O PODER ABSOLUTO: Cap. 7 - Paixão em Samoel

Intrigante é a paixão de Samoel pelos animais. Muito além de sua habilidade nos negócios, revela-se em Samoel um fascínio desmedido por cães e cavalos. Quando Samoel não está envolvido nos seus negócios, ele mergulha num mundo à parte da racionalidade humana. Dedica especial afinidade ao adestramento de cães e cavalos. Esse é um exercício que lhe completa a alma de felicidade, pois é um momento sublime em sua vida interior. Sua dedicação à criação de cavalos de linhagens selecionadas, lhe serve de observação da reprodução da vida através da continuidade genética. Mas é especialmente na educação de seus cães que Samoel se realiza. Samoel treina seus animais pelo mais puro prazer. Em seu centro de treinamento, produz tanto guardas leais, como guias econômicos e fiéis. Em sua estratégia de ensino, costuma adotar palavras e atitudes de carinho e amor incondicional aos seus animais, que lhe correspondem numa fidelidade que aos olhos dos seres humanos, torna-se algo como que incompreensível. Algo que foge à racionalidade primata do homem.

Afinal, como é possível uma lealdade tão irracional à comandos tão simétricamente racionais?

Para Samoel, não se trata de uma atividade comercial, apesar de que também daí obtenha lucros financeiros. Aliás, parece que a Samoel, tudo se reverte em "lucros" e tudo envolve e fascina aos que o partilham com cuidado. O firme olhar que dedica às pessoas, as formas com que se relaciona com todos, sejam os amigos ou seus parceiros de negócios, enfim, com tudo e todos que o cercam. Parece haver uma energia oculta a protegê-lo das intempéries e incompreensões. Algo maior que um carisma pessoal.

Em toda a sua vida Samoel se dedicou a convivência com os animais, e seus filhos cresceram observando suas atividades. Ao que parece, muito do que são parece advir dessas observações que acostumaram a testemunhar desde pequenos, enquanto suas personalidades se formavam. Viram Samoel exercitando a paciência, a técnica e a coragem, o carinho e o amor por seres que não compreendem outra linguagem que não a da atenção. O que parece é que as pessoas que têm o privilégio de conviver com Samoel, lhes foi concedido um mistério que as envolve e as seduz. Uma espécie de sonho que dá cor à vida e a existência.

E é como uma tatuagem que seu filho Juca traz impressa através dos seus olhos. Ele lembra o dia em que ganhou seu primeiro cãozinho. Era um filhote da raça Fila. Lembra, a reação de sua mãe Beatriz censurando o pai por presentear o filho com um animal que, para ela, poderia ser uma ameaça a integridade do filho. Afinal, cães Fila são animais, que apesar de extremamente carinhosos quando filhotes, quando crescem tornam-se animais enormes, ferozes e perigosos. Mas Juca havia ficado muito feliz e seu pai havia dito que se ele fosse sempre firme e corajoso, nunca deixando de dispensar atitudes de carinho e amor, o cão aprenderia a respeitar sua autoridade com segurança e lealdade. Uma vez que adestrados, tornam-se animais fascinantes, que além de protegerem seus donos em qualquer circunstância, servem de verdadeiros amuletos representativos do poder da razão sobre a emoção, não só pelo tamanho e imponência com que se portam, mas principalmente pela autoridade que o amor e a coragem conferem.

Na verdade, o ato de obter obediência e lealdade de animais tão temidos pelos leigos, e ao se utilizar apenas de amor e atenção, carinho, expressões e pouquíssima linguagem, é um exemplo prático que Samoel proporcionou na formação de seus filhos, de um poder que, apesar de oculto, é também transparente aos olhos dos iniciados, dos esclarecidos. Esses ensinamentos silenciosos, absorvidos através da simples observação e repetição, deram a Juca e Lila uma confiança serena de que com paciência e determinação é possível dominar e vencer qualquer incompreensão. Qualquer irracionalidade.