Com olhos de mar

Algum dia em algum lugar meus olhos

hão de sorrir de verdade...

Não deixo rastros por onde ando, não deixo

marcas nas paredes recém caiadas...

porque sou transparente, não tenho pontas

a arranhar os espelhos que me refletem...

Sou apenas uma brisa de pouco perfume...

que roça breve e passa sem deixar saudade...

Tenho no ventre as dores do parto...constantes...

tenho nos braços a herança que não cresceu...

o sonho que não amadureceu...

Tenho o corpo crivado de angústias...

de esperanças adormecidas...

tenho a boca seca de saudades...

e os olhos perdidos em algum horizonte...

Sou um livro de página amareladas...rabiscadas e arrancadas brutalmente...sou o peso da liberdade e a lembrança da saudade...

Tenho o corpo vazio...o coração sempre apertado e a boca sangrando atraves das minhas mãos...tenho a alma na ponta dos dedos e dela deixo um pouco toda vez que me faço canção...

Falta-me o ar...falta-me a vida...falta-me a razão principal de ser e estar em qualquer lugar...falta-me o prazer de ser...a alegria de viver...falta-me a vontade de prosseguir...

Tenho os pés doloridos...a alma lanhada...tenho as asas cortadas e os olhos em mar...o que faz de mim um corpo estranho em mente inquieta...

Faço-me lua para anoitecer...faço-me cânticos para sobreviver...e nem os raios de sol que me rasgam o olhar...e cintilam como lâminas podem apagar as lágrimas que ora escorrem sem rumo...

Em algum lugar há de amanhecer

um dia que tenha sorrisos na janela...

abraços fartos pra me envolver...

e mãos a me tocar sem receios...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 06/06/2005
Código do texto: T22558
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