Divagando sobre Nietzche e Durkhein a partir de Einstein

"Quanto mais eu lia, mais confuso eu era pela ordem do universo e pela desordem da mente humana, pelos cientistas que não concordaram sobre o como, o quando, ou o porquê da criação.

Então, um dia esse aluno me trouxe ‘Crítica da Razão Pura, de Kant. Lendo Kant, comecei a suspeitar de tudo o que me foi ensinado. Eu já não acreditava no Deus conhecido da Bíblia, mas sim no Deus misterioso expresso na natureza.

As leis básicas do universo são simples, mas porque nossos sentidos são limitados, não podemos compreende-las. Há um padrão na criação.

Se olharmos para uma árvore lá fora com raízes buscando pela água por debaixo do pavimento, ou uma flor que exala o seu cheiro doce às abelhas polinizadoras, ou até mesmo nós mesmos e as forças interiores que nos impulsionam a agir, podemos ver que todos nós dançamos uma música misteriosa, e o flautista que toca a melodia de uma distância, com qualquer nome que queiramos dar-lhe: Força Criativa ou Deus, escapa a todo o conhecimento dos livros."

Einstein e o poeta: Em Busca do Homem Cósmico (1983). A partir de uma série de reuniões que William Hermanns teve com Einstein em 1930, 1943, 1948, e 1954.

Começo este ensaio a partir do que Einstein diz: "Eu já não acreditava no Deus conhecido da Bíblia, mas sim, no Deus misterioso expresso na natureza." Acredito que foi justamente esse "Deus" bíblico que Nietzsche 'matou' ao afirmar, "Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos!", em seu livro Gaia Ciência para depois, então, surgir o conceito do 'super-homem', em seu livro Assim Falou Zaratustra.

O super-homem nada mais é que um homem futuro, superior aos códigos morais de sua época e completamente imune à dicotomia entre bem e mal, certo e errado, céu e inferno, ditados por uma Igreja (Católica) perversa, cega, desumana e assassina, através de sua "Santa Inquisição".

Este Deus moralista, perverso e revanchista do Antigo Testamento, criado à imagem e semelhança do Homem, e que, baseado na filosofia de Platão e de Aristóteles, dava a entender que o mundo em que vivemos é "aparente", cópia do mundo "real", logo, mais importante, todavia, acessível apenas após a morte. Para Nietzsche, tal pensamento nos impedia de aproveitar a vida, visando um objetivo imaginário. Pois que, para ele, há apenas um mundo, e isto nos obriga a rever valores e tudo aquilo que entendemos como Humano, demasiado humano.

Abro aqui um parêntesis para discordar, peremptoriamente de que Nietzsche era ateu ou, pior ainda, um anticristo, como muitos o pintam, pois que era mortal e não uma personagem escatológica, fadado a dominar o mundo nos dias que "antecedem o retorno do Cristo".

Configura-me tarefa árdua por demais acreditar que o homem que escreveu "Oração ao Deus Desconhecido" possa ser ateu. Concordo com Leonardo Boff quando afirma que Nietzsche refere-se, tão somente, ao "Deus da metafísica e das representações religiosas e culturais, não ao Deus vivo que é imortal", assim como são nossos espíritos, filhos legítimos que somos da Criação, ou Criador, que seja. É Deus onisciente porque é o Todo, É onipresente porque, sendo o Todo, está presente em todo lugar e a qualquer tempo. É onipotente porque, ainda sendo o Todo, detém todo o poder. Em resumo, Deus é aquele que É, simplesmente.

Passo a passo, a física quântica, a meu ver, vem aos poucos corroborando o pensamento Nietzchniano de um Todo único, universalista, onde o Homem é tanto parte deste Universo como também o contém. Não está o homem separado do Todo Universal. Quando ferimos o outro estamos ferindo a nós mesmos. Tal qual nos apregoa a terceira lei de Newton que diz que "a toda ação corresponde uma reação, de mesmo módulo, mesma direção e de sentidos opostos".

Somos centelhas divinas do Criador - ou da Criação - se assim preferir. Como diz a Bíblia, fomos criados à Sua imagem e Semelhança. Ora, esta imagem e semelhança não pode se referir ao corpo carnal, ou este Deus seria uma aberração da Natureza, de tez branca, negra e amarela, simultaneamente, por exemplo. Penso que não se refere nem mesmo ao espírito de cada um, corporificado à semelhança dos nossos corpos carnais, mas sim, a uma única e universal Consciência.

Tomando por empréstimo o conceito de Consciência Coletiva, de Émile Durkhein, amplifico seu conceito do individual para tudo o que existe, como a força coletiva exercida sobre o Todo, através de atos, pensamentos ou mesmo de eventuais acidentes, tanto coletivos quanto individuais, que faz com que o todo ajude a formar, recriar, modificar ou sedimentar a Natureza, dando-nos a ilusão que o Universo tem vida própria, mas que é, tão somente, produto desta força coercitiva emanada, simultaneamente ou não, por todos nós.

Concluindo, creio que a pergunta deva ser: - O que é Deus? Desta forma, talvez, Religião e Ciência possam, um dia, encontrar a "Paz".