O ser humano cria, inventa, fantasia, para justificar o irreal. Além de sofrer por tudo o que desconhece, pelo fato de ter construído um mundo novo e inatingível para dar significado a sua própria vida. O ser humano vive pela paixão daquilo que lhe é desconhecido. Por vezes, até parece que lhe é conhecido de tanto que afirma, com propriedade, sobre aquilo que desconhece. Por que não encarar a realidade como ela é, sem criar, sem inventar, sem justificar o injustificável. Ontem, eu fui a um velório. Já fazia alguns anos que eu não me encontrava num local onde a despedida fosse assim tão radical. A falecida era um afeto meu. Ela era uma pessoa muito carinhosa, devota de sua fé e membro de uma família maravilhosa. Daquelas famílias que se sente vontade de fazer parte dela. Há mais ou menos dois anos, nos encontramos num momento feliz de nossas vidas. Eu celebrava minha formação acadêmica em pedagogia e ela celebrava a formação de sua  filha, minha colega de classe. Ao me ver, fez um convite para que eu participasse do almoço de celebração num mesmo restaurante que havíamos escolhido, junto de sua família. Eu aceitei, com muito prazer, seu convite. Foram momentos muito agradáveis. Ficou marcada em mim, aquela boa impressão de seu carinho. Nos encontramos outras vezes. Eu, também, fui à sua casa, duas vezes, no período em que se encontrava doente. Ela estava lutando pela vida, contra um câncer em estágio avançado. A última vez que a vi, foi no mês de novembro de 2017, quando ela me sorria por estar se sentindo melhor e mais confiante. Tão linda e serena. Sempre demonstrando bondade em suas feições.
Ontem foi o dia de seu velório e de seu enterro. Eu me impressionei em vê-la tão serena, naquele caixão tão lindo. Um caixão escolhido com muito esmero, pois a representava. Era um caixão onde a fé estava simbolizada em sua decoração. O velório estava repleto de pessoas que a amavam; que sentiam simpatia por ela, ou pela sua amada família. As autoridades da pequena cidade, também fizeram parte do velório e prestaram homenagem àquela que se despediu da vida e que mesmo sem saber dava a oportunidade para que lhes demonstrassem seus sentimentos. Eu fiquei muito emocionada e ao mesmo tempo muito triste de ver uma jovem senhora, tão cheia de vida e tão cheia de sonhos, deitada contra sua  vontade, naquele belo caixão. Fiquei pensando – volta e meia, eu penso – sobre a vida e sobre a morte - na importância daquele lindo caixão que passou a ser seu abrigo. Eu jamais havia dado importância para um caixão de defunto, anteriormente. Todavia, depois de ver tão belo caixão pensei que, realmente, é um excelente investimento, pois torna a despedida mais suave, pois homenagear aqueles que nos são preciosos, é algo bonito de se ver.
Eu compreendo que a terra será jogada sobre aquele caixão e que eventualmente ele apodrecerá junto com aquele corpo que tem a função de proteger. 
Dessa maneira se finda a vida. Muito provavelmente, com o tempo restará somente o caixão e a ossada.
Se o caixão não for de boa qualidade, somente as ossadas restarão. 
A vida é passagem. Se nasce porquê se foi desejado, ou simplesmente por algum descuido. Se morre porquê não há outra opção. Quanto mais eu vou aprendendo sobre a vida, mais eu vou entendendo que Se nasce e se morre. Ponto.
Descobri também que há como mudar a forma de morrer, tornando-a mais significativa.  Optando por ser enterrado numa cápsula orgânica e ir se transformando em adubo. Contudo, eu creio que para o homem evoluir a tal ponto, ainda vai demorar. É preciso primeiro desacreditar e (re) acreditar...
Mari S Alexandre
Enviado por Mari S Alexandre em 19/01/2018
Reeditado em 19/01/2018
Código do texto: T6230608
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