A Cabeça do Índio

No complexo de falésias que compõe o cenário do Parque José Lutzenberger destacam-se o abrupto e alongado Morro das Furnas e seus pesqueiros situado entre a Praia da Cal e a Praia da Guarita, a singela e resistente Guarita (em alusão aos postos militares de salvaguarda territorial) também conhecida como Pirâmide ou Sentinela e a Torre Sul com o acesso ao topo recoberto por um denso túnel verde e a imponência de seu acentuado volume e vegetação. As escarpas da Torre Sul conferem a harmonia e coesão da singular praia da Guarita, um monumento geológico lapidado pela História. Na faixa de areia existem as evidências das áreas de trabalho para a construção do Porto Marítimo de Torres em 1890, os locais de dinamitações dos blocos rochosos utilizados para o perfilamento do quebra – mar onde os trabalhadores utilizavam pequenos vagões e um trilho para transportar o material. No atual estacionamento do parque, próximo da Torre Sul, estava localizado o Sambaqui da Guarita ou Sambaqui da Caieira. Um sítio arqueológico que foi impactado pelas obras de infraestrutura do parque na década de 1970 e remontava aos vestígios das populações primitivas do litoral que chegaram a cerca de 4.000 anos A.P (antes do presente). Um ambiente de exuberante e diversificado ecossistema entremeado pelos sítios de relevância histórica e arqueológica. Na encosta leste, a verticalidade das elevações basálticas revela rupturas na formação geológica. Existem fendas que adentram nos falhamentos colunares do basalto formando verdadeiros esconderijos. Na porção sul, uma espécie de réplica em miniatura da Sentinela forma a conhecida “Filhote da Torre Sul” ou “Cabeça do Índio”. Esta pequena Guarita tornou-se com o tempo uma referência territorial e histórica para a comunidade local e os transeuntes e viajantes que transitavam pela faixa litorânea no período colonial. Na parte superior, esculpida pelas intempéries climáticas era avistado o perfil, a face de um indígena de frente para o oceano, alinhado na direção leste. Nos idos da década de 1990 em decorrência de fortes tempestades, há relatos que este monumento natural foi atingido por uma descarga elétrica e desabou na praia. Segundo alguns pescadores locais, em períodos em que há movimentação das areias pelo vento ou pela ação das marés, é possível avistar parcialmente o bloco rochoso. Em muitos sítios megalíticos, povos primitivos alinhavam astronomicamente grandes rochas. O que parece é que a Cabeça do Índio era o resultado de ação natural de desgaste e não esculpido por intervenção humana como um totem. Atualmente, não se percebe as evidências do “Cacique de Pedra” que zelava pela preciosa Guarita, tornando-se presente apenas na memória social e no registro das imagens históricas.

Publicado no Jornal A Folha e Jornal Litoral Norte.

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 07/05/2015
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