“...QUANDO SE VÊ, TERMINOU O ANO”

“Quando se vê já são seis horas [...] quando se vê já é natal. Quando se vê terminou o ano [...] quando se vê já passaram cinquenta anos’.

Mario Quintana

Em 28 horas será janeiro novamente, e mais um ano tem início.

Quando me entendi por gente, certa vez, num final de tarde, olhei para o céu cheio de pequenas nuvens muito altas e achei-o tão bonito e disse: “tudo isto é para mim”. Eu tinha pouco mais que cinco anos de idade. Os anos foram passando e tive minha primeira experiência de perda. A minha tia-avó, cuja lembrança é apenas de sua voz chamando-me para ouvir mais uma história, e sempre ao entardecer. Acho que por esta razão gosto tanto do entardecer. Aliás, sempre gostei de ver o sol às 6 da manhã e às 4 da tarde.

Lembro-me dela, (Tia-avó Judite), chegando lá em casa cedinho, chamando por minha mãe, perguntando se já havia tomado café, ao que minha mãe respondia que não, e convidando-a a tomarem café juntas. Ela trazia sempre o seu pãozinho embrulhado. Eu a vi adoecer e morrer. Ah quanta saudade!

Anos depois foi a vez do meu avô, eu contava com 11 anos. Dessa forma, fui perdendo meus referenciais. Mas, os últimos foram meus pais e estas perdas doeram mais.

E, novamente Quintana escreve que quando viu era natal. Quando eu dei por mim, era natal, cheio de interrogações por causa da crise, e quando vi, o ano terminou e não deixou saudade.

O relógio da vida vai marcando horas no compasso do tic-tac, marcando passagens e deixando saudades. Quero viver, quero ter forças para vencer, deixar vir à tona a minha luz interior, minha luz própria, tantas vezes quase apagadas e, apesar disso, ela teima em querer brilhar ainda que tênue.

O que o ano de 2016 tem para nós? Não sei, é uma incógnita! mas muito do que se verá e sentirá foram tecidos no tear de 2015; quem sabe, em anos anteriores. E agora, releio minhas metas para 2015 e quase nada cumpri. Ah! Mas consegui iniciar minha reeducação alimentar, não pode vaidade, mas por necessidade. Não para agradar e satisfazer a opinião alheia, mas pelo meu desejo de viver bem, e se possível por longos anos até ficar bem velhinha.

Pensando bem, o quão velho alguém pode ser para desistir de viver? Lembro-me de Rubem Alves1 citando Cecilia Meireles que escrevia, “o mundo é tão bonito. Pena que tenho que partir! Os meus pais partiram na casa os oitenta anos. Eu achei pouco, queria mais, muito mais. Que pena, eles tiveram que partir.

O último dia do ano traz expectativas, medo do que poderá vir-a-ser. Contudo, há também esperanças e possibilidade de fazer tudo de novo e melhor.

E quando percebi tinha chegado quase aos 60. Agora corro contra o tempo. Resta-me procurar viver com sabedoria, buscar qualidade de vida. Percebi que ainda há tempo de fazer a diferença antes que venha a dizer: “o mundo é tão bonito. Pena que eu tenho que partir.

Um 2016 cheio de boas expectativas.

Que seja abençoado e dirigido pelo Senhor!

1. ALVES, Rubem. Pimenta: para provocar um incêndio não é preciso fogo. 2ª ed. São Paulo: Planeta, 2014.