Delírios Tipicamente Norte-Americanos VIII

UM NOVO ALIADO JUNTA-SE AO GRUPO DE COMBATENTES

“Onde estiveram? Procuramos pelo parque todo! Até mesmo o banco onde deixamos vocês havia desaparecido!”

“Estivemos tratando de uns assuntos importantes, Clemens. Mas agora podemos partir. Vamos voltar para Washington com o coronel.”

“Veja quem encontramos no oco de um carvalho, Joe! Lembra do Frank?”

“Não. Qual seria a razão especial para me recordar de um roedor?”

“Mas é o Frank, Joe! Frank, o Esquilo Genial! Aquele personagem de quadrinhos que nas histórias transferia suas aventuras de um parque comum para outros mundos, usando apenas a imaginação! Lembra agora? Líamos suas revistas quando éramos garotos, e adorávamos!”

“Este é aquele Frank? O Frank original?”

“Sim, Joe, não é o máximo? Frank, quero que conheça Crimson Joe, meu melhor amigo em todo Universo.”

“Olá, Joe. Quer dizer que lia minhas aventuras?”

“Bem, não consigo me lembrar direito, mas acho que sim...”

“As pessoas têm memória curta. Querem descobrir segredos enterrados no passado, mas muitas vezes não conseguem lembrar nem mesmo de suas infâncias.”

O Coronel Olive entrou na conversa:

“Tenho de concordar com o esquilo. Não consigo me lembrar do primeiro garoto pelo qual me apaixonei. Ele está lá, trancado na memória, mas não posso acessá-lo.”

“É que nós fomos programados para esquecer das coisas. Quando trabalhei em Yale, li num livro de psicologia que às vezes construímos paredes ao redor de acontecimentos passados, para que eles não atrapalhem nosso desenvolvimento pessoal.”

Todo mundo olhou para Kepler.

“É verdade! O livro ainda dizia que há muitas fases no desenvolvimento psíquico, e que a cada noite de sono muramos algumas ocorrências recentes e liberamos outras, que estavam presas há muito tempo. E que assim construímos lentamente uma personalidade. Talvez seja tudo conversa fiada, mas não deixa de fazer algum sentido.”

“Você quer dizer que há uma possibilidade de me recordar do rosto do garoto?”

“Segundo dizia o livro, há sim.”

O coronel abriu um largo sorriso, assumindo uma expressão sonhadora.

“Pessoal, chega de papo. Vamos todos para o hotel onde o coronel está hospedado. Precisamos dormir um pouco, pois amanhã será um dia cheio.”

“E Frank, Joe? Podemos ficar com ele?”

“Se ele quiser vir conosco, não vejo problema algum. Deve comer pouco.”

“Sim, come pouquíssimo! Não é, Frank?”

“Tenho o estômago de um esquilo comum.”

“Tudo certo, então. Clemens, não esqueça do Sam.”

“Ah, é claro! Venha, Sam. Deve estar com sono depois de tanta coisa.”

(Silêncio.)

Chegaram ao hotel, um luxuoso arranha-céu da Fifth Avenue. Na recepção, o coronel informou:

“Tenho mais gente comigo. Vão ficar em minha suíte. Providenciem alguns colchões, e também comida.”

“Isto é um pouco irregular, senhor.”

“Não quero saber. Sou um coronel do Exército Americano, e estes são meus recrutas. Estamos executando manobras de guerra. Quer atrapalhar os exercícios de meus cadetes?”

O recepcionista olhou para o grupo. Um ruivo com aspecto de delinqüente, um negro albino com olhos de coelho, um homem trajando macacão de faxineiro, uma espécie de manequim vestido com as cores da bandeira americana e um esquilo.

“E então, rapaz? Não temos a noite toda.”

“Que vão querer para a ceia, senhor?”

“Peça que suba hambúrgueres, cervejas e algumas avelãs, para o esquilo.”

Quando chegaram ao quarto, no décimo nono andar, os colchões já estavam espalhados e forrados no chão, com cobertores e travesseiros para todos. Pouco depois, ouviram batidas na porta.

“Serviço de quarto!”

Comeram e foram dormir. Mas, cerca de três da madrugada, Joe acordou suado. Havia tido um pesadelo terrível.

“Teve uma visão, não é mesmo?”

O Coronel Olive, vestindo um baby-doll rosa com franjas em tom lilás, estava reclinado de forma sedutora em sua cama. Joe balançou afirmativamente a cabeça.

“É o coração do cordeiro agindo em você. Lembre-se de que era uma águia, Joe. As águias voam a grandes altitudes, e seus olhos são treinados para ver. As visões que terá em sonhos serão mensagens que precisaremos decifrar. Lembra-se do conteúdo de seu sonho? Esforce-se por recordar.”

Joe forçou sua mente, e as imagens captadas no pesadelo começaram a surgir.

“Vi um grande campo, de uma altura somente possível estando num aeroplano. Uma rodovia, serpeando como uma cobra através das montanhas. Veículos de passeio, caminhões, ônibus. Todos bem pequenos, vistos de grande altitude. Um desastre automobilístico, uma explosão. A vista vai baixando, baixando... Aproximo-me. Um Rolls-Royce com placas oficiais está inteiramente destruído, tomado pelas chamas. Corta para uma daquelas coisas reptóides, no alto dos montes, segurando um tipo de bazuca. Corta novamente para um comício, creio que na Capital... Sim, é em Washington. Posso ver a Casa Branca ao fundo. Um reptiliano está no palanque. Gesticula e esbraveja. É candidato a algum cargo importante, ou então está tomando posse. Não posso assegurar ao certo. Centenas de pessoas o aplaudem. Surgem mais répteis. Estão armados de metralhadoras, começam a atirar na multidão. É um massacre. Um deles aponta a arma em minha direção. Já viu um lagarto sorrir? Esse está sorrindo, seu sorriso é frio, sarcástico. Vai disparar. Vou morrer... Vou morrer! VOU MORRER!!!”

O coronel estava ao seu lado, segurando um copo com cerveja quente.

“Beba, Joe. Você teve apenas um vislumbre do futuro, não foi real.”

Todos tinham acordado com os gritos, menos o Tio Sam. Continuava deitado, e parecia estar sonhando com os velhos tempos.

“Que houve, Joe?”

“Não sei, Clemens. Acho que vi o futuro.”

“Viu o futuro? Pois vamos para o hipódromo! Nada melhor que apostar nos cavalos quando se pode prever o futuro!”

Frank interferiu.

“Em minha revista número 14, estive às voltas com um adivinho, uma marmota. Mas era só charlatanice. Causou um rebuliço entre os animais do parque, cobrando caro por seus presságios. Houve até roubos de amendoins e nozes, para pagar pelos augúrios. A situação ficou insustentável. Mas no final eu a desmascarei, e ela voltou a fazer seus buracos. A moral da estória é: ninguém pode prever o futuro, pois somos nós quem o construímos. O máximo que podemos fazer é trabalhar sobre o presente, para assim transformá-lo no futuro que desejamos para nós.”

O coronel concordou em parte.

“É verdade. Mas há exceções, Frank. Os profetas estiveram ligados com a Unidade Universal no passado, e muitas de suas previsões se realizaram. Coincidência ou não, foram justamente aquelas às quais o povo não deu ouvidos. Geralmente, os profetas pregavam uma mudança nos costumes, e a desobediência a isso causaria a catástrofe. Em alguns poucos casos, como em Nínive (já leram Jonas?), o povo se arrepende, retornando ao caminho salutar. Mas na maioria das vezes o povo é rebelde, e os desastres são seguidos de arrependimento justificado. É difícil aceitar que se está errado.”

“Mas e o meu sonho? O que terá desejado informar?”

“Acho que alguém muito importante na Casa Branca sofrerá um atentado, e que um dos répteis tomará seu lugar. Será o início da dominação em massa.”

“E como poderemos evitar? Nem mesmo sabemos quem será assassinado!”

“Você terá outras revelações, Joe. Elas nos guiarão até o alvo. Confie no coração do cordeiro. Ele nos esclarecerá em tudo que precisarmos saber.”

“De que diabos vocês estão falando?”

“Não é nada, Clemens. Vamos voltar a dormir.”

Todos se deitaram, e logo a aurora surgiu. Se estivessem acordados, teriam visto o aparelho de brilho mortiço e translúcido, flutuando no ar a centenas de metros do chão, que os observava detrás do vidro opaco da janela do quarto.

COMENTÁRIOS NECESSÁRIOS OU DESNECESSÁRIOS #8

VIGIAS ELETRÔNICOS OBSERVAM PENSAMENTOS SUSPEITOS

Aparelhagens alienígenas informam possíveis falhas no condicionamento humano

Os Lichs são sujeitos a erros, pois apesar de não serem humanos, podem ser enganados por uma vontade forte. Assim, uma pessoa que tem a capacidade de ocultar dos Lichs seus pensamentos mais profundos, encerrando-os em becos escuros de seu cérebro, pode através dessa faculdade transparecer ser apenas uma pessoa comum, livre da consciência da verdade. Por essa razão, os draconianos desenvolveram uma tecnologia de rastreamento cerebral. São aparelhos pequenos e ágeis, que flutuam no espaço movidos a energia dinâmica, que é retirada de partículas luminosas chamadas fótons. Os fótons são provenientes do Sol, e foram definidos pelos físicos como “minúsculos pacotes de luz”. Não sabemos dizer ao certo o mecanismo que faz os fótons serem convertidos em energia dinâmica. Mas não importa. Os vigias eletrônicos existem, e trabalham com ondas semelhantes às da ultra-sonografia. Um facho de luz é incidido sobre a cabeça da pessoa enquanto ela está adormecida, pois nesse momento seu cérebro está inteiramente vulnerável. Os Lichs não ousam sugar informações de pessoas adormecidas; afinal, sendo feitos de matéria anímica, correriam o risco de ficar irremediavelmente presos na mente do sonhador. Eis a razão do aparecimento dos vigias. O facho luminoso rastreia todos os pensamentos e idéias acondicionadas na mente, revelando em mapas cerebrais detalhados qualquer proposta de rebelião interna. Após fotografarem os mapas cerebrais, retornam para as bases de monitoramento reptóide. Os dados são analisados, e se a pessoa estiver com idéias perigosas com relação aos planos dos reptilianos, é logo incriminada de alguma maneira pelos órgãos governamentais competentemente corruptos e posta fora de circulação. A CIA, o FBI e demais departamentos de defesa são largamente utilizados. As pessoas em questão muitas vezes nem sabem a razão de serem detidas, pois seu inconsciente esconde delas essa informação. Porém, os vigias eletrônicos trabalham a níveis tão profundos que nada escapa de sua detalhada observação. E então as pessoas desaparecem, sem deixar qualquer vestígio de sua passagem pelo mundo, sendo literalmente deletadas da existência.

Damnus Vobiscum
Enviado por Damnus Vobiscum em 22/05/2012
Reeditado em 23/05/2012
Código do texto: T3680986
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