Sonho com espíritos

Essa tentativa de entender os mistérios da vida me absorve de tal maneira que não espanta que de vez em quando eu tenha alguns curiosos sonhos relacionados a isso. Na última noite, já era de manhãzinha, sonhei que conversava com uma amiga minha, que é espírita, a respeito de aspectos da doutrina. Mesmo em sonho, eu continuo sendo chato, de modo que apontava alguma contradição naquilo que a amiga me falava a respeito da sua crença. Mas então passei a ver espíritos – ou, pelo menos, coisas que eu assim julgava.

Via rostos por toda parte e me enchi de medo. Comecei a falar com Deus para que me livrasse daquelas experiências. Encontrei um rosto debaixo da minha cama e dei um grito. Esse grito acordou os meus pais, que no sonho ainda moravam juntos, e nós estávamos em minha cidade natal. Na verdade, o grito acordou a mim mesmo, que dentro do sonho julguei que até então estivera sonhando – é o que se pode chamar de “sonho metalinguístico”.

Olhei embaixo da cama e encontrei apenas um cobertor ou um lençol. Mas de repente tornei a ver os espíritos. E percebi uma coisa ainda mais surpreendente, isto é, o fato de eu ter superpoderes. Ah, eu dominava todos os segredos da matéria. A um movimento da minha mão, a luz se acendia ou apagava. Fiz o teste com vários objetos, consegui fazer a cortina balançar para um lado e para o outro. Não havia dúvida que aquilo vinha de mim.

Fui então contar aos meus pais, que ainda estavam dentro do seu quarto. E lá resolvi fazer mais uma mostra dos meus poderes. Desliguei a televisão sem me aproximar dela, fiz com que os dois olhassem para mim e então, com um movimento da mão, religuei a TV.

Eles tentaram entender o que era aquilo, e eu atribuí tudo à minha sensibilidade. Mas também expliquei que, de certo, aquilo não havia me sido dado para simples brincadeira.

Um pouco antes daquilo o aparelho de som do meu sonho estava tocando “Spirits in the material world”, do Police – bem se vê que o meu cérebro gosta de caprichar nos detalhes.

Em seguida recebi uma comunicação através de telepatia, de alguém que podia ser meu mentor ou algo assim. Avisava que “Fulana” estava li, e é uma pena que eu não me lembre do nome dela, que chegou a ser dado. Fulana era um espírito, isso eu sabia. Era um espírito que estava em minha casa e eu imaginei que ela tivesse vivido ali quando era viva.

Nesse ponto eu já não estava mais com medo nenhum e comecei a conversar com ela, sem que a visse. Tinha a impressão de que aquela mulher havia se matado, ela mostrava mesmo alguma aflição.

Perguntei onde ela morava. Ela deu o meu endereço, mas o endereço onde eu moro hoje, e não o endereço onde nós estávamos no sonho. E eu quis então confirmar: “Ah, ali no condomínio tal?”. Mas a mulher disse que não, pareceu não entender a minha pergunta.

Bem, imaginei, de certo ela havia vivido ali antes de o condomínio ter sido construído. Perguntei então em que ano ela havia nascido. “1922”, ela respondeu. Eu imaginei que aquela mulher não sabia que já estávamos em 2018 e queria saber em que ano ela achava que estava vivendo, tendo o cuidado de não mostrar a ela que a época já era outra. Por isso, perguntei da seguinte maneira: “Isso dá quantos anos mesmo até hoje? Não sou muito bom de contas...”.

Para um sujeito que está dormindo, até que foi um belo estratagema. Ela respondeu: “34”. Isso significava que a mulher devia ter morrido, de certo se matado, aos 34 anos em 1956.

Continuamos conversando mais um pouco, embora eu não lembre de detalhes, mas me pareceu que ela estava satisfeita por conversar com alguém. Quanto a mim, eu queria que alguém me dissesse o que deveria fazer com ela, o que deveria fazer para que ela “seguisse o seu caminho”, como acreditam os espíritas.

Mas aí já era hora de acordar.

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 04/03/2018
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