Outonos
Quantos outonos guardo nesse corpo algemado
ao tempo...corpo que se perde nos desvelos
da mente quase inconsciente...trago cá
outonos ainda floridos...na boca... o gosto fresco
das frutas da estação...o sabor de fruta
mordida na língua...
Ah que ingrato o tempo das ampulhetas que
escorre imprudente...não vê que na minha pele
alva ainda flutua o cheiro de pétalas
das rosas rubras?
Não sentiu nos meus lábios o gosto de mel
ainda quente...que lambido ainda se
faz afrodisíaco...
Embalo outonos arrepiados na pele nua...
uivando ainda pra lua...nas noites de
espasmos...tragando meus engasgos...
como se fosse tua...anjo rebelde da rua...
musa incontesti dos devaneios...
a que te acolhe nos seios túmidos...
Reclamo meus pleitos quando me
acolhes no peito...e acende em mim um braseiro...
não existem outonos em brasa...existe nessa
hora a minha essência privada dos sentidos...
que te envolve sem clemência...te arrasta e
eclode em múltiplas súplicas e gemidos...
Ah! ingrato outono que fazes parecer cinza
o que ainda brilha e reluz...
o beijo que ainda seduz...
os jardins do Edem que produzem aromas a
perfumar os altares...hibiscos róseos
mal colhidos...ainda depositados
maldosamente na soleira dos dias...
Deixa gotejar essa saudade dolente...
que clama insistente...não ceife a erva madura...
que ainda perdura entre os
olhos encantados e a noite escura, insegura...