Já não importa...
Não importa mais as horas...nem se os
ponteiros são céleres...já não tenho mais
pressa...não tenho para onde ir...
também não faz diferença se ficar...
Quebrei as vidraças e abri todas a janelas...
joguei fora os espelhos...
e deixo agora os ventos
entrarem e varrerem todas as lembranças...
espalharem pelo chão as poesias e as confissões...
nada ficou no lugar desde a última taça de champagne...
tudo ficou remexido
depois do temporal...e as poças estão por aí...
Os versos mastigados eu não posso mais guardar...
nem as ilusões e sonhos cabem mais nas gavetas...preciso de todo o ar
pra respirar...de todo espaço para deixar fugirem os pensamentos loucos...
os desejos baratos...esses meus olhares torpes...
Que venham as chuvas...e eu retiro meu teto...para lavar os
sentimentos agarrados no meu corpo...batizo com palavras novas
as primeiras inspirações...dou boas vindas
as novas angústias...e recebo com honras
as águas que virão se somar às poças das
minhas lágrimas...
O tempo ainda concede alguns vagos
na consciência para se dispersar perdidos
nas chamas bruxuleantes das velas
que choram...
Abafo no peito a canção que assombra
minhas lembranças...guardo
o amor que não morre...
enlutada abro os braços e abraço o tempo frágil...