No início do sono se acomodavam os pensamentos, saciada a sede,
as flores vermelhas, quanta dedicação, mas não precisava delas não.
Via a sombra de um rosto na única flor viva que restara no vaso
entre tantas que murcharam em meio a sua antiga desilusão,
Seria costume pensar no inexistente antes de dormir, de repente
a vida, as tolas recordações do nada, ia ficando longe.
Só não esquecera de lembrar de olhos fechados, e calma,
das flores silvestres coloridas, espalhadas lá fora
alegrando o caminho, até os seus, e de quem as notasse,
era como lembrar um amor silencioso esquecido, efeito do excesso
de orgulho, mas as flores traduzia harmonia com as páginas em branco
à sua cabeceira. Nunca gostara tanto do silêncio como agora
e da sua falta de inspiração. Porque ouvir qualquer melodia,
o coração agora também perdera o assustado pulsar, a voz,
o silêncio era um encontro perfeito com o jeito diferente de ser.
Porque as pessoas incomodavam de um jeito tão absurdo.
Não falar de amor lhe causava um alívio, ainda mais sem motivo
e nem por quem, talvez voltasse a falar, quanto à sentir
seria completa loucura,  precisava esquecer de si.
Era tarde, precisava dormir, talvez num outro amanhecer,
novo florir no campo, talvez ao colher os seus primeiros resultados
da pequena plantação; Plantou também amor próprio, nasceria.
Sem cansaço, tão bom ter uma nova ocupação.
Quanto aos poemas, agora não, é que os poemas da noite
sempre exagerados, angustiados, numa visão de mundo sem solução,
essa noite não... Não queria escrever, não daria mais asas
à sua alma triste. A luz apagada, mais nítida a claridade da lua
com gosto de melancolia, tão longa a noite.
A porta permaneceu aberta à esperar o que pudesse causar medo,
o sono intenso apagou os sonhos, reparou todo engano,
já não se atreveria à escrever sobre nada que desagradasse
uma alma sã, desprovida de qualquer emoção,
só precisava dormir sentindo falta dum pensamento desconexo.


_ Liduina do Nascimento


 
Enviado por Liduina do Nascimento em 04/01/2018
Código do texto: T6216953
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