ORDEM DO DIA
O chão perdera o sentido
E as dores, agora, surgiam em demasia
No peito um sopro
No estômago uma azia
Os joelhos se estralavam
E os calcanhares doíam
De um pé a outro, a distância não se interrompia
Um ciclo de náusea surtia dia-a-dia
O sonho já não era mais interrompido pelo canto do galo ou do arranhado das gelosias
Um pé na noite, outro no dia, esperava o expresso
às margens da rodovia
O ciclo fizera a ordem do dia
Um pé a outro
Saia
Chegava
Abria
Fechava
Chegava
Fechava...
dormia.
Um metrônomo dava aos passos a medida do tempo, que sucedia na normalização do século, e assim, mantinha-se na engrenagem: sujeição e alienação.
Consumia frito
Bebia gelado
Torcia esporte
Vibrava novela
O homem revestido num estado catatónico, se pressiona por suas próprias convenções.
O homem dificilmente se vê em frente ao espelho sem algum receio. Já padronizado, não pode avaliar sua condição.
Se distorce, então, numa maneira de fugir do enfrentamento
Divãs, salões de beleza, bares e igrejas (entre outros meios afins), em essência, possuem as mesmas características que, por ironia, concorressem na busca por adeptos.
Homem-objeto-de-sua-própria-convenção.
GN - 28/12/06