Enquanto

Quantos bons dias nascidos de noites sonolentas ou de insônias turbulentas rascunhei nessa tela gelada, e quantos braços prontos de promessas rodearam minhas palavras? É quase sem sentido a expressão que se diz desse amor acometido e urgente que nos abraça quase instantaneamente; por que a ternura muitas vezes não dura mais que uma estação.

Muitas emoções brotaram de palavras potencialmente presentes, não obstante a distância e o opaco dos olhares nunca vistos de frente, não menos intensos, menos ainda impotentes, jamais inocentes e embora algumas tantas vezes puramente ilógicos ou mentirosos.

O que não se pode afirmar é que não haja uma ligação muito além de palavras, já que nas linhas escorridas, formam-se sentidos, esculpem-se emoções dentro das expectativas, e se pela enormidade de direções que leva a imaginação, se pode ler a essência límpida e clara, de nós, destacando-se dentro de um perigoso quebra-cabeça de múltiplas cores, é quase impossível afirmar que só se assiste aí um jogo lúdico.

Quantas vezes os dedos queimam, as palavras atropelam a razão, ferem a ética e se espalham bêbadas de angústias ou encharcadas de amor puro.

Quem apostaria com certeza qual a pulsação do autor enquanto cria, se viaja dentro das suas entranhas ou se cria um artifício e se embrenha na imaginação? Fatalmente a imagem na retina enquanto os olhos lambem as palavras é de pura dedução; um mundo incontido de sensações que se quer sentir, arrepios que comungam com os mesmos detalhes ou enveredam sem juízo pelas linhas adentro, movendo em todas as direções, desejos tantos.

E enquanto a fertilidade dos sentidos moverem a curiosidade, e enquanto de sonhos cada um de nós se vestir diariamente, sobreviverão as palavras rasgadas em ou debochadas, para que sirvam tanto de remédio ou anestésico aos olhos sedentos e mentes perscrutadoras.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 11/06/2005
Código do texto: T23902
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