Iê, Camará... Viva Meu Deus, Viva Meu Mestre !

Uma das expressões mais marcantes da cultura afro-brasileira é a capoeira, sua ginga, musicalidade e tradição. Embora criminalizada no passado, a roda de capoeira foi consagrada a patrimônio cultural da humanidade. Atualmente, é uma das práticas de inclusão social e exercício da cidadania em que o fio condutor são os elementos da História da África e do Brasil permeada pela oralidade e troca de saberes. Os mestres de capoeira resguardam as riquezas e tesouros da capoeiragem e são os verdadeiros embaixadores da cultura brasileira, disseminando sua arte em todos os continentes do mundo. Na semana de celebração do aniversário de 137 anos do município de Torres, o Centro Cultural Ecos de Angola promoveu o I Permangola (COMPCULT – FUMCULTURA – Secretaria de Cultura e Esportes da Prefeitura Municipal de Torres) com o objetivo de aliar os fundamentos da permacultura, alimentação natural, cultura popular e história. O evento ocorreu nos dias 23 e 24 de maio e proporcionou múltiplas vivências aos participantes e contou com a presença do Mestre Bigo (discípulo de Mestre Pastinha), Mestre Plínio (Centro de Capoeira Angola Angoleiro Sim Sinhô), Mestre Jaburu (Grupo Guayamuns de Capoeira Angola), Mestre Kunta Kintê e Contra Mestre Jean Sarará (Grupo de Capoeira Angola Raízes do Sul). Estiveram presentes o Contra Mestre Bernardo e o Lelo do Grupo de Capoeira Luanda de Torres. O permacultor Gustavo Mincarone (Arquitetura Ambiental) conduziu uma das oficinas tratando sobre os conceitos de sustentabilidade, bioconstruções, o descarte de resíduos e preservação do meio ambiente num bate papo descontraído mediado pela projeção de imagens na manhã de sábado. À tarde foi contemplada pela vivência com os mestres, movimentos, instrumentos e musicalidade e os fundamentos e princípios da capoeira angola. O arerê, como disse o mestre Jaburu, se estendeu à noite ao som dos berimbaus, pandeiros e atabaques entre risadas e ladainhas. Na manhã de domingo, os participantes tiveram a oportunidade de conhecer os aspectos históricos e o processo de povoamento da região litorânea com enfoque na presença negra nas sesmarias e quilombos. Esta oficina foi ministrada pelo historiador Leonardo Gedeon em que foi disponibilizado o contato com artefatos arqueológicos e informações sobre o patrimônio cultural do litoral norte gaúcho. A alimentação natural foi produzida e elaborada com zelo e carinho por Ras Buyú e sua equipe, um cardápio vegetariano abundante que conquistou o paladar e os olhos dos angoleiros e angoleiras. Após o almoço, uma saída de campo foi organizada para apresentar as belezas naturais e os pontos históricos da cidade de Torres, da Barra do Mampituba à Praia da Cal. Chegando no cume do Morro do Farol, frente ao deslumbrante horizonte do oceano, a Ilha dos Lobos, o entrecortado Morro das Furnas, o cordão de dunas salpicados pela Mata Atlântica e alinhados com a frondosa Serra Geral, o ancião Mestre Bigo, suspira: “Filho, parece a minha Bahia de Todos os Santos...” e complementa: “Cê sabe porque é chamada Bahia de Todos os Santos? É porque tem 365 igrejas, uma pra cada dia do ano, uma pra cada santo... Só Cosme e Damião ficaram sem, porque ficaram brincando!” acompanhado de uma forte gargalhada para a alegria de todos. Finalizando o evento, à tardinha de domingo, a prosa dos mestres e agradecimentos, ensinamentos carregados de simplicidade e humildade com profundos conhecimentos sobre ética e vivência comunitária. Este foi apenas mais um capítulo da Capoeira em meio as Torres, com a certeza de que muitos eventos irão acontecer em prol da cultura popular brasileira. Axé meus camarás...

Publicado no Jornal Litoral Norte e Jornal A Folha.

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 28/05/2015
Código do texto: T5258027
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