentidos...e sem que uma palavra banque promessas...me atino com desvelo...

Entre o batente da minha porta...e o mundo que se descortina a minha frente...uma só comunhão...uma só espera...um só caminho e uma só esperança...

...levo meus ensaios ...meu amor comportado...agendado sem hora e sem pressa...solto no vento...e deixo que lamba meu rosto...passeie nos meus lábios...sei que pousa manso...ou agitado...mas num único regaço...lá me perderei se um dia ancorar meus braços...

...como a vida que só dá e ensina...me calo e aceito...de esperas se fazem meus dias...até que me perca de mim...ou em mim...de vez...