Futuro da humanidade

Logo eu, tão pessimista nas questões particulares, tenho sido visto como otimista, e mais até, entusiasta do futuro da humanidade.

Ora, eu realmente tenho algumas boas perspectivas para nós, desde que não nos matemos antes. Considero que a humanidade efetivamente evoluiu um bocado desde que deixou as selvas da África, e mais, que continua evoluindo a cada geração. Mas isso não significa que nasçamos melhores: ainda somos os mesmos e, como nossos pais, precisamos lutar contra os mesmos instintos de violência e egoísmo. Contudo, cada geração que nasce tem acesso a um repertório maior de civilização, de modo que, a cada geração, se torna mais inaceitável que alguém opte pela violência e pelo egoísmo.

Há dois séculos era tolerável e, ainda pior, natural que os negros fossem escravizados. Hoje, a despeito de um renitente racismo e de formas mais sutis de escravidão, já não há país, governo ou sociedade que admita a escravidão pela cor. Como esse, há outros exemplos a sugerir que a trajetória da humanidade leva à evolução do pensamento. Pode levar tempo, muito tempo (séculos, milênios!), mas, quando uma ideia toma forma e se enraíza no pensamento coletivo, não há força capaz de resistir a ela. É por isso que acredito que todas as forças retrógradas estão condenadas ao fracasso: estamos em um inevitável caminho em direção à liberdade.

Um dia, depois de milênios de dominação, floresceu a ideia de que as mulheres deveriam ter os mesmos direitos que os homens. A princípio, essa ideia ficou restrita a alguns grupos de resistência, bem localizados. Com o tempo essa ideia foi crescendo e ganhando mais adeptos. Hoje, já se pode dizer que ela quebra o pensamento homogêneo, de tal forma que o homem machista já precisa se desdobrar para disfarçar o próprio machismo, antes aceito como natural. Ao próprio machista, o machismo já não é algo a ser confessado. Não tarda o dia, nessa minha perspectiva, em que a ideia de igualdade entre os gêneros será estabelecida e aceita coletivamente, sem maiores traumas.

O mesmo vale para a questão dos homossexuais, que tanto tem dividido grupos sociais na atualidade. Tenho uma má notícia para os conservadores: na humanidade do futuro, os homossexuais já terão sido incluídos na sociedade e serão aceitos com naturalidade. Não nos deixemos enganar pelas vitórias momentâneas das forças que querem frear a marcha da humanidade: as sementes já criaram raízes e não podem mais ser contidas. Não será, talvez, na nossa geração, talvez leve muito tempo, as ideias são aceitas aos poucos, lentamente, até o dia em que ficam bem assentes e se tornam irrevogáveis.

Consigo visualizar dias como esses, mas vejo ainda coisas além, ideias cuja hora ainda não chegou, mas que parecem caminhos a se seguir conforme elevarmos o nosso grau de consciência. Será quando, por exemplo, não precisaremos mais de um Estado ou de um sistema de leis. Teremos então chegado à conclusão de que a lei é uma forma de violência, uma força a impedir que as pessoas façam coisas e a obrigar que façam outras, uma ferramenta de controle e coerção: e, acreditem, viveremos então, e viveremos bem, sem ela. Mas isso ainda está muito longe de acontecer. O que parece mais próximo é a perda da noção de “país”, uma vez que a humanidade caminha para uma grande aldeia global, na qual fronteiras perderão o sentido.

Pode ser que tudo isso tenha um bom tanto de otimismo, mas, acreditem, considero até bastante pragmático. Agora é torcer para que o maluco da Coreia e o maluco dos Estados Unidos não botem tudo a perder.

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 05/12/2017
Reeditado em 05/12/2017
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