Absurdo

Camus comenta o absurdo, que não estaria no homem nem no mundo, mas na convivência entre os dois. A rotina diária, "levantar, bonde, quatro horas no escritório ou na fábrica, bonde, quatro horas de trabalho, refeição, dormir, segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, no mesmo ritmo", leva a um clímax finalmente quando o homem faz a pergunta: "Por que?". Ou seja, como a canção “Mambo da Cantareira” : "como é que dói, trabalhar em Madureira, viajar na Cantareira e morar em Niterói". Viver uma rotina diária, conforme a escolha de vida que cada um é livre de fazer, sem variações, é como estar numa prisão, ou melhor, na prisão e no corredor da morte, esperando o desfecho final. Sustentar uma família, pagar aluguel, ajudar pais idosos, tudo isto torna as grades da prisão mais cerradas. Como se queixa o personagem principal do filme "O Fim-de Semana Perdido"("The Lost Week-End")": ... a maioria dos homens leva a vida num desespero quieto ..."

E como evitar essa dolorosa prisão e evitar essa dor; em resumo, sair de uma existência na qual não se encontra sentido? Para Camus, várias opções. "Suicídio; ignorar o problema e achar uma distração; suicídio filosófico, que nega o absurdo e acha um significado na religião ou em uma ideologia como o marxismo; tentar uma distração na arte; buscar o poder e encontrar no poder um significado; aceitar o absurdo”, esta última via recomendada por Camus. Diante do absurdo, “o homem é livre para dar sentido à sua vida". Ou seja, esperando Godot, que, evidentemente, nunca vem, mas não se desesperar e preencher bem o tempo de espera. Ou seja, escolher como moldar sua vida e vivê-la. O mito de Sísifo, que rola uma pedra até o alto da montanha, para vê-la em seguida cair, e ter de recomeçar o mesmo trabalho. Segundo Camus, esse trabalho repetido eternamente é suficiente para preencher uma existência e ele conclui que é possível imaginar Sísifo feliz. Decerto, a rotina justificadamente criticada por Camus, tem o mérito de nos ajudar a sobreviver na sociedade; muito certo que todo esse esforço poderá terminar em poeira, mas serviu para nos manter vivos, alimentados, abrigados, junto com toda Família. Evidentemente, muita gente, tão ocupada em sobreviver, nem pensa em tentar entender o sentido da vida. A felicidade de Sísifo vem da satisfação que gera a superação das dificuldades, mesmo que renovadas. . Para refletir sobre a vida, se tem ou não sentido, é preciso não só ter tempo livre, mas estar também descansado, sem preocupações maiores e com o bem-estar garantido. Senão, o sentido da vida é a sobrevivência e os animais, que não se atrapalham com conjecturas sobre a própria existência, sabem disso.

Ugly
Enviado por Ugly em 23/03/2018
Reeditado em 04/09/2022
Código do texto: T6288471
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