ORDEM DO DIA

O chão perdera o sentido

E as dores, agora, surgiam em demasia

No peito um sopro

No estômago uma azia

Os joelhos se estralavam

E os calcanhares doíam

De um pé a outro, a distância não se interrompia

Um ciclo de náusea surtia dia-a-dia

O sonho já não era mais interrompido pelo canto do galo ou do arranhado das gelosias

Um pé na noite, outro no dia, esperava o expresso

às margens da rodovia

O ciclo fizera a ordem do dia

Um pé a outro

Saia

Chegava

Abria

Fechava

Chegava

Fechava...

dormia.

Um metrônomo dava aos passos a medida do tempo, que sucedia na normalização do século, e assim, mantinha-se na engrenagem: sujeição e alienação.

Consumia frito

Bebia gelado

Torcia esporte

Vibrava novela

O homem revestido num estado catatónico, se pressiona por suas próprias convenções.

O homem dificilmente se vê em frente ao espelho sem algum receio. Já padronizado, não pode avaliar sua condição.

Se distorce, então, numa maneira de fugir do enfrentamento

Divãs, salões de beleza, bares e igrejas (entre outros meios afins), em essência, possuem as mesmas características que, por ironia, concorressem na busca por adeptos.

Homem-objeto-de-sua-própria-convenção.

GN - 28/12/06

Gustavo Naufal
Enviado por Gustavo Naufal em 03/01/2007
Reeditado em 16/04/2009
Código do texto: T335070
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