De Bolsonaro a Brasil Paralelo

Polarizações e dualismos tendem a ser simplificações grosseiras da realidade. Mas todo relativismo generalizante é uma patologia intelectual. Logo, existem sim polos contrários, e saber distinguí-los é sinal de saúde espiritual. Sendo assim, não é possível deixar de reconhecer que o Brasil e o mundo correm perigo diante do crescimento de grupos que representam o ódio e a violência. Ninguém pode pedir "respeite meu voto em Bolsonaro". Não, não respeito. Assim como não respeito pensamentos nazistas, racistas, fascistas, de xenofobia, homofobia etc. Não respeito por que não são dignos de respeito. Mas não caio na armadilha e na contradição. Não odeio ninguém por isso, mas tenho verdadeira repugnância pelo conteúdo de tais ideias e atitudes. Não odeio. Tenho pena? Seria arrogante de minha parte... Tenho medo? Esse medo seria covardia? Digamos que é um medo cívico. Não tenho medo pessoal. Meu medo é cidadão. É uma tristeza, melhor dizendo. Tristeza de ver tanta gente jovem seguindo, sem reflexão e crítica, alguém que comprovadamente se diz a favor da tortura, de fechar o congresso, de dar um golpe militar, de matar milhares de pessoas. Está gravado! Não adianta falar que é invenção. Mas essa tristeza cívica não pode ser um pessimismo que abate. Como disse Stefan Zweig em "A unidade espiritual do mundo", o fascismo cresce em toda parte, mas "ainda assim, creio que não podemos fraquejar e nos entregar ao pessimismo. Pois o pessimismo é um elemento destruidor. Enfraquece as energias porque não é criador. Não nos é permitido duvidar da força da razão só porque a época atual age contra as suas leis". Temos que seguir firmes e repudiar o ódio, sem relativismos paralisantes. Existem falsas polarizações, mas também existem falsos dilemas e falsos relativismos. Mas enquento Bolsonaro representa aquele tipo de mal que é evidente e escancarado, enquanto assume publicamente seu desejo de "matar uns 30 mil e não só uns 400", existem outras forças mais calculistas e ardilosas, posto que mais inteligentes, menos toscas. É o caso do Brasil Paralelo, e sua tentativa de reescrever a história brasileira segundo o cânone conservador. O Brasil Paralelo e sua Propaganda-História-Paralela é muito mais perigoso, portanto. Seu calculismo e ardilosidade, disfarçados em vapores intelectuais, pode arrebater os espíritos menos preparados, menos críticos, fascinados por uma boa produção e por ideias radicais presentes nas entrelinhas. O que dizer? Seres pensantes do mundo, uni-vos! Sejam fortes os virtuosos. Os pacifistas e humanistas de todos os tempos, evitando a luta degradante, sempre perderam nove entre dez. Mas existe aquela uma luta que é a boa luta - que deve ser enfrentada, e vencida, custe o que custar, e o que custa é a saúde, a paz e a segurança dos povos. Perdemos nove. Mas agora só nos resta vencer. A bestialidade não pode dominar e enfaixar o mundo em suas mãos. O ódio, o calculismo e a ardilosdidade não podem avançar. Já não há tempo para meias palavras. O tempo é urgente e a boa luta está sendo travada.