Delírios Tipicamente Norte-Americanos VII

SANGRENTO RITUAL NO SUBSOLO DO CENTRAL PARK

Já era quase seis horas quando encontraram o Coronel Olive. Lia calmamente seu exemplar do The New York Times, sentado num dos inúmeros bancos do parque.

“Raios me partam, coronel! Devíamos ter especificado um lugar!”

“A culpa foi sua, Joe. Estava muito afobado ao telefone.”

“Tudo bem. Vamos conversar.”

Sentaram todos. Mas Joe disse aos rapazes que se afastassem, pois não queria despertar suspeitas, chamando a atenção de possíveis espiões que rondassem por ali.

“Mas, Joe, o que faremos enquanto vocês conversam?”

“Não sei, Clemens. Arrumem alguma coisa.”

Clemens pegou o Tio Sam por baixo das axilas, e com o auxílio de Kepler levaram-no para ver os esquilos escalarem as árvores do parque. O crepúsculo começava a agir, inundando tudo com seu manto de sombras.

“Então, Joe, qual o assunto?”

“Olhe, não vá pensar que estou louco, apesar de eu mesmo duvidar um pouco do que aconteceu. Mas é a mais pura verdade. Répteis bípedes estão escondidos em cavernas subterrâneas da Costa Oeste, fazendo experiências com pessoas, experiências terríveis. Nós quase fomos trucidados por eles; mas escapamos, graças ao Kep. Dizem ser os Anunnaki, e me informaram que já controlam o mundo todo.”

O coronel riu.

“Não creio que já controlem tudo. Talvez cinco ou seis grandes grupos financeiros espalhados pelo planeta, mas o resto ainda está em nossas mãos.”

“Quer dizer que já sabe da existência daquelas coisas?”

“Claro, Joe! Com o que acha que estamos preocupados no momento? A Inglaterra está em poder deles, e desconfiamos que o próprio presidente americano seja um dos mais altos escalões reptilianos. Aquela velha horrível, a rainha, é a mãe, a Matriarca Escamosa! El Lizard Birth... pegou?”

“Céus! De modos que estamos cercados, não temos para onde correr?”

“Exatamente. E não é só isso. Através da quarta dimensão, eles controlam até o desenvolvimento racional dos seres humanos. A mídia é uma arma, a religião outra, e na política a maioria é réptil, o que atrasa ainda mais o desenvolvimento humano. As agências de segurança estão corrompidas. O Exército, a Marinha e a Aeronáutica. Alguns são fantoches, psiquicamente controlados através da quarta dimensão. Por isso, acho que é bobagem toda e qualquer segurança. Neste exato momento, estamos sendo monitorados por eles. Sim, meu amigo, toda paranóia é pouca quando se trata dos reptilianos.”

“Mas quem está na resistência, coronel?”

“Alguns remanescentes não controlados do Governo, Exército e Aeronáutica. A Marinha já é toda deles. E há também civis esclarecidos, que ajudam como podem. Mas é bom pararmos de conversar sobre isso. Aí vem nossa amiga, a Águia Americana.”

O pássaro pousou no encosto do banco.

“Desculpe o atraso, mas peguei uma corrente contrária em Albuquerque.”

“Não se preocupe, querida. Joe, agarre-a. Vamos precisar de um cordeiro.”

Joe saltou sobre a ave, que defendeu-se bravamente, dando bicadas em sua cabeça e abrindo talhos no couro cabeludo. Mas conseguiu prender seu pescoço.

“O que significa isso? Que vão fazer?”

“Não é nada pessoal. Apenas precisamos de seu sangue. Joe, vamos descer.”

Apertando um dos parafusos do banco, a base de concreto onde os pés se assentavam começou a baixar.

“Para onde diabos estamos indo?”

“Há uma capela profana sob este parque. Foi justamente por isso que o escolhi para nosso encontro. Foi construída pela Maçonaria no final do Séc.XVIII.”

“E o que vamos fazer lá embaixo?”

“Um ritual de iniciação. Você será incluído em nossa irmandade, os Knights of the Lost Wisdom. É só burocracia, você entende...”

Chegaram a uma espécie de salão. Grandes pentagramas vermelhos decoravam as paredes, e ao fundo havia um altar com a imagem de um ser com cabeça de bode.

“Nossa ordem permaneceu secreta desde o fim das Cruzadas. Temos aqui a Arca da Aliança, a Máquina do Maná, o Cálice Sagrado e também a carruagem de fogo que levou Enoque e Elias para a quarta dimensão, além de outros apetrechos que conseguimos arrebatar lá em Jerusalém. A Igreja Católica nos perseguiu nos últimos quinze séculos, mas nossos mentores espirituais, os profetas exilados do Limbo, sempre nos avisaram antecipadamente dos planos da Grande Meretriz. O Limbo é a quarta dimensão, também conhecida como Purgatório. Os cristãos pensam que se trata de um local para onde a alma vai pagar por seus pecados, mas na verdade é uma prisão para os que sabem demais. Lá estão Maomé, Buda, Krishna, Zoroastro e uma série de outros avatares, incluindo Cristo. É um lugarzinho frio e desagradável, cheio de encruzilhadas no tempo, e dali podem ser enviadas mensagens relativas ao passado, ao presente e ao futuro. As mensagens são captadas pela Arca, que funciona como um receptor. Nós a mantemos ali, debaixo do altar. Venha comigo, vou mostrá-la.”

Caminharam até o altar. O coronel ergueu o linho que recobria o altar, revelando uma caixa dourada, onde dois serafins distendiam suas asas sobre a tampa.

“Não é uma beleza?”

“E como funciona?”

“A sangue. Um sangue de grande significação. Como o sangue de nossa amiga, a Águia Americana.”

“Então vamos ter de matá-la?”

“Sim, é preciso. Os astecas tinham aparelhos semelhantes a este, deixados pelos cientistas Anunnaki antes de sua partida para o Cosmo. Acha que faziam todos aqueles sacrifícios humanos à toa? Não, eles entravam em contato com seus ancestrais, exilados na quarta dimensão. Os ancestrais formulavam oráculos confusos, que precisavam ser decodificados. Mas nós estamos mais avançados agora. Não precisamos saber do futuro, apenas precisamos mudá-lo. E para fazer isso, agimos sobre o presente.”

“Mas se dispõem de tantas armas contra os reptilianos, qual a razão de estarem tão atrasados na luta? Pelo que pude ver, eles estão na liderança.”

“Não é tão simples. Todos os equipamentos que possuímos eles também têm, além de outros, mais modernos e efetivos. Possuem artefatos de controle mental, como antenas de telefonia disfarçadas em cada colina daqui até o Pólo Norte. As vimaanas, ou discos voadores, monitoram da atmosfera toda e qualquer rebelião antes que a mesma comece a ficar incontrolável. E os agentes negros das sombras, chamados de Los Voladores, os sombrios, observam do plano imaterial e informam, através de receptores similares à Arca, qualquer pensamento contrário que surja em uma mente humana.”

“Mas como?”

“Eles dispõem de vistos em seus passaportes espirituais que permitem sua infiltração na terceira dimensão, e arrancam informações dos cérebros assim como fazem as sanguessugas. Nós também os chamamos de Lichs devido a essa sua capacidade. Como pode ver, estamos em uma luta desigual. Nossos líderes estão até pensando em propor um acordo, pois não crêem que tenhamos alguma chance. Mas penso diferente. Não permitirei que os draconianos vençam e destruam o Ideal Americano. Tudo pelo que lutamos. Tantos mortos. Tantas vidas sacrificadas. Não. Nada há de mais sagrado. Lutaremos e venceremos!”

“É isso mesmo!”

“Então vamos começar. Pegue o cordeiro.”

“A águia?”

“O cordeiro! Aqui, refira-se a ela como cordeiro. Estamos em local santificado, as normas devem ser observadas. Não aja como um idiota, estragando tudo.”

“Tudo bem. Desculpe-me, coronel.”

“Primeiro, deixe-me pôr as luvas de amianto. A Arca é muito carregada. Um só toque e a carne carboniza, deixando apenas um montinho de cinzas.”

“Credo! É sério?”

“Sim. Preste atenção: prenda o cordeiro com aqueles cordões ali, e não deixe que escape. Depois, pegue o punhal de obsidiana, com o qual cortaremos sua garganta e arrancaremos seu coração. Faça tudo com reverência, e não diga nenhuma tolice. Estaremos em pleno ritual.”

“Sim, coronel.”

“E não me chame mais de coronel. A partir de agora, sou o Grão Mestre, e você será um candidato a neófito. Sua aprovação dependerá dos profetas degredados do Limbo. Portanto, porte-se com extremo respeito e consideração.”

“Sim, Grão Mestre.”

“Vista as luvas e ajude-me a arrastar a Arca para o centro do salão.”

Empurraram a caixa até um ponto rebaixado do piso, no interior de um grande círculo encoberto de signos indecifráveis, ali inscritos com ouro.

“Dentro deste círculo, os Lichs não têm qualquer influência. Pegue nessas argolas laterais, vamos abrir a Arca. Seja cauteloso, não olhe diretamente para seu interior. Os antigos hebreus diziam que a glória de Deus estava dentro da Arca, mas recolhemos uma amostra e descobrimos que é um elemento desconhecido, altamente radiativo. O brilho pode cegá-lo. No três: um, dois... três!”

Um fulgor sobrenatural inundou o aposento, e Joe sentiu um baque que quase o arremessou para trás. Algo praticamente sólido o atingira.

“Não se preocupe, isso é comum. Fazia anos que não abríamos a Arca, e uma quantidade enorme de informação estava retida dentro dela. Nada que já não soubéssemos, pois descobrimos outras maneiras de acessar o Limbo, menos perigosas. Mas nos rituais ela é imprescindível.”

“Não vou nem perguntar a razão, coro... digo, Grão Mestre.”

“Agora vamos para o altar. Precisamos celebrar a abertura do culto negro.”

Foram para o altar. O coronel encheu com vinho uma taça feia e disforme que estava ao alcance de sua mão. Bebeu solenemente, oferecendo-a a Joe.

“Beba do sangue de Tammuz, que profana o Santo Graal.”

Joe bebeu. O vinho era bom, apenas um pouquinho ácido. O coronel ergueu um pires de ouro que encobria uma pequena travessa do mesmo metal. Ali estavam algumas hóstias bolorentas. O coronel engoliu uma, e aproximou outra da boca de Joe.

“Coma da carne de Osíris, feito em pedaços por seu irmão Seth.”

Joe comeu. Tinha um sabor horrível, como requeijão esquecido fora da geladeira por incontáveis semanas.

“Agora entremos em comunhão com o Gehenna ancestral, o Hades sempiterno.”

Iniciou uma ladainha, da qual Joe não compreendeu nada. A certa altura, o brilho oriundo da Arca recrudesceu, tornando-se avermelhado, e um forte calor inundou a câmara. O coronel saiu de sua estática postura, dizendo:

“Pegue o cordeiro. A hora propícia se apresenta.”

A Águia Americana, presa e amordaçada, foi levada por Joe até o centro do salão, onde estava a Arca. O coronel deu ordens para que ele a suspendesse pelas garras sobre a caixa, mas o calor era insuportável, e Joe quase desmaiou.

“Parece com o próprio Inferno, Grão Mestre!”

“E é exatamente o que parece.”

Joe fez o possível para segurar a ave na posição enquanto o coronel pronunciava algumas fórmulas estranhas, em baixo tom de voz. Com a faca de pedra nas mãos, disse:

“Quando eu cortar o pescoço do cordeiro, deixe o sangue escorrer para dentro da Arca por uns dez segundos. O calor vai aumentar ainda mais, mas resista. Se falhar, um vórtice nos tragará para o Limbo, onde ficaremos presos por toda a Eternidade. Depois levante o cordeiro e gire seu corpo acima de sua cabeça em círculos, três ao todo. Se girar mais do que isso nós estaremos perdidos, pois perderemos o controle da situação. Ao completar os giros, lance o cordeiro em direção ao altar. Aí, tudo será mais fácil.”

O coronel passou a lâmina pela garganta do pássaro, que se debateu loucamente. Um fio de sangue escorreu da ferida, caindo dentro da Arca. Como o coronel dissera, o calor foi gradativamente aumentando. Joe calculou mais ou menos dez segundos e ergueu a ave no ar, girando-a sucessivamente três vezes e arremessando-a, logo em seguida, na direção do altar. O coronel bradou:

“Está consumado!”

Vestiram novamente as luvas. O calor havia acabado, bem como o brilho avermelhado. Uma luz verde e suave provinha da Arca. Fecharam-na, levando-a de volta para seu nicho debaixo do altar.

“Você foi aceito por eles, Joe. É um dos nossos agora. Só falta completar o ritual, arrancando o coração do cordeiro e comendo-o cru.”

“Vou ter de comer o coração do cordeiro?”

“Vai. É uma exigência burocrática do ritual. A burocracia é um inferno, eu sei, mas é a lei. Temos de seguir as formalidades.”

“Certo. Me dê a faca.”

Joe abriu o peito da Águia Americana, extraiu seu coração e o engoliu inteiro. Voltou-se para o coronel. Sangue escorria de seu queixo.

“Que fizemos? Destruímos um símbolo, o mais alto e nobre símbolo americano! Como pudemos cometer tal sacrilégio?”

O coronel sorriu tristemente.

“Joe, deixe-me dizer-lhe uma coisa. Ninguém amava mais este animal do que eu. Mas às vezes precisamos renunciar ao nosso amor por coisas ainda mais importantes. Foi o que fizemos hoje, aqui. E há ainda uma série de outros símbolos que precisaremos destruir, até que alcancemos nosso objetivo: a Liberdade. Liberdade para pensar o que quisermos, livres dos padrões impostos pela corja reptóide. Liberdade para agir de acordo com nossa própria vontade. Aí sim, seremos verdadeiros americanos. Por enquanto, não passamos de gado, esperando a hora em que seremos levados para o abatedouro. É contra isso que lutaremos, mesmo que seja destruindo nossos símbolos antigos. No futuro, a Águia Americana, que matamos aqui, renascerá como a Fênix. Pois é justamente o que ela representa e é.”

“A Fênix?”

“Sim, Joe. Seu corpo será cremado, e das cinzas surgirá um ovo. Desse ovo renascerá a esperança que inspirará o futuro povo americano rumo a seu grandioso destino. Mas chega de falar disso. Vamos para o meu hotel. Preciso te mostrar o baby-doll rendado que comprei em Miami, menino. É simplesmente di-vi-no!”

COMENTÁRIOS NECESSÁRIOS OU DESNECESSÁRIOS #7

ESCLARECIMENTO SOBRE OS RITUAIS E SEUS SIGNIFICADOS

Como o Cérebro Réptil funciona ritualisticamente, e as bases ocultas do maquinário

Estudiosos confirmaram que as emoções primárias do ser humano originam-se na região cerebral conhecida como Cérebro Réptil. Seria como o esqueleto do cérebro humano, a matriz de onde as células se dividiram para construir toda a sua complexidade atual, a base de todas as emoções secundárias emanadas das combinações dos fatores primários. O pensamento analítico, a matemática, a física, a química e uma série de outras potencialidades mentais surgiram de conjuntos, aglomerados de sensações primitivas, que agiram como um fermento para a ascensão de tais faculdades. Mas isso é apenas especulativo. Como queremos tratar de rituais e de suas ligações com o Cérebro Réptil, não precisaremos mergulhar tão profundamente na anatomia intrincada do cérebro humano atual. Voltemos ao passado, quando o esboço primitivo do Homem ainda nem usava as pernas direito. Naquele tempo, o medo, a raiva, o pudor, o desejo, nenhum desses sentimentos básicos estavam ainda definidos. Eram todo um emaranhado de sensações confusas, instintivas e desconexas dentro da cabeça de nosso ancestral. O que unificou esse conjunto caótico no que hoje chamamos Cérebro Réptil? Os Anunnaki, logicamente. Com suas experiências, lograram concentrar, isolando e dividindo em locais separados do cérebro cada uma das sensações primárias do velho Homem. Era essencial para eles essa divisão, pois daí viria uma capacidade maior de concentração, indispensável para o trabalho braçal. O caos de sensações transformou-se em um estado de semi-idiotia, que foi largamente aproveitada pelos draconianos. Mas houve as guerras, e logo em seguida o planeta Vênus, com seu cataclísmico movimento, mudou o clima do planeta. A Era do Gelo obrigou os Anunnaki a refugiarem-se nas entranhas da Terra (pois odeiam o frio), e os Lulu, que serviam para servir, ficaram sem ter a quem servir. Como se sentiram inúteis, então! E aquele frio! Tiveram de matar animais, como mamutes e outros, de pelugem bastante espessa, para vestirem suas peles. Tiveram de descobrir o fogo, e também como mantê-lo aceso. Onde estavam os reptilianos, que eram seus deuses? Era horrível terem de fazer tudo sozinhos! Os Anunnaki os alimentavam, cuidavam de sua saúde (pois doentes não poderiam trabalhar), aqueciam-nos e protegiam-nos dos animais ferozes. Para onde teriam ido? E uma parte do Cérebro Réptil vibrou dentro de suas cabeças: a responsável pelos rituais. O cérebro pseudo-analítico dos Lulu, ainda em formação, naquela situação extrema intuiu que precisariam se utilizar de algum expediente para que os deuses voltassem. E assim desenvolveram cultos e religiões primitivas, onde clamavam pela volta dos Anunnaki. Mas eles não voltavam. Gerações morriam, outras nasciam e eles não voltavam. Porém os Lulu não desistiram, e um dia foram recompensados. Os filhos de Árias desembarcaram! Aqueles não eram os seus deuses originais, pensaram os Lulu, mas talvez fossem até melhores. Os rituais tinham surtido efeito! Os Arianos eram belos, brancos como a neve que encobria os montes. Eram definitivamente deuses melhores, pois eram maravilhosos! E os cultos continuaram, pois era preciso agradecer. Depois que o clima se estabilizou, e Arianos e Lulu haviam se convertido em uma só raça, os aristocratas draconianos ressurgiram, tomando o lugar dos sacerdotes com o auxílio de sua metamorfose auto-induzida. E assim os rituais foram aproveitados para manter os seres humanos presos, sufocados em sua própria teia de mistificação.

Damnus Vobiscum
Enviado por Damnus Vobiscum em 22/05/2012
Reeditado em 23/05/2012
Código do texto: T3680977
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