Delírios Tipicamente Norte-Americanos II

HOMENAGEM AOS NOSSOS SERIAL-KILLERS PREDILETOS

Chlorine Clemens, o crioulo branquela de nossos contos de fadas, está desiludido com seu comparsa Crimson Joe, que na indústria recebeu a alcunha de Omoplata Beligerante Americana. Sai tomando um milk-shake do McDonalds, que acabou de ser adquirido por um bando de empresários nipônicos e reformulado por decoradores gays que vieram de Frisco, deixando quase tudo do jeito que estava, inclusive o avião. Recebem cerca de meio milhão de dólares pelo serviço, saindo sorridentes, contando as notas. Oferecem uma carona a Clemens, que pergunta:

“E para onde estão indo, meninas?”

“Vamos para Seattle, comemorar com a família Hendrix.”

No caminho encontram o coronel Olive, que foi abandonado por Dean, o rebelde sem calça. Está amargurado, e chora lágrimas de fluído seminal.

“Ah, Dean, Dean! Como pôde me abandonar?”

Os decoradores resolvem parar, recolhendo o pobre coronel desprezado.

“Ei, militar! Para onde está indo?”

“Acho que vou voltar para o Pentágono, enfiar a cara no trabalho. Preciso espairecer. Talvez peça transferência para alguma base no Iraque.”

As bichas morrem de pena. Clemens joga os cadáveres no acostamento da rodovia, assumindo o comando da limousine. O coronel Olive conta suas desventuras amorosas pelo caminho, enfadando Clemens até a Capital do Rock’n’roll.

“Obrigado, rapaz. Apesar dessa sua cor horrível, gostei muito de sua companhia. Quando for a Washington, não esqueça de me telefonar.”

“Sim, coronel. Agora com licença, que preciso tomar alguma coisa.”

Clemens vai até o Café Hard Shock e pede whiskey de banana ao barman.

“Não servimos negros aqui, forasteiro. Não leu a placa? ‘Proibida a entrada de prostitutas, cães, muçulmanos e niggers, ainda que albinos.’ Portanto dê o fora.”

O nigeriano amaldiçoa o barman e vai para o Café Hollyfood. Na entrada, um sósia de Marlon Brando faz exibições de motocicleta, empinando e girando e fazendo roncar o motor. Clemens odeia o barulho. Chama o rapaz, fazendo sinais com a mão.

“Ei, Brando, venha cá. Quer ganhar dez dólares?”

“Quem eu tenho de matar?”

“Ninguém. É só parar com a demonstração.”

O rapaz aceita, e Clemens entra no café. Vai até o balcão e pede um whiskey de banana. O barman não é outro senão o próprio Eddie Gein, que arrumou aquele trabalho depois de uma longa temporada em Alcatraz.

“Eddie! Como tem passado?”

“Você sabe, um crime aqui, outro ali... Desculpe-me, Clemens, mas de banana não temos, estamos sem. Serve de amendoim?”

“Pode ser. Mas diga-me, Eddie... Tem visto o Joe?”

“Aquele safado? Da última vez que o vi, estava traficando bebês recheados de heroína em Chicago. Os federais o pegaram no aeroporto, mas ele escapou disfarçado em lata de lixo, passando três semanas escondido nos esgotos. O sujeito é bom.”

“Sim, Eddie. Joe sabe como se cuidar.”

“E você, meu chapa? O que tem feito?”

“Sobrevivi a um desastre de avião em Nova York, mas agora estou sem trabalho. Joe me abandonou, Eddie. Estou sozinho no mundo. Felizmente consegui uma grana alta, meio milhão de verdinhas. Estou pensado em ir para Las Vegas.”

“Vai tentar a sorte na roleta?”

“É isso mesmo. Gostaria de me acompanhar?”

“Claro! Espere, vou conversar com o Sylvester.”

Eddie pede demissão e partem para a Capital dos Jogos de Azar. No Pokerman, Clemens aposta alto e perde todo o dinheiro das bichas, ficando sem um tostão. O crupiê arranca a máscara, revelando ser Crimson Joe.

“Joe! Como estou feliz!”

“Pare de me beijar, Clemens. As pessoas estão olhando.”

“Mas Joe, como posso controlar a emoção?”

“Guarde-a para o próximo trabalho. Tenho um plano para entrarmos em Forte Knox. É barbada. Eddie pode vir também, se quiser.”

“Estou nessa.”

Eles partem na limousine, deixando para trás uma dívida que envergonharia Al Capone. No caminho dão carona a um desconhecido, que ajeita-se no banco de trás com o perigoso Eddie. Clemens e Joe escutam gritos horríveis vindos de lá.

“Será que Eddie está se divertindo com o cara, Joe?”

“Mas é claro, Clemens. Eddie não perderia a chance.”

Quando escurece, param num motel de beira de estrada, dirigido por um tal de Norman Bates. Norman é taxidermista, e foi ele quem empalhou o Tio Sam. Acontece que Eddie está morto, pois o desconhecido era ninguém menos que Jeff Dahmer, o famoso Canibal Cozinheiro de Milwalkee.

“Jeff! Há quanto tempo!”

“Clemens, Joe... Perdoem-me pelo seu amigo, mas ele tinha umas idéias muito antiquadas sobre o assassinato. Quis ensinar-lhe alguns truques novos.”

“Eddie não se importa. Não é mesmo, Eddie?”

Mas Eddie não responde. Está sem cabeça, o pênis arrolhando a traquéia.

“Vamos colocá-lo no freezer. Creio que o proprietário do motel não se importará. O que acha, Clemens?”

“Acho que é uma ótima idéia, Joe. Como todas as outras que você tem.”

“Como pude ficar sem você? Ande, me dê cá um abraço.”

Os amigos se abraçam. Jeff Dahmer não pode conter as lágrimas.

“É lindo ver um par de criminosos psicopatas tão absolutamente íntimos...”

Norman os recebe na portaria do motel. Tem sangue nas mãos, que limpa em uma toalha suja, bordada com iniciais douradas A. H.

“Cara, este lugar me dá calafrios. Quanto será a diária?”

“Não sei, Jeff, mas não se preocupe com isso. Matamos o sujeito se for muito.”

“Adorarei fazer isso, Joe.”

Alugam um quarto com vista para a tenebrosa mansão no alto da colina. Adormecem, mas uma velha entra com uma faca no quarto, degolando Jeff Dahmer com ela. Joe e Clemens dão no pé, enquanto a velha, que na verdade é apenas Norman trajando uma peruca e as roupas de sua mãe mumificada, os persegue.

“Voltem, garotos! Mamãe quer ver qual a cor de suas vísceras!”

Partem disparados na limousine, dirigindo-se para o Forte Knox. Pretendem roubar algumas barras de ouro, pois Joe precisa de grana para seu próximo grande golpe.

COMENTÁRIOS NECESSÁRIOS OU DESNECESSÁRIOS #2

MERGULHO NA DECADÊNCIA E MORTE DE UM SER FICTÍCIO

A triste história de Frank, o personagem de quadrinhos que era comum demais

Frank era filho bastardo, fruto de um relacionamento ilícito entre as teclas de uma máquina de escrever Burroughs e um par de mãos cabeludas e ágeis de desenhista. Frank era um personagem de quadrinhos muito conhecido nos idos da década de 1920. Mas os anos passaram e o pobre Frank caiu no ostracismo, enquanto outros personagens ganhavam notoriedade e seguiam em frente. O problema de Frank era não ter super poderes, não ser imoral e não apresentar nenhuma outra característica que não enfadasse o leitor. Frank era apenas um esquilo comum, vivendo num parque comum entre pombos comuns, sendo alimentado com nozes e amendoins comuns por pessoas comuns, como acontece com os esquilos nos parques americanos. Mas Frank vivia em outro mundo, um mundo particular e instigador, que fazia os leitores de quadrinhos da época saírem de seus problemas habituais e viajarem nas aventuras que vivia. Porém, as aventuras de Frank caíram no marasmo dos limites do seu mundo, e um grupo de empresários desalmados da editora que publicava Frank resolveu que o personagem devia sair de circulação na década seguinte, pois afinal de contas os leitores de Frank deixavam de ler suas histórias e as vendas de suas revistas caíam vertiginosamente. E Frank juntou-se à multidão de personagens ignorados pelo público no cemitério das celebridades rejeitadas, e hoje seu túmulo é visitado anualmente por milhares de donas de casa, que se equivocam pensando que o túmulo de Frank na realidade guarda os restos mortais de Lucille Ball, a conhecida estrela do antigo seriado de TV.

Damnus Vobiscum
Enviado por Damnus Vobiscum em 20/05/2012
Reeditado em 23/05/2012
Código do texto: T3677446
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