Confuso, demasiado confuso

Ouvindo música, o pensamento flui. Lendo filosofias diversas o pensamento se expande. O contato com outras pessoas, diferentes por natureza. Com diferentes graus de beleza, de inteligência e de disposição. Uns acomodados, enquanto outros totalmente alucinados. Ah! se todos compreendessem que possuem uma verdadeira usina dentro da cabeça, capaz de gerar, como de fato gera, energia suficiente para movimentar o mundo. Bits, elétrons, átomos movidos e alimentados por neurônios. Uma relação plena, mas pouco conhecida. Os fluxos neurológicos criando pensamentos, que criam idéias, que criam costumes, que modelam o mundo físico. Criar e destruir. Exercício físico e sedentarismo. Boa e má alimentação. E as idéias seguem determinando a saúde biológica e mental. Vícios. Formas variadas de enxergar o mundo. Nossas antenas naturais: nossos olhos, ouvidos e nariz. Nossas mãos e nossa boca. As cordas vocais. A linguagem e a visão. Música. Pontos de exclamação, interrogação e final. Afinal, quantas possibilidades que insistimos em resumir em algumas poucas. Discriminação e preconceito... pode?

Informação mais informação mais informação mais informação, provenientes de todos os lados, sons, visões, odores, texturas: boom! Guerras, deuses, mitos, crenças, ciências... O verdadeiro e o falso. Universo: onde acaba e onde começa? Começa? Acaba? Existe explicação que possamos exprimir através de palavras? E as palavras... Serão suficientes para comunicar nossos sentimentos, impulsos, tensões, estímulos, sensações? E se elas não existissem, pensaríamos? Como?

E a arte... O que a arte é? Através da arte, exprime o artista a sua relação com o mundo. É uma fuga necessária. Mas quem não desenvolve nenhum tipo de arte não conhece a si próprio e se sustenta pelas palavras, tão incertas quanto vazias de sentido para quem não reflete sobre elas. Percebam! É possível brincar com elas como se brinca com uma bola. Suas intenções, suas perversões, ora alegram, ora emocionam, ora oram. Mas só exercem seu poder se realmente colocam o espírito de quem as emite às claras. Daí seu sentido. Daí sua necessidade. Daí seu perigo: os demagogos, os corruptos, os cínicos, os mentirosos, todos inescrupulosos. Boom! Explode mais uma guerra. Corpos mutilados, moídos, derretidos, estraçalhados, cortados, queimados. Pais irreconhecíveis, filhos deformados. Fome. Miséria. Tristeza. Ignorância. Maldade. Vingança. Esperança e sua falta.

E as imagens captadas pelas câmeras digitais em tempos reais. Trazem a dor e o amor. As bombas e as flores. Deus e o Diabo. A mentira e a verdade à cabo. O futuro repetindo o passado. A turbulência que atinge a alma, amálgama de sentidos, de conflitos, de perigos e o alívio de um beijo atrás da orelha, em baixo do queixo. Arrepio. Prazer, medo. Ou simplesmente respostas neurológicas, naturais e expontâneas. O mal do homem é buscar o sentido de tudo. Amigos, a vida não tem sentido! A vida seria bela se não estuprássemos ela. O dinheiro, o trabalho, o roubo, as restrições e as proibições. A propriedade da terra. Comprar um pedaço de terra seria muito engraçado para um macaco, pois a terra é apenas o suporte como o ar o é para o beija-flor, ali parado no ar beijando uma flor. Eis a lógica humana...

Quem é irracional, o homem ou qualquer outro animal? Irracional... Eu digo e assino. Quem me explica o assassino? A prostituta? É tudo por dinheiro? Tudo bem, que exista o dinheiro, mas apenas para ordenar o caos da sociedade. Pra que ter notoriedade? Pra que contar a idade? Quem quer saber de novidade? Ah!, a felicidade. Meu carro zero importado atropela a Macabéa. Ela virou estrela em cima da hora. Se passasse depois não seria nem ao menos citada. Desgraçada. Viva. A vida é ou não é engraçada? Eu deveria usar este último ponto de interrogação ou seria melhor somente um ponto final? Não faz diferença. Estou apenas passando as palavras por baixo das suas pernas. Dando um lençol no leitor. Enfiando uma idéia de placa no ângulo do pensamento. Sou brasileiro, latino-americano. Raízes brancas, vermelhas e negras como as cores do meu time. O instinto falando mais alto que as técnicas. Batidas dos tambores, movidas pela alma. Música em estado puro de espírito espontâneo como um drible do Pelé num zagueiro europeu. Aqui a arte. Lá as técnicas táticas tácitas extáticas. Aqui o groove, o soul. Lá a regência, as partituras. O norte versus o sul. O Brasil é a brasa. Brasileiro. Mistura de violino e pandeiro. Neon e candeeiro. Intelectual africano e presidente torneiro mecânico.

A ignorância pode se esconder atrás de livros. Os livros não garantem o poder. As palavras não são capazes de, por si só, exporem a alma. Atitudes podem ocorrer em meio ao silêncio. Aliás, o ideal seria se observássemos o resultado bruto das atitudes. Esquecer as palavras é essencial, pois nem sempre (ou quase nunca) surgem da essência. As palavras são como flores ou como armas. Se não tomar cuidado, boom! A guerra... E mais uma sirene grita. Mais uma vítima. Mais alguns pontos no Ibope. Os helicópteros com olhos sanguinários. A cabeça vazia equilibrada em cima do corpo em frente à TV. Filhos, esposa e o cachorro querendo atenção. Já não querem mais atenção. O trabalho diário comprou pra cada um uma televisão. Cada uma em um canal. Cada indivíduo em sua própria sintonia, nem sempre muito fina. Notícias, novelas, os paparazzi e os artistas.

A melancolia estampada pela miséria dos ricos contribuindo para o reflexo pobre da mesma miséria humana do povo na sarjeta. Quem agüenta esta diferença? Não é quase tudo igual? Triste por ter muito e triste por não ter nada. A mesma falta de essência regada ora por whisky, ora por cachaça. Tantas possibilidades resumidas em duas malditas e longínquas realidades. Não, meus caros, não é possível um meio termo. A civilização é uma só. Doença, praga, vírus, bactérias. Remédios. Criamos as doenças e procuramos desesperadamente a cura. A cura: cultura, arte, sinceridade, sem exagerar no amor e na piedade. Dar a chance a todos de conhecer a si próprios. Quem pode me proibir de usar drogas, de ler livros, de escrever poesias, canções, viajar ao redor do mundo, conhecer pessoas? Expandir as idéias. Aumentar o espírito. Dar um grito. Criar um mito. Ensinar. Aprender.

Por que querem enganar uns aos outros? Por que desejam tanto o poder? É claro, pura ignorância. A mesma miséria da alma. A doença que não permite evoluir. A ignorância que só pode destruir. Marx, Foucault, Nietszche, Guevara... de várias formas, muito já se falou. Ninguém quer escutar. Até o Roberto Carlos já disse que todos estão surdos! Ninguém entende a verdadeira missão. Jesus vivia falando que somos todos irmãos. Ninguém entende. Acho que eu é que devo estar errado. Os anarquistas de hoje tomam coca-cola. Os sociólogos corruptos. Os padres pedófilos. Os policiais ladrões. Os bispos gananciosos. A bíblia, o sexo, a educação, a informação, os cargos políticos, os votos, o punk, as ideologias, tudo refém da moda... tudo mercadoria. Tudo se transforma em mercadoria. Indústria cultural. Maluco beleza. Símbolo sexual dos programas infantis posa nua na revista de marca internacional. Órgão genital é a mais antiga mercadoria. As imagens podem ser mercadorias. O que é certo e o que é errado? O caminho será esse? Não precisamos mais de intelectuais? Pra que serve um intelectual? Pra que ficar falando sobre os absurdos da sociedade?

Ah! Precisamos é de técnicos especializados! Preparados em Universidades especializadas. Precisamos de conhecimentos específicos que resolvam problemas específicos. A cada dia que passa somos mais específicos. A cada dia que passa nascem novas espécies de necessidades. Cada cabeça uma sentença, já diriam há muito tempo atrás. Uns criam. Uns absorvem. Alguns só criam. Outros só absorvem. Viva os meio termos! Esses sim podem ser felizes, desde que conheçam sua própria especificidade. Em meio a um turbilhão fica difícil, mas não impossível. Mas quantos alcançam o equilíbrio? Quantos aparelhos de TV estão ligados neste momento impondo ordens aos seus espectadores? Quantos trocam seus cérebros por televisores? Quantos refletem sobre a tempestade que lhes atingem? Tempestade de variações do pensamento. Nada mais que pensamentos. Nada mais que ligações neurológicas. Nada mais natural. Tão confuso quanto humano. Tão humano quanto confuso.

Leonardo André
Enviado por Leonardo André em 09/08/2005
Reeditado em 30/11/2005
Código do texto: T41438