No Céu um Balão de Paz

O alvorecer frio nas manhãs de outono, a grama esbranquiçada pela geada contrasta com o colorido dos balões que invadem, pouco a pouco, o céu de Torres. Um misto de alegria, euforia e espanto no semblante das crianças que correm em direção ao balão que pousa. Os olhares são conectados à imensidão da estratosfera, a morada das nuvens e estrelas. Como numa pitoresca história de Júlio Verne em “A Volta ao mundo em oitenta dias” e a fantástica viagem de balão por lugares desconhecidos do planeta. Histórias que povoam o imaginário popular, voar num balão pairando silenciosamente sobre a paisagem, a cidade que se torna uma maquete e compartilhar o mesmo horizonte das aves. O festival de balonismo proporciona um ritual singular: apreciar o céu. Uma felicidade compartilhada por todos, os balonistas que voam e o público que assiste e se encanta com os balões. Em harmonia com a paisagem, de longe, sobrevoam pequenos pontos no céu, contrastando com o desenho da Serra Geral, o cordão de verdejantes matas e esbranquiçados areais, o brilho da lagoa do Violão e a sinuosidade do rio Mampituba. Compondo o cenário, as imponentes falésias e o profundo oceano Atlântico produzem a atmosfera mítica que consagrou o balonismo em Torres desde sua primeira edição em 1989. A população torrense se apaixonou pelo voar dos balões mesmo sem compreender os termos técnicos do esporte. Entretanto, essa mesma população que se encanta com o colorido dos balões no céu vive uma contradição, assiste abismada suas ruas serem manchadas com o sangue da sua juventude. A juventude que sonha e corre atrás dos balões, está sendo brutalmente assassinada, vitimada pelo envolvimento com o narcotráfico. Os jovens torrenses agonizam por melhores dias, onde possam pavimentar seus destinos com mais oportunidades dignas de educação e trabalho. Por trás dos “casos de polícia” existem histórias de famílias, muitas lágrimas de mães, irmãos, pais, tios, madrinhas e professores que ficam sem respostas à crescente violência urbana. Entre o feitiço das belezas naturais e dos belos pontos turísticos existem histórias veladas e memórias esquecidas. Das alturas descortina-se no colo dessa paisagem de escuras rochas basálticas regada pelos mananciais hídricos, a cidade de Torres. Berço de uma cultura multifacetada e um povo filho das belezas naturais que elegeu os contrafortes para estabelecer sua morada. Na 27° edição do festival de balonismo, que resplandeça o Balão da Paz, pois ainda desfrutamos de um cantinho do paraíso!

Publicado no Jornal Litoral Norte RS

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 29/04/2015
Código do texto: T5224956
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