WAGNER E NIETZSCHE – A POLÊMICA CONTINUA! – Parte 02 de 07 partes

WAGNER E NIETZSCHE – A POLÊMICA CONTINUA! – Parte 02 de 07 partes

J.B.Xavier

Bem vindos ao mundo da música e da filosofia. Este ensaio compõe-se de 07 partes, publicadas semanalmente.

Para quem está chegando agora:

Contemporâneas, essas duas mentes prodigiosas estiveram intimamente associadas por algum tempo, ligadas, como não poderia deixar de ser, pelas idéias grandiosas que ambas produziam.

Ao contrário de Nietzsche, Wagner era – e se considerava - um fim em si mesmo. Não se deixava influenciar por nada que não fosse monumental, especialmente no terreno musical. Sua personalidade marcante era de tal forma carismática que Nietzsche sucumbiu a ela e deixou-se apaixonar por suas idéias, para mais tarde, delas discordar e dar início à mais longa polêmica de que se tem notícia na história do pensamento humano!

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PARTE II

Como vimos na primeira parte, um panfleto editado por Nietzsche, em Turim, criticava pesadamente o compositor Wagner, deflagrando uma polêmica que ainda hoje não se esgotou. Mas, por que Nietzsche fez isso, depois de ter admitido que os anos que passou em companhia do compositor foram os melhores de sua vida? Para que possamos compreender melhor a questão, é necessário que retornemos um pouco no tempo, até à época em que Wagner instalou-se em Bayreuth, onde desenvolveu uma espécie de mediunidade original.

Lá, ele pretendeu fundar uma religião cujo deus era a Arte, e – o que Nietzsche não admitiu – quis ser seu sumo sacerdote entre os homens.

Entretanto, para uma melhor compreensão da questão, é necessário retornar ainda mais no tempo, e ir de encontro ao Wagner-artista, que aspirava à renovação e a uma linguagem própria para sua arte.

Essa ousadia, cedo lhe granjearia adversários poderosos. Pela pretensão de se expressar de maneira original, rejeitando tudo quanto fosse aceito até então pela sociedade, Wagner foi alvo de intrigas dissimuladas, abertas, tanto de cunho profissional quanto estéticas.

Meyerbier foi um dos primeiros grandes nomes da música a alvejá-lo profissionalmente, criticando sua expressão musical. Para qualquer um que há época aspirasse ser músico e tivesse um nome como Meyerbier como adversário, as dificuldades na rota do sucesso já seriam bastante grandes. Não osbstante, além de Meyerbier, o grande Belioz e outro gigante alemão da música universal – Schumann, autor de TRAUMEREI, cuja esposa Clara, exímia pianista, ainda hoje é estampada na notas de cem marcos – abriram também fogo contra os arroubos de Wagner, criticando seu rompimento com a estética musical da época.

Isso equivaleria a, nos dias de hoje, alguém tentar gravar um disco de música popular, tendo Roberto Carlos, Chico Buarque e Caetano Veloso a pressionar as gravadoras para que não o façam.

Mas Wagner se divertia com seus críticos, e os considerava retrógrados e escravos do sistema, como já o fizera um dos poucos músicos que Wagner realmente respeitava: Beethoven.

Infelizmente, por um desses acasos do destino, esses dois grandes gênios da música por pouco não interagiram musicalmente. Quando Beethoven morreu, em 1827, Wagner tinha apenas quatorze anos. Tivesse o autor da NONA SINFONIA vivido alguns anos mais, ou o autor de PARSIFAL nascido alguns anos antes, e só Deus sabe o que poderia resultar, se esses dois tivessem se encontrado e reunido seus talentos e espíritos combativos.

Havia uma diferença básica, porém, entre o comportamento de Beethoven e de Wagner: Enquanto Beethoven se introspectava, alheio ao mundo ao seu redor, mergulhando cada vez mais em seu mundo musical particular, sofrendo com seus dramas pessoais, Wagner parecia gostar e até mesmo provocar seus adversários com idéias acintosas para a época.

Mas, com o amadurecimento musical de Wagner, as críticas deixaram de ser veladas e passaram de escaramuças localizadas, para um combate sistemático à “musica herege” que levaram a discussão a lances dramáticos.

Um dos principais adversários do compositor era Eduard Hanslick, um crítico mordaz, cuja audácia era de todos temida. Ai de quem, há época, no mundo musical, caísse em desgraça com Hanslick!

Apoiado por ninguém menos que Brahms – outro gigante da música ocidental, Hanslick encabeçava os defensores da “música pura” e, por todos meios disponíveis, opunha-se à “messiânica música do futuro” de Richard Wagner.

Mas, por mais ferrenhas que essas oposições tenham sido, não diferiam muito daquelas que outros músicos proeminentes – Beethoven entre eles – sofreram. As críticas podiam renegar o estilo wagneriano de compor, mas não podiam negar sua qualidade musical, e isto por uma razão muito simples: elas se atinham ao tema que seus críticos dominavam: A música.

No caso de Nietzsche, entretanto, a crítica teve um significado mais amplo, inclusive porque Wagner inseriu-se também no seu campo de ação – a literatura. Ao morrer, os ensaios escritos por Wagner já formavam formidáveis 10 volumes!

Nietzsche alvejou tudo quanto fosse de Wagner ou tivesse relação com ele, embora sua euforia pecasse por paixão de discípulo desiludido. O fato é que “O Caso Wagner” motivou uma polêmica que ainda hoje continua em aberto.

Para o intelectual Nietzsche, seu ex-mestre era um histrião, um novo Sócrates, corruptor da juventude alemã, sobretudo das mulheres! Era também um enganador das massas pseudo cultas, na medida em que misturava em seu cadinho de alquimista da cultura, as essências de uma arte criada para a decadência e nascida da própria decadência.

Esse julgamento por parte do filósofo, advinha do fato de que ele não admitia o teatro como forma de arte, e dogmaticamente o rejeitava, considerando-o corrupto e decadente por definição.

Percebe-se o caráter rancoroso no Panfleto de Turim, quando, apesar das críticas ao compositor, Nietzsche admite que os melhores anos de sua vida foram os que devotou a Wagner.

O fato é que “O Caso Wagner” tem resistido sobejamente ao tempo. Como a Phoênix, ele ressurgiu das cinzas do império alemão, resistiu a duas guerras mundiais, à ideologia de Hitler, e passou incólume por quase cem anos de profunda crise intelectual.

À medida que o tempo passava, iam se juntando à discussão, as opiniões de nomes famosos, como Ernest Bloch, Theodore W. Adorno, Bernard Shaw, Thomas Mann e outros.

Obviamente, como é natural, discutir eventos tão distantes no tempo exigem seriedade, ainda mais quando se trata de personalidade tão marcante, tão polivalente e tão intensa quanto a do autor de O ANEL DO NIBELUNGO, que, para Gerhard Hauptamann, ou, meio século mais tarde, para Deryck Cooke, é a obra de arte mais notável e definitiva de toda a nossa cultura.

No próximo capítulo, veremos o desenrolar dessa empolgante polêmica, um verdadeiro embate de gigantes.

Até lá!

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JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 31/07/2005
Reeditado em 08/03/2010
Código do texto: T39131
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