Há um tempo

Há um tempo em que guardamos dentro de nós, um tempo

que nos resguardamos pra nos repensarmos. Tempo em

que as

esperas ficam longas, difíceis, tempo de recusas, de recolhimento, tempo para nós mesmos, tempo...em que nos perdemos de nós...não nos achamos em lugar algum.

Há um tempo em que nada mais atrai, onde tudo parece tão igual, tão sem graça...tão sem sentido...tempo de desistir de tudo, meter as mãos no bolso e dar as costas ao mundo...

Olho ao meu redor e nada parece interessante, não me acodem imagens ou pensamentos que dêem alento ao espírito, parece que tudo perdeu a cor...perdeu o sentido. As palavras ficaram gastas, as poesias sem sabor, sem rima e sem delicadeza...Os meus olhos perderam o brilho, procuro o fio da navalha que me ofuscavam do espelho...nada...parecem cegos e sem direção...

Não vejo chãos a percorrer...caminhos interrompidos, e ruídos de brechas se abrindo, o céu que me cobre se repete sem golpes de imaginação, sem mistérios...é o mesmo, já gasto e sem magia.

É o tempo, que se consumiu...perdeu a tolerância, e se repete, sem graça ...como se morresse dentro de cada palavra. Como uma pedra fria, uma equação complexa...um dia cinza, uma melodia sem harmonia...correm os ponteiros; nesse tempo sem escolhas, onde só o vazio cresce...

Há um tempo da nossa gestação de sentidos, de sentimentos encubados...que esperamos renascer...antes de morrer...um tempo de sair chutando latas...batendo portas...ou simplesmente querendo apagar tudo...

Há um tempo que tudo incomoda...os velhos versos precisam morrer, e não os deixamos...há um tempo de varrer tudo, limpar as gavetas...zerar as falas, as poesias, zerar a vida...

Me apanha enquanto é tempo...pois o tempo me engole...

ardo em labaredas...

cinzas... e nem isso talvez sobre...quando esse tempo findar...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 10/06/2005
Código do texto: T23623
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