Juventude Dogmática e Revolucionária

São risadas e gargalhadas, um molejo desengonçado no empurra- empurra da turma, paqueras e o som alto enquanto respondem mensagens instantâneas no “watz” ou no “face” na volta da escola. Lá vem os jovens, transbordando hormônios e feromônios, no pensamento mil ideias e a incerteza “do que vou ser quando crescer?” A juventude é espaçosa, bagunçada e esperançosa. A ambição de conquistar o mundo e adorar os “ídolos” da moda na busca por referências para seus estilos, gostos e opções. Os jovens são impetuosos, não admitem serem excluídos dos seus grupos sociais e farão de tudo para manter seu status quo. As aspirações juvenis são permeadas pelo contexto social e as relações humanas de nosso tempo. Os arranjos familiares são mais complexos, o acesso as informações é avassalador e constante, as mídias tecnológicas ocupam uma parte significativa de suas vidas e seus horizontes expandem do tamanho da Via Láctea. Existem possibilidades e alternativas para realizar seus objetivos pessoais e profissionais e de conhecer o mundo. Os que nasceram no alvorecer do segundo milênio percebem o encurtamento das distâncias com a globalização e contato multiétnico num planeta desigual que oscila entre a guerra e a paz.

Atualmente, existe uma paranoia coletiva pela juventude perpétua incentivada pela indústria de cosméticos. Um esquema promovido pelo “padrão de beleza” midiático que condicionam mulheres e homens a cirurgias plásticas em busca da poção mágica do Peter Pan. É unanimidade: Queremos a vitalidade dos jovens com a mentalidade da fase adulta! Ninguém quer cometer os mesmos erros. Creio que a virtude mais nobre da juventude é a rebeldia, a subversão e o poder de indignação. É o sonhar com um mundo melhor, valorizar o existir do momento, o aqui e agora, as paixões ardentes como se fossem eternas e imutáveis e perceber que os pais não são pessoas perfeitas e imaculadas. O descortinamento do dramático teatro da vida com suas responsabilidades e imposições, alegrias e frustrações. Em muitas sociedades tribais era comum algum ritual de passagem de acordo com a faixa etária, transformando o menino em guerreiro e caçador e a menina em artífice, oleira ou tecelã. Eram ritos pontuais que demonstravam que o jovem estava preparado para suas atribuições para a continuidade de uma determinada comunidade. Assim, as meninas e meninos sabiam que um novo ciclo se iniciava, o trabalho doméstico, a manutenção familiar e a participação comunitária. Se no feudalismo as crianças eram tratadas como adultos em nosso período histórico há algo inédito: o prolongamento da adolescência que atravessa as primeiras décadas da fase adulta. Um hibridismo de adultos – adolescentes em que a geração antecessora se nega e repudia o envelhecimento e não serve como referências para os mais jovens. Rompe-se os elos que mantinham a segurança da gurizada. Sempre espero algo inovador vindo das mentes juvenis e muitas vezes, fico pasmo diante das opiniões e discursos de uma juventude dogmática que, ao invés de contestar e criticar os modelos vigentes e formais, mantem uma postura conservadora e sectária nos aspectos sociais, culturais e religiosos. É decretado o fim da História quando a chama revolucionária dos jovens se apagar.

Me entristece ver uma parcela da juventude vitimizada pela sociedade de consumo deixando se esvair as identidades e personalidades e não arranjam motivos para seu engajamento político. A juventude do movimento estudantil que eclodiu na década de 60, em especial o ano de 1968 - em que as labaredas revolucionárias se alastraram pelos continentes - deixaram valiosas lições. Os jovens militantes políticos que sofreram com a repressão do regime militar ou lutaram pelos direitos civis durante o processo de redemocratização nos ensinaram a acreditar num outro Brasil. Em períodos de crises, a juventude mostrava um caminho a seguir, acreditava nos sonhos e valorizava a utopia da simplicidade como nos aponta os ensinamentos do livro O Pequeno Príncipe. A juventude necessita de seus espaços independentes e alternativos para sua livre expressão. Julgamos a alienação pela cultura de massa, mas o que falta é instrução e orientação onde seus talentos, habilidades e rebeldia sejam canalizados em prol dos movimentos artísticos, da prática de esportes, ações solidárias e de preservação do meio ambiente. Mesmo incompreendidos em seus penteados, músicas e vestimentas a juventude esconde a responsabilidade de construir o mundo que querem viver. Somos obrigados a admitir que necessitamos do brilho dos olhos e do colorido dos jovens para vislumbrarmos um futuro melhor.

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 14/09/2015
Reeditado em 14/09/2015
Código do texto: T5381891
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