Lou Salomé
(Uma mulher a frente de todos os tempos)

      Nunca ouvi falar de uma mulher assim – nem antes nem depois dela. Lou Salomé é para mim e para muitas outras mulheres um símbolo.É única. Singular. Relacionou-se com os maiores gênios de seu tempo (Rilke, Nietzche, Paul Rée, Tausk, Wagner e até Freud.) e não foi dominada por nenhum deles. Pelo contrário, ela os subjugou a todos de uma forma ou de outra, não porque desejasse isso, certamente não. Ela os subjugou pela sua inteligência brilhante, seu talento, sua alegria de viver e paixão pela vida. Ultrapassou todos os limites – foi além de todas as convenções tanto no que se refere ao pensamento quanto à própria vida. Teoria e Prática. Viveu e fez viver.

Ter uma identidade própria e ao mesmo tempo ser capaz de viver em profundidade com aquele ou aquela a quem se ama. Amar e ser amado profundamente, mas sem deixar de ser o que se é. Talvez essa seja uma das maiores aspirações do ser humano no mundo moderno. Pois ela conseguiu. Talvez a ela possa ser aplicado de forma real o mote do poetinha Vinicius sobre o amor: que seja eterno enquanto dure.

Não é difícil compreender porque muitos se sentiram atraídos por ela. Basta ler alguns trechos que escreveu e que se encontram disponíveis na Internet. Nesses trechos ela mostra a sua paixão pela vida, a coragem para enfrentá-la, roubando-a, desafiando-a, vivendo-a sem medo. E era isso o que de melhor ela tinha para dar as pessoas que a cercavam: a paixão pela vida.

Viveu até aos setenta e seis anos de forma completa  e apaixonada – buscou até os últimos momentos a alegria de viver independente dos percalços que acompanham qualquer vida, principalmente as mais longas.
 
Sua paixão pela vida era contagiante e graças a ela transformava as pessoas que a cercavam fazendo com que conseguissem dar o melhor de si – embora nem sempre esse melhor de si as fizessem mais felizes. É que Lou conseguia fazer com que as pessoas acreditassem nelas próprias e com isso desenvolviam até o ápice o seu trabalho, o seu talento. Mas Lou não fazia concessões ao amor romântico – acreditava que não se devia de maneira nenhuma subjugar-se ou adaptar-se ao ser amado e sim manter se fiel a si mesma. Só quem se mantivesse fiel ao que era podia ser objeto de amor, ou seja, ser amada. Talvez por isso ela não tenha conseguido manter até o fim nenhuma relação estável já que os homens de sua vida tentavam se adaptar a vida dela, deixando de ser quem eram para agradá-la. Logo, deixavam de ser objeto do amor dela, que não se sujeitava a nenhuma regra.

Não foi muito compreendida pela sociedade em que viveu já que era considerada uma mulher sempre a sombra de famosos. No entanto, aos poucos, através do estudo de sua correspondência e ainda, da obra de seus amigos,  o mundo intelectual foi compreendendo o verdadeiro tamanho da influência de Lou sobre esses homens e suas obras. Se ela não tivesse existido talvez eles tivessem sido intelectuais menores. As análises atuais dão conta de que ela foi uma mulher muito a frente de seu tempo. Uma pioneira. Sua obra, vasta, é pouco conhecida porque pouco divulgada. Mas a influencia que exerceu no desenvolvimento de várias teorias filosóficas e inclusive da própria psicanálise foi reconhecida por seus próprios autores e confirmada posteriormente por biógrafos e historiadores.
 
Foi uma mulher muito a frente de seu tempo e desconfio que seu tempo ainda não chegou completamente. Apesar de ter copiado o modo de viver masculino era uma mulher essencialmente feminina. Um raio de sol, como disse um dia Freud. Muitos dos poemas de Rilke foram a ela dedicados, como este:

Tu eras para mim a mais maternal das mulheres,
Eras um amigo como são os homens,
Ao olhar, eras uma mulher
E eras no mais das vezes ainda uma criança.
Eras a coisa mais dura com a qual lutei.
Eras o cimo que me tinha abençoado-
E te tornaste o abismo que me devorou

Eo que mais posso dizer? Que vale a pena conhecer não só sua obra como o que pensam dela os homens que a amaram e os historiadores da literatura.