O quarto

É no escuro que todos os meus pesadelos se escondem... Atrás daquele velho armário, a sombra que me perturba e deixa-me acordado, espero ela desaparecer, até que pego no sono e esqueço-a, mas ela está lá, para sempre estará. O tom perturbador do quarto quando os raios solares adentram por entre as frestas da janela, o mundo lentamente começa a despertar, o barulho, os gemidos dos homens e dos bichos que mais uma vez, na calamidade em que estão envoltos, lutam em meio aos seus excrementos e seus corpos sujos, lutam para manter-se um dia a mais nessa horrível penúria.

O quarto, bagunçado empoeirado e miserável, cheio de teias de aranhas e mofo pelas paredes e teto. O espelho, nada refletia. Essa ausência de reflexo me incomodava, via um triste e frio vazio, passava dias em frente ao espelho na esperança de enxergar-me, porém, todas as tentativas foram falhas. As fotos, várias fotos estampavam as paredes, momentos, figuras humanas, aquilo eram pessoas. Pessoas, que posavam distraídas para aquelas fotografias, não havia sorrisos, fotos sem sorrisos desafiavam a lógica.

Escureceu novamente, naquelas noites até os mais corajosos dos animais se escondiam em suas tocas e esperavam pela luz, a escuridão despertava terror, pânico, era quando a negrura das trevas adentravam o quarto, meu corpo congelava. Aquelas noites frias como o inverno mais intenso, o chão estava imerso de uma água suja, lodo e um cheio forte que deixa-me tonto, a podridão consumia-me por dentro e por fora. O pior ainda estava por vir, o choro vinha cada vez mais forte em minha direção, os fantasmas que outrora eu ignorava estavam adentrando o meu consciente, de trás daquele velho armário de madeira de carvalho estava o meu maior pesadelo...

Ele estava vindo em minha direção, o garotinho chorava, eu sentia todas as suas dores, suas lágrimas eram as minhas. Chorava, pois desde pequeno não foi igual as outras crianças, chorava pois não tinha amigos, chorava pois a tristeza nasceu junto com ele. Aquele choro despertava em mim uma imensa angústia, meu peito doía, como se o meu coração estivesse sendo apertado. Tudo o que eu queria fazer era olhar para o garotinho e dizer que tudo iria ficar bem, foi quando olhei para o espelho e pela primeira vez consegui enxergar o meu reflexo. Naquele momento fiquei paralisado, uma lágrima pesada e fria caiu dos meus olhos, dirigi meu olhar novamente para o garotinho, não tinha mais nada para falar. Quem eu quero enganar? No final nada vai ficar bem...