INSTANTE DE LOUCURA: ESSA OLIMPÍADA SERÁ INCRÍVEL!

Nesta tarde de domingo sonâmbulo, que eu deveria gastar com meus filhos, estudando ou escrevendo, estava zapeando preguiçoso pela TV. Parei na exibição de uma etapa do campeonato mundial de ginástica olímpica em SP. Antes de continuar devo dizer que sou um estudioso da fascinação que este esporte exerce nas pessoas. Vendo o sempre incrível interesse que as pessoas tem em ver uma competição dele e de que ninguém quase acompanha a modalidade, cheguei a uma conclusão sobre este fenômeno. Acredito que se deve a imaginação humana, que fica se deliciando com as possibilidades abertas pelo que está vendo o outro(a) fazer. Mas não se dispõe nem em sonho a fazer o mesmo! Para ilustrar o meu ponto proponho o desafio: Que homem não tem, mesmo não concordando com nada que ele faz, inveja do Putin? Tirou seu país do buraco, mandará nele provavelmente até o fim da vida, vive humilhando os EUA e tem um caso com uma ex ginasta olímpica. Que mulher não escutava uma entrevista do Diego Hipólito com uma ponta de tristeza: "Que pena. Tão lindo, tão elástico, mas essa voz... Que desperdício."

Mas voltando a vaca fria. Estou ali voltado aos meus estudos. Mas paro depois da premiação de uma ginasta brasileira. Não vi sua apresentação. Espero as lágrimas tradicionais (a porcaria do esporte requer pelo menos dez horas de treino diário, desde a tenra infância. Quem pratica tem todo direito de se debulhar). Ela resiste firme até que a platéia continua a cantar o hino nacional após o tempo tradicional dado à execução. Ela e eu desabamos. Desisto de pensar o que se passa na cabeça dela e apenas sinto o momento. Antevejo um novo horizonte para nossa nação, que será simbolizado por vários momentos de vitória nesta edição dos jogos olímpicos. Estou delirando?

Pode ser... Mas não será ("seria" seria o adequado, mas eu acredito!) a primeira vez que o desempenho no esporte se confunde com a História. Dou o exemplo maior da Alemanha. Sua primeira Copa do Mundo de Futebol foi em 1954. O chamado Milagre de Berna. Simbolizou a saída da nação do desastre da derrota na Segunda Guerra. O segundo título veio em 74, uma verdadeira redenção após o vexame das Olimpíadas de Munique e que se casa no imaginário do povo alemão com a volta da nação como uma protagonista mundial. O terceiro, em 90, um ano depois da reunificação alemã e o último pode (e é) ser visto como o símbolo da volta da Grande Alemanha, a líder da nova Europa. Mudando de país, o que dizer da Copa de Rugby de 92 para a África do Sul, quando brancos e negros torceram juntos e viram sua seleção ser campeã sobre até então imbatível Nova Zelândia? Segundo Mandela, o dia mais feliz de sua vida...

Mas isto é para os outros países, podem dizer. Discordo. O Maracanaço de 50 pode ser visto como o símbolo da morte dos sonhos brasileiros de ser protagonista mundial do Pós Guerra (sim, esta coisa nossa de "Agora vai!" é recorrente). Mas as conquistas de 58 e 62 se casam com a Bossa-Nova, a modernização de Kubistchek, a fundação de Brasília. O desastre de 66 pode ser visto (e foi) como a morte desse sonho. A vitória de 70 veio no meio do Milagre Econômico. Sim, ele existiu. Já crescemos mais que a China. Os antigos contam que em São Paulo uma pessoa sem estudos deixava um emprego de manhã e no final da tarde tinha duas ou três propostas para pensar. O fim desse espírito (o "Agora vaí!") pode ser datado junto com a derrota de 74. A vitória de 94 com o Plano Real, a de 2002 com a chegada do PT ao poder. A humilhação dos 7 a 1 será visto como o início da derrocada deste.

Nas lágrimas daquela menina e nas minhas tive uma "visão" de um novo Brasil. Onde nossa redenção será simbolizada não apenas por um esporte...

Aristoteles da Silva
Enviado por Aristoteles da Silva em 22/05/2016
Reeditado em 22/05/2016
Código do texto: T5643427
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