Utopia Latino Americana

A América Latina acorda de luto com a morte do escritor uruguaio Eduardo Galeno. Os pensadores contemporâneos estão morrendo e se aproxima a névoa do ostracismo, um contexto histórico de esterilidade no campo das artes, da cultura e das ciências. Intelectuais são os baluartes de resistências diante das avalanches ideológicas e da omissão do senso comum, pessoas que pensam e fazem as pessoas pensar. Suas palavras trazem esperanças para as lutas dos revolucionários com poesia, doçura e utopia. Acreditar num “outro mundo possível”, naquilo que “está por vir” à galope da justiça e da ética. Navegar no sublime e nas entrelinhas das teorias e divagar, compartilhar e discordar dos que ousam pensar, os pensadores. Em termos de cultura, os clássicos são atemporais; revisitando as fantásticas epopeias de Gabriel Garcia Márquez ou o profundo estado da arte de Rubem Alves, imerso na imensidão poética de Ariano Suassuna ou debatendo a historiografia de Eric Hobsbawn. Questionam sem medo de serem questionados, tecem a crítica as injustiças e vislumbram novas alternativas. Os intelectuais são imortalizados pela sua contribuição para a Humanidade, nas suas obras e compêndios, nos discursos e engajamentos políticos. Pouco resta da escola destes eruditos, seus discípulos já estão capitulados por programas reformistas e liberais e a formação de uma geração revolucionária está a espera de uma conjuntura favorável para acreditar numa plataforma de mudanças e transformações. Os livros clássicos serão o combustível para a utopia, que serve de estímulo para o descortinar de novos horizontes. Na América Latina açoitada pelo colonialismo, muitos são os desafios e superações para conceber uma visceral identidade latino americana que possa valorizar sua diversidade cultural, a tradição indígena e africana sincretizada pela imigração europeia. O mosaico cultural dos povos latino americanos e suas lutas de libertação eram a essência dos escritos de Galeano. Jaz mais um poeta que acendia a labareda da utopia latino-americana. Denunciava a exploração e semeava poesia por onde passava. Ao ler, somos absorvidos pela pessoa que escreveu e a cada livro tornamo-nos pessoas diferentes. A leitura das obras de autores e autoras latino-americanos fornece um conhecimento aprofundado sobre a história do nosso continente, do nosso povo, da nossa cultura e de nós mesmos. Nos reconhecemos como se estivéssemos de frente a um espelho. Eduardo Galeano colocou um grande espelho sobre a América latina, basta querermos enxergar nossas belezas.

Publicado no Jornal Litoral Norte RS

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 16/04/2015
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