1950 e os novos escritores brasileiros

"Um pequeno panorama sobre um passado rico das letras brasileiras ante a escassez atual de novos nomes da literatura"

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Por onde anda a nova geração de escritores brasileiros? Ainda estão por nascer? Decerto que não. O mais provável é que estejam escondidos em suas casas, onde mantém a salvo da curiosidade alheia seus escritos, suas obras primas, os futuros “Nobéis” de Literatura.

A pergunta se faz necessária em uma época de escassez de grandes representantes das letras brasileiras. Muitos considerarão temerária essa observação, e com justa razão. Quem duvidará da grandeza de um Ferreira Gullar, Rubem Fonseca, Dalton Trevisan ou Manoel de Barros? Esses todos, porém, já passaram dos setenta anos. Destarte, mais uma vez, insiste-se na indagação: onde está a nova geração, a qual terá a árdua missão de substituir os cânones?

Vá ao ano de 1950. O poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade já é um escritor consagrado. O seu conterrâneo, João Guimarães Rosa já publicara “Sagarana”, amostra da obra maior que viria a produzir, “Grande Sertão: veredas”. Neste mesmo ano, Graciliano Ramos traduziu para o português o romance “A Peste”, de Albert Camus. Por sua vez, o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto publica “O cão sem plumas”. O baiano Jorge Amado até então já editara clássicos como “Terras do Sem Fim” e “Capitães da Areia”. Na seara das crônicas, o seu representante maior, Rubem Braga, destila sua melancolia para leitores privilegiados do “Correio da Manhã”. Nos braços da música e no seio da poesia, Vinicius de Moraes a todos fascina. O poeta Manuel Bandeira já escrevera obras do quilate de “Estrela da Manhã” e “Libertinagem”. Das terras do sul, Érico Veríssimo conquistara seu lugar definitivo na literatura brasileira com “Olhai os lírios do campo”, e já produzira a primeira parte de “O tempo e o vento”. Entre as mulheres, Clarice Lispector e Cecília Meireles compõem o que de melhor foi produzido na literatura feminina brasileira dentro do universo da prosa e da poesia, respectivamente. E tantos outros que não foram mencionados... mas como deixar de citar Oswald de Andrade, Mário Quintana, Fernando Sabino, Nelson Rodrigues, Hélio Pellegrino, Rachel de Queiroz, Paulo Mendes Campos e tantos outros que a memória agora afugenta? E todos ali, vivos e atuantes, numa manhã qualquer deste fabuloso ano de 1950.

Sim, os nossos grandes escritores estão por aí. Talvez diluídos pelos blogs e sites literários, não sei. Ou ainda estão por nascer. Mas dificilmente o futuro repetirá um ano onde tantos mestres, cada qual com sua genialidade particular de criação, se encontrem simultaneamente. Com pesar, arrisco a dizer que jamais o Brasil testemunhará dias tão ricos como aqueles que ficaram sepultados no ano de 1950.

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Goiânia, 17 jan 2007

Glauber Ramos
Enviado por Glauber Ramos em 17/01/2007
Reeditado em 17/01/2007
Código do texto: T350312