Outonos

Quantos outonos guardo nesse corpo algemado

ao tempo...corpo que se perde nos desvelos

da mente quase inconsciente...trago cá

outonos ainda floridos...na boca... o gosto fresco

das frutas da estação...o sabor de fruta

mordida na língua...

Ah que ingrato o tempo das ampulhetas que

escorre imprudente...não vê que na minha pele

alva ainda flutua o cheiro de pétalas

das rosas rubras?

Não sentiu nos meus lábios o gosto de mel

ainda quente...que lambido ainda se

faz afrodisíaco...

Embalo outonos arrepiados na pele nua...

uivando ainda pra lua...nas noites de

espasmos...tragando meus engasgos...

como se fosse tua...anjo rebelde da rua...

musa incontesti dos devaneios...

a que te acolhe nos seios túmidos...

Reclamo meus pleitos quando me

acolhes no peito...e acende em mim um braseiro...

não existem outonos em brasa...existe nessa

hora a minha essência privada dos sentidos...

que te envolve sem clemência...te arrasta e

eclode em múltiplas súplicas e gemidos...

Ah! ingrato outono que fazes parecer cinza

o que ainda brilha e reluz...

o beijo que ainda seduz...

os jardins do Edem que produzem aromas a

perfumar os altares...hibiscos róseos

mal colhidos...ainda depositados

maldosamente na soleira dos dias...

Deixa gotejar essa saudade dolente...

que clama insistente...não ceife a erva madura...

que ainda perdura entre os

olhos encantados e a noite escura, insegura...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 25/06/2005
Código do texto: T27812
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