Palavras soltas...

Custa-me entender a enxurrada de palavras que se desperdiça nos aglomerados humanos. Não há bem mais precioso tão mal empregado, do que quando atiradas ao vento sem serventia alguma.

É certo que economizar palavras pode não ser acúmulo de riquezas, já que com elas não se compram bens, no entanto, é certo que palavras bem digeridas geram benefícios muito além do espírito, refletindo visivelmente no corpo físico.

É sabido porém que engolir palavras tem efeitos quase tão letais que os piores venenos, e quão difícil é ficar entalado com elas...

O quanto teremos consumido de palavras ao longo de uma vida, e o quanto mais poderíamos ter consumido? No mesmo passo quanto as perdemos usando em conversas inúteis, jogando no lixo um tempo precioso que ganharíamos em silêncio; somando com elas conhecimento.

Nasce e morre o homem com seus anseios e incertezas num mundo de tantas palavras das quais nem todos chegam ser sabedores da imensidão que elas representam.

Ganham alguns e perde a maioria por não saber recolher em si as palavras certas, ou por não terem as melhores da sua linhagem, ou pela simples falta de oportunidade delas se aproximarem ... Seria desigualdade? Ou falta de expressão de cada um que não encontra um assento nesse mundo confuso de tantas falas?

Ah as palavras! Essas meninas barulhentas que trago incrustadas na alma, mas que não me levam a lugar algum. São parte de mim em sonhos, em pensamentos e em cada gesto e que mesmo em silêncio manifestam-se, intimamente prontas, para se jogarem no mundo que me rodeia.

Mas para quê, se nem sempre as palavras que em mim anseiam rogarem, cantarem ou deslizarem pelas linhas querem ser ouvidas ou lidas.

A língua me trai quando sufocada, seja por sentimentos, raiva ou angústia; e minha boca vomita tal qual excremento, dezenas delas que deveriam ser esquecidas, apagadas sem deixarem vestígio.

Por outras vezes elas roubam a cena voando acima dos meus desejos, forrando de estrelas o mundo tosco em que vivo, pobres e belas palavras que jorram destemidas encantando o mundo sépia que abriga meu corpo triste.

Todo homem deveria beber palavras, aprender delas a essência e por fim morrer saciado, para que assim quando estivesse para ser entregue a terra deixasse como herança a sabedoria existencial para a sua descendência.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 14/07/2007
Código do texto: T565183
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