Encontro na madrugada

Saio madrugada afora.

Nem sei como estou agora

Sou um misto de paixão e loucura.

Procuro alguém pra desabafar.

Preciso conversar.

Entro no bar.

Poucas pessoas, a música toca na máquina.

Músicas que antes nunca ouvira.

Nesse momento, por mais que resista, falam pra mim.

Todos seus acordes encontram-se na minha solidão.

Faço o que nunca ousei fazer.

Peço uma bebida forte.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto, não consigo controlar, nem quero.

Acho gostoso esse contato comigo.

Minhas lágrimas são o meu rio solitário.

Alguém se aproxima.

Pede um cigarro.

Não fumo mais, faz tempo.

Mas compro dois paieiros (como chamam aqui).

Dou um pro companheiro.

Acendo um também.

Não suporto

Jogo fora.

Começamos um diálogo.

Apenas com as músicas.

Conversamos assim.

Eu colocava uma, ele outra.

Passamos a noite assim.

Bebendo, ouvindo as músicas que nunca ouvíramos, chorando.

Amanheceu.

Demos um abraço.

Partimos.

Cada um com a sua solidão.

Belo Horizonte-abril/1992