Ensaio de fantoches
Em que hora aportei nessa loucura...em que dia ceguei para
a razão...e matei o eu que nascia para a porta aberta do mundo...
Em qual sentimento selei os meus puros deleites de juventude...
e amordaçei em anos de renúncia...a troco de que ilusão
gastei tantos dias...bebendo das agonias que
só o engasgo da negação pode enfiar goela abaixo...
Onde o sol se deita para descansar dos atropelos ...
não há zelos...só uma maldade confusa...
uma verdade única...que passeia entre os rostos entristecidos...
Não há cânticos dentro das quatro paredes...um cochicho sem pressa
rola nos lábios gelados...
Todo o tempo se gastou entre uma amargura e um fracasso...
e não sobrou emoção para plantar sonhos...morreu a elegância
dos passos...em meio aos cansaços...e aos poídos abraços...
Quando já não há mais estradas a se olhar pela janela...e o horizonte ficou frio de janeiro a janeiro...pouco ficou do que foi dito entre uma noite e outra...
O que fazer com o que sobrou...onde esconder a lágrima que restou...
onde guardar a desventura...onde fincar os pés...
A interrogação de todos os dias...é o juízo perfeito...mas o siso quase não parece mais natural...pois entre a taça de fel e o pote de mel
um abismo cruel se abriu...sustentado pela rotina da estupidez...
E quem pensa saber o que é o tempo...dentro desse complexo ensaio de
fantoches...se engana...ele não existe...ele parece eterno...sem começo nem fim...