Comentário do filme Abril Despedaçado

O filme nos mostra em síntese a história de uma família, no centro do sertão do nordeste, família esta que expressa em si a estrutura e cultura da época e do contexto social a que está inserido. (1910)

Fica muito bem caracterizada a rotina da família. A mesmice, a absoluta falta de opção, o girar do cotidiano, como o girar do moinho de canas, no qual todos trabalham.

Os quatro integrantes da família se envolvem nas atividades em comum e reagem apenas aos estímulos oferecidos por esta realidade árida, tanto em paisagem como em oportunidades.

O garoto, chamado menino, é a expressão do que ainda não foi cristalizada, a insinuação de uma flexibilidade, de um movimento por assim dizer, que sustente algo fora desta conhecida rotina. Nele há, intuitivamente, a percepção de algo que aos outros já escapa, pela automatização do dia a dia.

O jovem, externa em si, o limite, a tênue linha divisória entre o real e o irreal. Há movimentos, impulsos de se perceber, intuir, buscar... Mas logo refreado pela aceitação da inexorável certeza do destino.

Toda a linguagem utilizada no filme expressa com clareza o cotidiano, a cultura, valores e realidade em que vivem.

O menino tem comentários como:

“A mãe diz que Deus não manda peso maior do que se pode carregar. Mentira. Às vezes o peso é tanto que se cai esborrachado na terra”.

“O pai diz que aqui é olho por olho. E tanto brigam que todo mundo fica cego. E em terra de cego, quem tem um olho é tido como doido”.

São falas que deixam transparecer o raciocínio do garoto, fundado na observação, na sua vivência, ainda que precária e tenra.

Insinua-se em sua lógica inocente uma certa resistência ao que não é mais questionado.

A história mostra que estão vivendo um momento delicado. O filho mais velho do casal foi assassinado, vitima de uma contenda familiar que atravessa gerações, ao que se menciona.

Quando no momento convencionado, o pai chama o filho do meio, o jovem, para que faça o que se espera dele, ele apenas acata, sem ocorrer-lhe, provavelmente, a possibilidade de agir de outro modo.

O menino, num ato de rebeldia bem apropriada ao que já deu tratos à bola sobre o assunto, mesmo na presença do pai instiga o irmão à não ir. O que lhe custa uma séria reprimenda.

Essa cena nos passa bem os valores que estão em jogo e a importância que eles adquirem na comunidade em que se estabelecem. São por princípios inquestionáveis.

O jovem assume o que dele se espera. E vai vingar a morte do irmão.

Interessante a simbologia da camisa ensangüentada. O costume manda que pendurem no varal e lá ficará no tempo. Quando o sangue amarelar, é hora da vingança. Comenta-se da Lua, como referencia do tempo.

A natureza é a referencia, tão inexorável quanto às crenças no destino.

O jovem vai e cumpre seu papel, claramente abalado.

No enterro, o pai comparece e solicita autorização, ao chefe da casa, para que o filho, possa entrar e rezar pelo morto.

Formidável esta cena em sua riqueza de informações a respeito da cultura popular.

De maneira absolutamente natural, aceitam o inevitável da contenda e suas implicações. Respeitam, civilizadamente certos hábitos, em nome dos valores que regem esta comunidade. Assim, os assassinos participam das cerimônias de despedida do morto, na casa do morto.

Ao término do enterro, o jovem pede ao patriarca da família que o recebeu, que seja feita uma trégua. E o que consegue é uma trégua de mais uma Lua. Na verdade numa alusão ao tempo que a camisa demora a esmaecer o sangue.

Aqui é um marco importante. Estabelecem claramente as regras. O patriarca numa ameaça velada e requintada, indaga ao jovem se ele já conhece o amor. E menciona que não conhecerá, e faz um comentário sobre o relógio, que marca o tempo de vida para alguns e de morte para outros.

A referencia ao amor, nos faz refletir como em meio a tanta aridez, tanta dificuldade e rudeza, ainda assim, o amor, como eles conheciam e conseguiam experimentar, era algo extremamente valorizado.

Quando um casal, onde uma bela jovem, passa pelo “Riacho das Almas”, o menino orienta-os, já que estão perdidos e acaba ganhando um livro de presente. Ao ser indagado se lia, ele prontamente afirma que lê as gravuras.

Mais uma vez o espírito vivo, curioso, interessando, não aquietado.

O livro passa a ser então o símbolo de seus sonhos, de seus desejos, e a imaginação se solta livremente, ate onde pode alcançar suas possibilidades.

Quando fica sabendo da apresentação do circo, pelo jovem que foi ao vilarejo com o pai, vendendo as rapaduras, ele menciona a vontade de ir ate lá, no que é imediatamente bloqueado pelo irmão, faz um comentário:

“A gente é como os bois, roda e não vai para lugar algum...”.

A observação clara e sem pretensões do menino, numa lucidez rara para alguém de sua idade, nos mostra como há, em certa medida o alcance e percepção dentro da cultura popular, o que possibilita-nos a compreender as idéias de Gramich, quando afirma existir intrinsecamente a potencialidade de reação, resistência e mudança, latente na cultura popular.

O jovem irmão, ao perceber a angústia e desejo do menino em conhecer o circo, resolve levá-lo à noite, expressando mais uma vez a capacidade de resistir ao estabelecido, mesmo que por momentos e que não tenha continuidade, há o impulso e realiza a ação.

Encantam-se os irmãos ao assistirem o espetáculo, que para eles era totalmente novo, inédito e fascinante.

O menino reconhece a atriz como sua amiga, que lhe deu o livro e que conquistou sua devoção. Ela era o símbolo da liberdade para ele, possibilitou-o a sonhar e a permitir-se retirar, em certa medida, da rotina sem perspectiva alguma, que ele pressentia, mas não possuía consciência absoluta.

Lê-se na tabuleta do carro, onde os artistas improvisam um palco, “O Riso da Terra”.

Assim, o circo é o símbolo da ilusão, o riso uma expressão do que de mais natural há na essência humana, a alegria. Uma alegria inconsciente que habita no âmago do ser humano, independente de sua formação, história, cultura. Parece ser um predicado universal, apenas diferenciando-se em sua possibilidade de expressão ou não. O riso parece ser o extravasar do que é aprisionado dentro da alma.

Depois do espetáculo, o encontro dos irmãos com o casal de artista passa-nos uma mensagem interessante.

O deslumbramento que o Tonho desfruta ao apreciar a moça e a alegria exuberante do menino ao reencontrar sua musa.

Recebe o nome de PACU, um peixe que, afoito, é ágil em suas manobras pelo universo que vive. E menino não compreendendo bem o sentido, sente-se desconfortável e não parece gostar do nome a ele atribuído.

A rotina segue-se, mas já se percebe um diferencial. Tonho, cada vez mais ciente de seu destino, da possibilidade de ver sua vida ser interrompida brutalmente, tem pesadelos e sente-se incomodado, dando mostras de que não aceitava passivamente a sina que lhe era imposta, embora não tivesse nem coragem nem recursos para ela questionar ou resistir.

Sem dúvida que seu comportamento já expressa em si uma resistência, mais uma vez nos mostrando que essa potencialidade esta presente sempre, e nos dando motivos para acreditar que havendo situações favoráveis, elementos que propiciem e ofereçam melhores recursos, a mudança pode dar-se de forma bastante significativa.

Como conseqüência desta inquietação, acionada pela curiosidade e desejo de experimentar o que de novo a vida apenas lhe acenou, resolve fugir e ir encontrar-se com os artistas. Mesmo sabendo que ira retornar, que precisa voltar, mas vai.

Interessante o ponto em que o artista comenta com a moca sobre o fato do rapaz estar condenado a morte. Observa a fita preta no braço dele. Uma clara demonstração das leis, dos símbolos e significados que a cultura popular traz embutida em seu cotidiano, aparentemente sem ordem alguma.

Ha sim uma regra estabelecida e mais ainda, um reconhecimento dela, o que a legitima e lhe dão forca. O reconhecimento popular e o que a torna uma regra e que garante que seja cumprida.

Tonho se deslumbra com as novidades que passa a ter contato. Percebe o que acontece entre o casal e a seu modo aceita como inevitável.

Quando a moca se exibe na performance de trapezista, pedindo a ele que rode, rode sem parar, ousando a velocidade como quebra do controle, como se entregar à liberdade apenas pressentida, mas nunca encarada como possível, ambos vivem um momento de desconcentrada cumplicidade, partilhando o que habita soterrado no coração de cada um, a inocência da juventude, o desejo abrasador de algo que os liberte do destino perversamente imposto a eles, sem escolha alguma. Há um desejo de romper com o conhecido, com a falta de opção que aprisiona, é o anseio genuíno pela liberdade, que a seu modo próprio e tímido se manifesta. Um encantador fascínio que atrai estas almas sofredoras. Tonho se apercebe profundamente da presença da Clara e dela se encanta, como símbolo do que antes lhe era desconhecido.

O parceiro da moca percebe este momento, encarando-o como ameaça e a chama, exigindo-lhe a presença em outra atividade ligada a sua realidade mais dura. Como padrinho da moça ele assumiu o controle de sua vida, mais uma vez externando costumes e hábitos aceitos e respeitados na conduta do grupo em questão. As regras que são reconhecidas pela aceitação das pessoas e que legitimam-na. Eis um ingrediente importantíssimo da cultura popular.

Os pais do jovem lidam de forma diferenciada com a ausência do filho do meio. A mãe observa que â pior vida e melhor que a morte, numa referencia ao absurdo implícito da realidade que estão vivendo, e que não apresenta opção alguma de escapar.

Já o pai, encara que a honra, como tudo que lhes resta, e por isso espera confiante que o filho retorne para assumir o papel que dele se espera, não importando que isso lhe cause a morte, pois a morte faz parte da justificativa da vida.

Percebe-se claramente aqui os valores embutidos no aparente caos que e a cultura popular. As regras são fixas, estratificadas e cristalizadas a tal ponto, que o mais absurdo produto delas não e questionado, pois se explica e justifica-se por si própria.

Enquanto o filho nao retorna, a rotina continua tendo acrescentado ao seu desenrolar a insegurança dos pais, o receio, causando uma certa irritabilidade que se desemboca na vitima única que poderia ser escolhida por ambos.

Os pais, sem se darem conta disso, exigem mais do menino, quase que como som receio do que possa vir a acontecer na dele, e qual possa ser sua conduta, em meio ao que se passa no momento. A ausência do filho do meio como influencia indesejável ao menor, que pode nao entender e pensar que pode fazer algo semelhante ou pior. A quebra das regras causa insegurança e o ser humano quando se sente inseguro, naturalmente torna-se violento, numa reação de autodefesa, próprio da raça humana e intrincadamente estabelecida na cultura popular.

Disso segue-se à ração da mãe que implica com o menino por estar sonhando e falando sozinho, em companhia do livre, que lhe e, já a algum tempo, inseparável.

O pai num momento de extravasar sua raiva contida contra a fatalidade e sua impossibilidade de intervenção agride o menino por estar distraindo-se com o tal livro e projeta neles algo com o qual ele no pode lidar ou ter poder, agredindo-o e tirando o livro da vida do menino.

Uma reação comovente do menino, que se sente despojado da única razão de satisfação de sua vida, do meio em que contatava uma realidade diferente de sua rotina massacrante e terrivelmente seria, sem nenhum ingrediente que pudesse temperar a vontade de viver e a perspectiva de algo novo no seu dia a dia.

Tonho retorna ao lar a tempo de assumir seu destino. Mas não retorna mais o mesmo, o que traz dentro de si é o conhecimento de algo que desconhecia por completo antes de sua partida. Ousou sonhar, mas não encontra recursos nem possibilidades de ir adiante em sua ousadia.

O ritual da camisa mais uma vez é mostrado, como o código que norteia a comunidade. As regras rudimentares ou não, externadas ou não, são reconhecidas, aceitas e seguidas, sem que se questione. Assim, quando um dos membros da família que acompanha o ritual da camisa, para que se cumpra a vingança, solicita permissão ao patriarca para que junte ajuda e liquide de vez com a família inimiga, o mesmo responde calmamente e de forma a não ser mais levantado o assunto:

- Você tem direito de buscar cada gota do sangue que foi derramado de seu familiar, no seu assassino. Nada mais que isso. O que pegar a mais será cobrado dobrado, e isso é caro demais para se pagar. E coloca que sempre se seguiu este ensinamento há muitas gerações.

Com isso o pouco tempo que resta a Tonho é passado dentro de sua rotina sem que lhe seja oferecida qualquer outra opção, a não ser o conselho do pai que não se afastasse da casa e não saísse sozinho.

O menino coloca Tonho na balança e o induz a descontrair-se.

Aqui como um singelo símbolo do sonho, do descompromisso com regras que não entende e nem concorda, o desvincular-se, mesmo que por minutos, de uma realidade que não o agrada e nem o faz feliz. Uma ousadia na quebra da rotina.

Tonho aos poucos se entrega ao prazer singular de deixar-se levar. Mais uma vez a altura, o movimento, a liberdade implícita.

De repente Tonho cai. Representando sua pouca habilidade e familiaridade com o sonho. Tudo lhe era novo e exigia mais concentração do que estava pronto a dar.

Por segundos o grupo se assusta, queda-se num silencio assustado, temendo que Tonho tivesse partido.

De certa forma há aqui uma ambigüidade clara. O terror de perder o ente amado em um acidente, quando sabem que o perderão pela violência deliberada e certa do inimigo.

Quando Tonho se levanta, brincando e tocando o menino, há um momento de alivio, de retomada da rotina com um sentimento de quase euforia, por terem a certeza de que nada de ruim atingiu Tonho.

Tão inusitado o fato, que a alegria explode aos poucos contagiando a mãe e por fim ao pai. Mostrando-nos que ela em verdade sempre esteve ali, apenas estava reprimida e há tanto tempo que já nem se sabia mais se estava ou não por ali. Um traço de “subversão” à realidade.

O menino toma consciência deste fato, que passa naturalmente pela vida dos três outros membros da família. Por um segundo, ele age como se fosse o mais velho, sábio e vivido daquela família.

Quando o casal do circo se separa, há algo de definitivo que se estabelece na vida de Clara. Mesmo sendo induzida a não procurar pelo rapaz, pois já era condenado a morte, ela deixa claro que ela não estava condenada e isso fazia toda a diferença.

Entendemos então que há uma quebra de regras, há a resistência e a ação, sem que se possa interferir.

Clara vai em busca de Tonho, representando o sonho, a ousadia, a opção, a liberdade.

Menino conta ao irmão que lhe foi tirado o livro e que agora ele não consegue se lembrar da história, já que havia se esquecido das gravuras, que ele lia tão bem.

Insistia em tentar repetir a historia com as poucas lembranças que lhe sobraram, na intenção de não esquece-las de vez. Não desejava separar-se de seu sonho, das possibilidades que lhe acenaram...

O rapaz ouve e sensibiliza-se pelo que ocorreu ao menino, pois se recorda de como ele havia se identificado com a historia e ate lhe contado, partilhando com ele seu tesouro mais caro, as aventuras da seria, personagem que enfeitava e coloria a rotina do menino.

Numa noite o menino escuta um barulho e vê Clara se aproximando da casa. Tonho acorda e vai ter com ela. Menino senta-se na janela e passa a noite toda encantado, em sua inocência, observando a paisagem e alegrando-se pelo irmão.

Clara e Tonho se descobrem, se partilham, ambos experimentando uma emoção jamais sentida, exercendo a escolha, explorando suas possibilidades por conta e risco de cada um.

Esta experiência fala da impulsividade da alma do ser humano, e de como sua expressão se instala em sua cultura, independente de qualquer coisa. Busca sua expressão, busca a realização e se manifesta de forma natural.

Tonho e Clara ao conhecerem o amor como expressão da vontade, descobrem algo precioso, que aguça em ambos o desejo de viver.

É um marco sem dúvida na vida de ambos. E a experiência traz em si a semente da qualidade da cultura popular.

Propositadamente o diretor coloca a chuva neste momento. A chuva que nunca chegava. Que era sempre esperada, mas não era realidade na rotina do lugarejo. A chuva que representava a fertilidade, prosperidade, vida!

No momento em que ambos experimentam o amor, a chuva desaba, torrencial, abundante, como se a natureza deixasse escorrer naturalmente a plenitude da vida.

O menino na janela, assistindo sem ver, presencia a chuva e se contagia nesta qualidade pertinente ao ato de se entregar à vida. Uma harmonia que não só apazigua, mas sacia qualquer desejo da alma.

Mais tarde, ele assiste a partida de Clara, e ao perceber que o irmão não aparece, sem entender bem o que houve vai ao encontro do irmão.

Observa-o deitado, sem as vestes. Despojado da rotineira indumentária. Entregue ao sono manso que pretende desvendar mistérios no mundo dos sonhos.

Mesmo sendo tão criança, o menino tem a percepção vaga da felicidade do irmão. Observa a fita preta jogada no chão. O símbolo da condenação do irmão.

Abaixa-se e toma a tira. Coloca-a em seu próprio braço. Em sua inocência externa a vontade de livrar o irmão de um destino com o qual ele não concorda.

Sai pelo pasto, apenas entretendo-se com sua maior preocupação, lembrar-se da história, aproximar-se de sua heroina e viver a ilusão do inesperado.

Vai caminhando sem prestar atenção em nada, sem ter direção definida, apenas sabe que deseja relembrar a história. Confunde-se, tenta acostumar-se com o nome Pacu, que disseram ser dele, mas com o qual não se identifica.

Caminha insistindo em relembrar a história.

O rapaz que foi até o sitio para vingar a morte do irmão, nervoso, abalado com o inevitável destino que lhe perseguirá após realizar a vingança, acaba por perder os óculos, não tendo como focalizar bem o que via.

Esta alusão nos faz pensar na impossibilidade de se obter informações com clareza, quando se vive numa cultura estruturada rigidamente e que não nos permite escapes ou uma visão nítida do que nos propõe.

Vê o vulto que sai do celeiro, e o persegue sorrateiramente, em sua afobação e martírio, ate que em desespero cumpre o que dele se espera, sem ver, sem entender, sem compreender ou concordar. Apenas cumpre porque precisa ser cumprido.

O tiro ressoa no silencio da noite como um uivo pavoroso da morte.

Tonho desperta assustado e corre para fora buscando compreender o que se passa, já sabendo de antemão que seu vingador deveria estar presente.

Quando percebe o que houve e encontra o menino morto, ele o carrega para casa sem que possa alterar o que houve.

Os pais que se colocaram no pátio, já se aprontando para a perda de Tonho, se espantam ao reconhecerem ele com os meninos nos braços.

O terror do ocorrido quase enlouquece a mãe. O pai reage como sempre frente ao inevitável.

A morte do menino traduz a impossibilidade de do sonho vingar dentro de tamanha aridez. Existe, acontece e possui vida própria. Mas não tem fôlego para ir adiante.

Viver sem o sonho era para o menino a própria morte.

A retirada do irmão mais velho, expressa uma tomada de consciência, e a expressão da vontade, a escolha como forma de opção.

O pai, ao reagir dizendo que o mataria se ele se fosse, para que morresse com honra, deixa expressa de maneira crua o determinismo implícito na consciência popular, a aceitação cega e inquestionável dos valores e ordem impostos pela comunidade. A ausência de reação e recursos para faze-lo.

O comentário da mãe ao alertá-lo que nada mais há, que tudo se foi nos mostra a ambigüidade sua condição.

Percebe o vazio do conceito, da crença, da hora. E aceita como inevitável à perda do filho, mesmo que seja por outra forma.

Como ela mesma comenta, anteriormente: Qualquer vida é melhor do que a morte.

Ao se colocar frente ao mar, o jovem presta seu tributo ao irmão caçula, acatando as pistas que lhe ofereceu em sua inocente sabedoria intuitiva.e, olha com outros olhos a morada da seria que habitou os sonhos do menino.

Priscila de Loureiro Coelho

Priscila de Loureiro Coelho
Enviado por Priscila de Loureiro Coelho em 27/02/2005
Reeditado em 29/04/2005
Código do texto: T5286