VIDA REAL

Quando a gente se priva em demasia, fecha os olhos e prende a voz; tampa os tímpanos e priva todos os sentidos e sensações que a vida oferece, logicamente com os seus efeitos colaterais... mas que não fazem deixar de valer a pena viver. Privacidade além da medida faz perder a magia dos valores que circulam pra lá desse medo insano e da solidão que a gente afaga por auto paixão doentia.

Com o tempo, a gente se perde nessa caverna dos estados mais ocos das entranhas vencidas pela treva. Das estranhas verdades tão só da gente, que não há quem possa entender e penetrar. Só a sensação do nada ou do vazio. Esse abismo que habita o chão e se desfaz aos pés descalços de qualquer vontade que não seja dormir pra tudo. Dormir pra sempre. Dormir pra nunca mais.

Mas quando a gente percebe que ninguém nasceu pra ostra ou apenas para o de vez em quando de alguma tentativa pontual de fugir da gente mesmo entre lugares e pessoas estranhas, outro cenário se desenha em derredor. Outra mente se apossa da cabeça e os sentidos renovados vêm retomar o vazio substituto do coração. É aí que se volta para o mundo e se reconcilia com a vida.

No ato em que a gente se lança e se publica, só estabelecendo critérios razoáveis, livres de qualquer patologia, o sentido de quem se é toma corpo. O próprio corpo se assume corpo e a gente já não é surreal. Torna-se alguém com invólucro para guardar a essência não mais espalhada no caos do cosmo. É na rotina da vida real que a gente voa e vê que tudo vale a pena... e o mundo é bom.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 17/05/2016
Código do texto: T5638067
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