Relatório de estágio – O papel do Coordenador Pedagógico

Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito de um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.

João Cabral de Melo Neto

Introdução:

A partir da troca de experiências vivenciadas em diversas escolas - públicas e particulares, de diferentes contextos econômicos, culturais e sociais - da cidade de São Paulo e considerando as correlações observadas pelo levantamento bibliográfico, foi obitido uma série de informações, questionamentos e reflexões sobre o papel do coordenador pedagógico dentro de instituições escolares, desde seu surgimento até os diversos desdobramentos dessa função atualmente, quesitos observados no intervalo de estágio proposto pela disciplina, compondo 30 horas.

Apesar da divisão do trabalho escolar surgir junto ao estabelecimento do Brasil Republicano, a história da Coordenação Pedagógica enquanto instituição formal é relativamente recente, iniciada a partir dos anos 1980, em substituição à Supervisão Pedagógica, que tinha o papel fiscalizador de professores, totalmente ligada ao curso de pedagogia e a Lei de Diretrizes e Bases nª 5.692/71, outorgada em plena Ditadura Militar. Com essa mudança de perspectiva no papel da coordenação escolar, as instituições de ensino começaram a ser acompanhadas mais de perto por um profissional responsável pelo cumprimento do currículo pré-determinado a todas instituições de ensino em sala de aula, dando apoio ao educador.

A função da coordenação começa, então, a modelar-se para além da supervisão - porém não se eximindo da mesma - sendo de sua alçada atenção à toda dinâmica estabelecida, funções burocráticas, organizacionais, pedagógicas, etc. Foi também observado, partindo do aporte teórico oferecido durante o semestre, uma coexistência entre esses aspectos citados e a rotina de relações de poder claramente estabelecidas e observadas até hoje. É então o nosso ponto de partida a reflexão sobre o seguinte trecho:

“(...) acreditamos que as possibilidades de contribuição do coordenador pedagógico estão situadas num espaço em que o refletir-junto e o construir-junto precisam ser aprendidos e vivenciados por toda a equipe” (BRUNO;ABREU. 2006, p. 107)

Escolas observadas:

Bianca Gorgulho

Escola Amarela

Escola Pública

Gabriela Lasckevic

Escola Vermelha

Escola Particular

Giovanna Caetano

Escola Rosa

Escola Particular

Gustavo Tanareli

Escola Lilás

Escola Particular

Patricia Martins

Escola Verde

Escola Particular

Verônica Sala

Escola Laranja

Escola Particular

Yasmin Ayde

Escola Azul

Escola Pública

Aspectos observados na vivência do estágio:

Escola Amarela

A Escola Amarela é uma instituição do Estado e se encontra no bairro Super Quadra Morumbi, na cidade de São Paulo, e atende crianças do Ensino Fundamental Ciclo I. Hoje tem sete salas de aula distribuídas em dois turnos, matutino e vespertino. No matutino atende 4°s e 5°s anos. No vespertino, aos 1°s, 2°s e 3°s anos. Inicialmente destinava-se aos filhos dos moradores do bairro que até então precisavam deslocar-se para longe de casa a fim de estudar. Hoje com o crescimento no passar de 29 anos, atende além dos moradores do bairro, crianças de bairros próximos.

Na experiência do estágio foi acompanhado o dia a dia da coordenadora pedagógica da escola, auxiliado pelas bibliográfias estudadas no semestre.

É função da coordenadora oferecer condições para que os professores trabalhem de forma coletiva as propostas curriculares apresentadas pela escola, estimulando a parceria entre os docentes; Existe também o compromisso da coordenadora ser formadora, ou seja, oferecer condições para que os professores se aprofundem nas suas áreas específicas, que trabalhe e aplique esses conhecimentos no seu cotidiano escolar, estimulando esses professores ao desenvolvimento do trabalho pedagógico; A coordenadora tem o compromisso com o questionamento, ou seja, deve ajudar o professor a ser reflexivo e ao mesmo tempo critico em sua prática, criando a conciliação ou a confrontação das propostas trazidas pelos professores.

Por fim, foi visto que um dos pontos principais que a coordenadora fez questão de salientar é que em hipotese alguma esta pode deixar acontecer uma fragmentação nas ideias, nos currículos ou mesmo entre os profissionais da instituição.

Escola Vermelha.

Localizada na zona sul da cidade, em um bairro nobre de São Paulo, a Vermelha atende a um publico da classe alta da região. Com mais de 2.700 alunos e aproximadamente 1000 na fila de espera, a escola apresenta um alto padrão para vários quesitos: infraestrutura, administrativo e principalmente na parte pedagógica, com um time de profissionais extremamente qualificados, atuando tanto como professores quanto como coordenadores.

Durante o estagio de observação foi possivel entender como as funções da coordenação se dão ao longo do semestre, e também o quão importante e essencial é o papel desse profissional dentro da escola, uma vez que depende especialmente(mas não exclusivamente) dele o bom funcionamento da escola. Na escola vermelha, tudo passa pela coordenação. Desde o material a ser utilizado nos banheiros, até o aluno que foi pego fumando nas redondezas da escola.

Uma das coisas que mais surpreendeu o grupo perante o relato do estágio, é que na escola em questão existe uma coordenadora especifica para cada série. No total são 10 coordenadoras destinadas apenas para o ensino fundamental. A meu ver, essa questão possibilita um ambiente muito bom para o coordenador, pois o mesmo fica extremamente familiarizado com os alunos, professores e funcionários, uma vez que não precisa se preocupar com uma escola inteira, mas sim apenas com a sua própria série. A postura dos(as) coordenadores(as) dessa escola é a de liderança, mas não é uma figura autoritária, possibilitando um diálogo muito proveitoso tanto com os professores, quanto com os alunos. Os coordenadores exercem uma função de psicólogos e mediadores, trazendo uma tranqüilidade no que diz respeito as regras e possíveis fatos que não estão previstos pela instituição. Nesses casos, a importância do coordenador me pareceu ser essencial e muito bem administrada. O aluno se sente a vontade para chamar seus respectivo professores e conversar tanto de questões pessoais quanto acadêmicas. Dessa forma, o acompanhamento do coordenador com os alunos é muito eficaz, e acarreta em alunos bem direcionados academicamente, e também estimulados a estudar.

Fica evidente a importância do coordenador nessa escola, assim como suas responsabilidades dentro da instituição. Para além de questões administrativas e burocráticas, é também função desse cargo criar boas relações entre os profissionais envolvidos no processo educacional. Desde a faxineira até a direção escolar, o coordenador que analisei durante meu estágio fazia questão de que todos se sentissem confortáveis e respeitados. Criando uma atmosfera muito positiva e funcional.

Escola rosa

A escola localiza-se em uma região nobre da Zona Sul e atende um público de classe A, desde a educação infantil, até o ensino médio. Alicerca-se na ciencia e na arte e segundo seu Plano Diretor, busca a autonima social e intelectual do aluno. A escola está colocada como a 14ª melhor do país.

Optou-se por realizar a análise da coordenação referente à educação Infantil, levando-se em conta o número grande de profissionais já nesse grupo. Portanto, o estágio compôs-se da coordenação pedagógica presente nas classes referentes à 2,3,4,5 e 6 anos (considerando que as crianças de 6 anos já se enquadram no Ensino Fundamental I, mas são coordenadas pela direção da educação infantil).

A escola opta por deixar cada idade, consequentemente, cada grupo, dirigido por um Coordenador(a) Pedagógico(a), sendo que este em alguns casos possui um(a) auxiliar de coordenação, é de extrema importância citar também que todos os profissionais já passaram por todas as funções na hierarquia presente nesta escola, seguindo a linha de auxiliar, educador(o), coodernador(a) e diretor(a). O papel deste(a) coordenador(a) no geral, vai desde organização de cronogramas de aulas e conteúdos a serem trabalhados até reflexão sobre materiais didáticos e especificidades de cada criança.

A organização da programação de reuniões é sempre realizada no ano anterior pela equipe de direção. Uma vez por semana as professoras (a educação infantil não conta com professores masculinos, a não ser em atividades extras, como futebol, judô, etc) e a coordenação se reúnem para formação continuada, sendo meia hora destinada para assuntos pendentes, como rotina, programação e outra uma hora meia para cursos, já com programação prévia, variando entre as várias áreas: artes, matemática, filosofia, etc.

Cabe às coordenadoras realizarem também uma reunião mensal entre a equipe de coordenação pedagógica, uma reunião bimestral com a direção e uma reunião semanal com as auxiliares de classe, onde é trabalhado um tema dentro da educação escolhido pela coordenação, a título de exemplo, entre as auxiliares do Intantil 2 e a coordenação foi trabalho o tema “ A aquisição da linguagem”.

Toda a equipe pedagógica da escola tem acesso a uma pasta localizada numa rede interna, chamada “editema”, onde são colocadas as informações de cada criança durante cada ano em que passou na escola, telefonemas para os pais, acontecimentos, adaptação, etc. Coexiste também o relatório feito pelas professoras e revisado pelas coordenadores, onde as informações primordiais sobre cada criança são entregues aos pais. Dessa forma torna-se possível uma série de troca informações sobre cada indivíduo que pode auxiliar nos trabalhos posteriores, não sendo excluída a possibilidade de coordenadoras conversarem entre si quando necessitam pensar sobre algum ponto em especial.

Infantil 2 (crianças de 2 anos)/Infantil 3 (crianças de 3 anos)/ Infantil 4 (crianças de 4 anos)

No grupo do Infantil 2, no ano de 2014, haviam 3 classes com 18 crianças no período da manhã e 2 classes no período da tarde com a mesma composição. A coordenadora pedagógica conta com uma auxiliar de coordenação. No começo do ano o trabalho das duas acaba sendo quase o mesmo: proporcionar uma adaptação às crianças recém-chegadas à escola, para isso, pensando junto com a equipe de professores materiais que podem ser requisitados para a melhoria das brincadeiras.

Ao longo do ano a Coordenadora se encarrega de realizar as reuniões individuais com os pais para tratar de cada criança e de seu processo na escola, cabe ao professor transmitir as informações pertinentes durante o semestre, para que a coordenação esteja ciente sobre tudo o que deve ser tratado nessa reunião. A coordenadora também realiza quando necessário o " levantamento fonético " nas crianças para sondar a aquisição da linguagem e se é necessário o encaminhamento para algum profissional dessa área (fonoaudiólogo, psicólogo, etc). A figura do coordenador (a) também se faz muito presente no dia-a-dia, percorrendo a escola e realizando uma espécie de "fiscalização", ficando ciente sobre situações da rotina, ou apenas observando como está se dando a aula.

O trabalho realizado pela coordenação no infantil 3 não difere muito daquele citado acima, realizado no infantil 2. Em 2014 existiam 2 classes no período da manhã, com 22 alunos e 3 classes no período da tarde. Existe então o acompanhamento da rotina, a conversa com os pais, o pedido de materiais ao longo do ano, etc. Bem como no infantil 4, onde ainda segue-se o mesmo modelo de coordenação, com um diferencial que aparece também no infantil 5 e no 1º ano onde as professoras se dividem nas áreas a serem trabalhadas, dessa maneira efetuam um rodízio na programação, por exemplo de corpo, de matemática, de português, pensando atividades programadas, mas que podem sofrer alterações.

No infantil 5 e no 1º ano começa-se o trabalho com cadernos produzidos pela própria escola, portanto faz-se necessária o constante acompanhamento desse material, sendo conversada com a coordenação em casos de observações a serem feitas. Se existe algum exercício que precisa ser refeito dentro do material, cabe à coordenação refazê-lo e aprová-lo, estando aberta às propostas das professoras, mas sempre sendo as responsável por darem o este “aval”.

Portanto, apesar de coordenados também por um superior, a programação da escola conta com o que Elisa Garrido (2000) reflete:

“A formação continuada de educadores que atuam na escola básica será bem sucedida se a equipe escolar, liderada pelos diretores e coordenadores (pedagógicos, de áreas, cursos e períodos), encará-la como valor e condição básicos para o desenvolvimento profissional dos trabalhadores em educação. A estrutura e a gestão democrática são elementos essenciais por enaltecerem a participação e o envolvimento dos professores e técnicos. Nesse sentido, a título de exemplo, o calendário escolar precisa garantir anualmente (semestres,bimestres, meses, dias) oportunidades para que os professores se encontrem, analisem, problematizem, façam trocas, enfim, reflitam na e sobre a ação, concretizando, assim, a formação continua na rede escolar. Dessa forma, ela não será percebida como eventual,esporádica, mas como algo inerente ao trabalho educativo que a escola realiza.” (2000, p. 22)

Escola lilás

A Escola lilás é localizada na zona oeste da cidade de São Paulo, no bairro do Butantã, sendo uma instituição de ensino privado que atende em geral à demanda de alunos do entorno e bairros próximos, em sua grande maioria pertencentes à classe média ou a classes economicamente mais favorecidas. A escola oferece turmas desde o chamado Grupo I (para crianças que completam três anos até o meio do ano letivo) até o terceiro ano do ensino médio.

Durante entrevistas e acompanhamento da rotina da coordenadora pedagógica desta Escola, foi observado que suas atividades concentram-se no gerenciamento de questões relacionadas aos os pais dos alunos e ao corpo docente da instituição. Com auxílio das orientadoras pedagógicas, a coordenadora é responsável pela gestão da rotina da escola, dos seguimentos como um todo (infantil, fundamental I e II e médio), da manutenção da unidade de ensino entre os segmentos, dos cronogramas, dos horários, da estruturação do boletim, das pessoas que lá trabalham (funcionários e docentes), do bom uso dos recursos financeiros (mas a efetiva administração desses recursos é responsabilidade do setor administrativo), e pela gestão da comunicação com as famílias dos alunos (em segunda instância, pois a priori as famílias são atendidas pelas orientadoras). Com todos estes apontamentos descritos como exemplos do trabalho da coordenadora pedagógica, pode-se observar que este cargo transita entre as funções administrativas, funcionais e pedagógicas da escola, num caráter macro de atuação, onde as principais atividades se dão nas reuniões com a direção da instituição, nas reuniões com os professores formadores (aqueles que são a referência entre os professores de todas as classes de cada ano do segmento), nas reuniões com as orientadoras e na resolução de problemas da escola.

Durante as entrevistas, foi perguntado à orientadora se para ela há alguma relação entre a administração escolar e administração de mercado (industrial, empresarial). A resposta obtida foi de que essa é uma relação distante, uma vez que, segundo ela, a educação é diferente de produto e não é uma mercadoria, onde o tempo é administrado em função de assegurar a rotina, sem visar a produção. Ao perguntar se há alguma meta para a função que ela exerce, a orientadora admitiu ser uma preocupação de seu cargo buscar a manutenção das matrículas, para que a escola não perca alunos e o acolhimento de novas famílias, de novos alunos. Já ao perguntar para a coordenadora sobre qual seria sua função, a resposta obtida foi “A função da coordenadora é fazer a escola funcionar”.

Escola Laranja

A Escola Laranja é uma escola particular, de classe média alta, auto-intitulada interacionista e de alto desempenho. Isso significa que - além dos dados sócio-econômicos despreendidos do fato de ser composto pela classe média alta - a escola propõe uma interação entre alunos e docentes, entre pais e coordenação e, principalmente, entre esferas de conhecimento e interesses diretos dos alunos. Além disso, existe a tentativa e expectativa de moldar este perfil a um resultado satisfatório em exames de prestígio nacional como o ENEM e a FUVEST, sendo este o alto rendimento proposto pela escola.

Este perfil interacionista e acolhedor é observado desde a Unidade voltada para a Educação Infantil e Fundamental I, como para o Fundamental II e Ensino Médio. À medida que os alunos vão aprofundando sua educação na seriação determinada pelo MEC, intensifica-se o acompanhamento do rendimento dos alunos, com maior número de aulas e cursos extras e maior foco em treino para exames através de simulados e provas. Os responsáveis por tornar essas duas facetas da escola possível no imaginário dos educadores, alunos e familiares, são os coordenadores.

Servindo de mediadores entre o cotidiano escolar e o projeto político pedagógicos, os coordenadores da Escola Laranja são extremamente presentes e atuantes, porém mais como supervisores das atividades escolares do que como reguladores pedagógicos em si. Possuem personalidade e pulso na resolução de conflitos e acompanhando as espectativas e frustrações de alunos e famílias (principalmente famílias), servindo como arautos da proposta da escola e marcando essa postura de ponte interacionista entre os diversos grupos contidos em um ambiente escolar, mas não são tão esclarecidos e articulados quanto às dúvidas ou percalços da prática em sala de aula, contribuíndo para uma dissonância entre as atuações de diversos aspectos do corpo docente.

Os coordenadores mostraram-se atentos às questões individuais e sociais dos alunos, esforçando-se para incluir as diferenças e construir uma coletividade que se mostra ainda insuficiente na escola. Em relação à atuação oferecido pelos coordenadores aos professores, foi observado um apoio firme porém distante. Caso isso fosse atribuído a uma busca por liberdade do professor, talvez fosse um aspecto positivo, mas tamanha distância causa ruídos entre os profissionais e confusão nos alunos. Ao mesmo tempo que se mostraram fisicamente presentes, a cobrança com o rendimento de professores e alunos às vezes fazem-se sentir na falta de unidade pedagógica.

Apesar disso, existe um esforço humano genuíno para criar esse ambiente ao mesmo tempo desafiador e inclusivo para todos. Talvez o desarranjo não seja na tentativa pessoal, mas na falta de base, de pesquisa, estudo e formação para além da burocracia pedagógica.

Escola Azul

No estágio realizado na Escola Azul, foi possível observar de perto as funções que a coordenadora dessa escola exerce. Trata-se de uma escola pública estadual, com cerca de 1500 alunos de baixa renda, de ensino fundamental I e II. Um dos pontos que mais chama a atenção foi a locomoção da coordenadora por toda a escola durante todo o período que a acompanhei. Ela é responsável por todas as salas de ciclo I do Ensino Fundamental, por isso é quase impossível encontrá-la em sua sala. É evidente o acumulo de funções nesse caso, ao mesmo tempo que ela resolve intrigas entre alunos, tem que dar conta das reuniões com as professoras, dos conteúdos ministrados em salas de aula e do bom funcionamento geral da escola.

Em conversa informal com a mesma, é possível perceber que ela não está satisfeita com o próprio trabalho, pois em alguns momentos acaba não dando conta de todos seus afazeres durante o dia, o que acaba comprometendo o andamento de outros setores da escola por diversas vezes. Além disso, os atendimentos aos pais individualmente quando necessário, seja por freqüência de falta ,mal comportamento ou baixo rendimento, são realizados pela coordenadora juntamente com a professora, assim como as reuniões bimestrais que ocorrem aos sábados com todo o grupo de pais.O controle de todo material utilizado também é função da coordenadora nessa escola, porém é a função que mais fica de lado em sua gestão.

Fundamentação teórica:

Para que haja uma reflexão sobre as especificidades do papel do coordenador pedagógico dentro de uma instituição-escola, torna-se essencial o conhecimento de sua origem histórica e os desdobramentos que essa função possui, históricamente no dia-a-dia da organização escolar. Entretanto, reconhece-se que a função do coordenador tende a ser maleável de instituição para instituição. Geglio (2003) afirma que é comum esse coordenador realizar funções que não são exatamente de sua área, o que o autor revela ser “desvio de função”. É importante também ressaltar o que Souza (2003) descreve como o constante exercício que se tem o coordenador em lidar com diferentes grupos, sejam eles, pais, alunos, superiores, etc, descritos pelo autor da seguinte maneira: “Cada grupo tem características e demandas particulares em relação ao coordenador pedagógico, e são essas demandas que ditam os papéis que o coordenador deverá desempenhar na escola.” (SOUZA, 2003, p. 101). Ainda segundo o mesmo autor: “(...) trabalhar com grupos, estar em grupo, traz como condição lidar com a diversidade, com a heterogeneidade.” (SOUZA, 2003, p. 106)

Na parte legislativa, os decretos 7709/76 e 5586/75 trazem uma série de funções previstas à esse cargo. O papel do coordenador pedagógico surge no momento em que os professores começaram a sentir necessidade de ter alguém a quem eles pudessem recorrer em determinados momentos, para que o trabalho coletivo fosse colocado em prática com espaços de reflexão sobre a pedagogia utilizada, com acompanhamento pedagógico aos docentes e dentre outras necessidades. Assim foi sendo construída a imagem do coordenador pedagógico.

Segundo Rangel (2002) coordenar é realizar momentos de integração do trabalho entre os professores de diferentes disciplinas, elaborar programas e planos de cursos com os mesmos, participar da escolha do material didático e identificar problemas que se manifestam no dia-a-dia do docente, procurando estimular e ajudar na execução de seu trabalho a todo o momento. Já Eliane Bruno (2002) se preocupou em distribuir o papel da coordenação em três vertentes, trazendo pontos vivenciados durante o estágio:

“(...) uma, como representante dos objetivos e princípios da rede escolar a que pertence (estadual, municipal, ou privada); outra, como educador que tem obrigação de favorecer a formação dos professores, colocando-os em contado com diversos autores e experiências para que elaborem suas próprias críticas e visões de escola (ainda que sob as diretrizes da rede em que atuam) e, finalmente, como alguém que tenta fazer valer suas convicções, impondo seu modelo para o projeto pedagógico.” (BRUNO, 2002. p, 15)

A valorização do trabalho do professor e o seu reconhecimento, levando se em conta a liberdade individual dos profissionais e também suas especificidades, são pontos aos quais o coordenador deve estar atento a todo o momento para que os docentes não caiam em descrédito e não se sintam expostos e incompetentes. Por isso. faz-se essencial uma postura aberta por parte do coordenador, para que os professores possam trazer ideias novas que possibilitem o diálogo e a inquietação, a reciclagem do espaço escolar, estimulando uma formação e reflexão constante, o que já de antemão afirma Garrido (2000) não ser tarefa fácil[1]. Dessa forma, notamos a importância do trabalho coletivo em meio ao papel central que assume o coordenador, é o que Eliane Bruno (2002) deixa claro quando diz: “Em termos teóricos, sabemos que uma escola organizada por todos que nela atuam tem maiores chances de ser uma escola adequada aos interesses de seus organizadores.” (BRUNO, 2002. p, 13).

O espaço de reflexão apresenta-se como elemento de extrema importância para a construção de um meio onde professores e coordenadores articulem-se em busca de melhorias, ou mesmo apenas em busca de trocas, segundo Christov (2002) a reflexão aparece como elemento essencial, dita como “esforço intelectual”, auxiliando na construção de uma opinião em comum, pautada na constante reflexão de teorias e práticas. É a partir dessas oportunidades abertura, reflexão e diálogo, essa dinâmica vital à educação, que obtém-se a essência do que Souza prevê (2003), onde a complexidade inerente à esse momento faz-se presente, onde, segundo o autor, abre-se a possibilidade para os relatos também sobre os sentimentos dos professores, como medos e anseios. Com a partilha de temas pertinentes àquele grupo, faz se também valer o que foi descrito por Bruno e Abreu (2006): “(...) os programas e os espaços de formação continuada emergem como oportunidade de construção, reflexão e partilha de saberes e vivência...” (ABREU;BRUNO,2006, p.106),

A prática do coordenador está presente também no rendimento dos alunos em sala de aula, bem como na superação de entraves como “o fracasso escolar” [2], para tanto reforça-se novamente a necessidade de esse profissional dar apoio aos educadores, produzindo um trabalho mútuo,como explica Fullan e Hargreaves:

“Como veremos, o envolvimento dos professores em suas escolas, o apoio ao que fazem, bem como sua valorização, e a ajuda para que trabalhem mais unidos aos colegas não devem ser realizados apenas por seu valor humanitário. Elas causam também um impacto na qualidade de ensino e aprendizagem em nossas salas de aula.” (FULLAN, HARGREAVES; 2000.p.16)

Não podemos deixar de reforçar o papel do coordenador quanto à relação com a comunidade, com as famílias dos alunos da escola da qual faz parte, como dito anteriormente essa diversidade coexiste nesse meio. Cabe ao coordenador fazer a ponte entre professor e família do aluno, segundo Orsolon (2003): “(...) as ações coordenadoras de parceria nas relações família-escola, quando se pretendem transformadoras da situação vigente, precisam considerar a especificidade e a complexidade dos universos escolar e familiar, a sociedade na qual estão inseridos e a capacidade e a disponibilidade do coordenador…” (ORSOLON, 2003, p. 182)

Por fim, levando se em consideração que segundo Lomonico (1987) o cargo de coordenador encontra-se em uma estrutura hierárquica prevista em lei e percebendo as tantas demandas próprias de sua função, notamos que cabe ao coordenador refletir constantemente sobre sua própria prática para superar os obstáculos e aperfeiçoar o processo de ensino-aprendizagem. Assim como também é indispensável a este, que reflita sobre seu poder dentro da escola, para que saiba exercer as suas funções de forma que não se torne uma figura ditadora para os professores e funcionário. Neste sentido, Michael Foucalt traz em sua obra a seguinte reflexão:

“O poder deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, como algo que só funciona em cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali, nunca está nas mãos de alguns, nunca é apropriado como uma riqueza ou um bem. O poder funciona e se exerce em rede.”(FOUCAULT, 1969. p. 183).

Considerações finais:

Com base nas reflexões estabelecidas ao longo do trabalho atreladas a vivência do estágio, podemos sumariamente pontuar que o papel do coordenador pedagógico foi se delineando realmente para além de uma supervisão e uma postura quase de inspetor. No atual momento, percebemos a importância desse papel na formação dos professores, para que estejam em constante reflexão, na representatividade desta figura perante os princípios da escola em que atua, a constante mediação das relações inerentes ao ambiente escolar, sejam elas de cunho interno ( coordenação, diretoria, professores, alunos e funcionários no geral), sejam elas de cunho externo ( pais, comunidade, etc).

Como vimos no texto de Maria José da Silva Fernandes (2004) o papel do coordenador é tido como um trabalho de grande importância no âmbito escolar para que haja uma organização na escola e para que as relações e o rendimento como um todo melhorem a cada dia. Na trajetória deste papel, percebe-se a importância do coordenador em centrar o seu trabalho na ação humana, acreditando e refletindo sobre possíveis mudanças, possuindo assim a capacidade de aceitar e conviver com as diferenças e mais do que isso, mediá-las. Portanto é pertinente a reflexão que faz Paulo Freire:

O MAESTRO

O educador ou o coordenador de um grupo é como um maestro que rege uma orquestra. Da coordenação sintonizada com cada diferente instrumento, ele rege a música de todos. O maestro sabe e conhece o conteúdo das partituras de cada instrumento e o que cada um pode oferecer. A sintonia de cada um entre si, a sintonia de cada um com o maestro, a sintonia de todos é o que possibilita a execução da peça pedagógica. Essa é a arte de reger as diferenças, socializando os saberes individuais na construção do conhecimento generalizável e na formação do processo democrático.

(FREIRE apud MEDEL 2008, p.37)

Referências Bibliográficas

—ARCHANGELO, A. G; MATE, C. H; BRUNO, B. G; VILLELA F. C. B; ALMEIDA L. R. de; CHIRSTOV L. H. S. da; SARMENTO. M. L. M. de; PLACCO, V. M. N. S. O Coordenador pedagógico e a educação continuada. São Paulo: Loyola, 2000 5ª edicção.

______________. O coordenador pedagógico e o cotidiano da escola. São Paulo: Loyola, 2003.

—BRUNO, E. B.; ALMEIDA, L. R. de; CHRISTOV, H. S. de. O coordenador pedagógico e a formação docente. Edições Loyola, 2000.

FERNANDES, Maria José da Silva. Problematizando o trabalho do coordenador pedagógico nas escolas públicas paulistas. Dissertação de Mestrado: UNESP, Araraquara, 2004, p. 37-73.

FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.

FULLAN, Michael; HARGREAVES, Andy. O problema. In: A escola como organização aprendente. Porto Alegre: Artmed, 2000, p.15-31.

LOMONICO. C. F. Atribuições do coordenador pedagógico. São Paulo, EDICON, 1987 (p. 7-30)

MEDEL, Cássia Ravena Mulin Assis de. Projeto Político-Pedagógico:construção e elaboração na escola. Campinas, SP: Autores Associados, 2008. (Coleção Educação Contemporânea), p. 37.

Gabriela Laskievic
Enviado por Gabriela Laskievic em 11/04/2018
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