O que leva a um fotógrafo conduzir seu olhar, realizar a visada, que naquele momento é sua imagem do mundo? E mais, o que o faz repetir esse mesmo gesto, esse enquadramento, repetindo a ação em momentos diversos?

Cada obra faz parte de um todo que a supera e o conjunto expressa um pensamento, cria uma unidade genética. A obra em si é autônoma, contudo, como forma pensante pode se repetir, como é o caso nas obras de um artista. Vilém Flusser, filósofo das novas media assim nos fala: fotografias são imagens de conceitos, são conceitos transcodificados em cenas.

Tudo isso me vem à mente a partir da proposição de Pedro Holderbaum que partiu de um conceito para criar, ou seria justificar uma visada: “No olhar ao rés do chão a perspectiva é outra, somos como as folhas levadas pelo vento, prostradas, pisoteadas, esquecidas, mas ainda existindo bravamente”. O ato fotográfico decorreria então de um pensamento, diria de uma postura bioética em suas dimensões ecológicas questionando a inserção do ser humano no planeta, do próprio relacionamento entre os seres conduzindo ao menosprezo do outro, no questionamento do olhar não como dominante do cenário, nem daquele furtivo à altura da cintura na época das Rolleyflex, porém rente ao chão, humilde como o líquen nas pedras, ou da semente que germina.

A imagem obtida assim é uma erupção de significações, um fluxo contínuo como lava derramada de pensamentos, concentra um potencial intrínseco de suscitar reflexões e de associar um caudal de imagens, e nesse ato nos faz pensar. Por partir de um conceito contribui de maneira decisiva para a alegoria na arte fotográfica; não existe nada de mal na alegoria em relação ao tão decantado símbolo, se nela um sentido explícito remete a um sentido latente, do particular ao universal, no símbolo a relação será analógica – a alegoria expressa a idéia através de imagens, o símbolo por meio de imagens nos dá a impressão de idéias.

Dessa forma o que Pedro Holderbaum faz não é a fotografia-documento, não quer substituir o real pelo seu símile, mas acrescentar um significado ao anterior, assim o substituindo. Cada imagem de per si não será uma alegoria, elas assim se tornam pela soma, respondendo ao conceito: quem somos nós, existimos aleatoriamente ou... Elementos aparentemente desconexos, fragmentados, todavia em seu acumulo irão além da fotografia turística, do registro amador, são partes de um inventário desordenado que conjura o caráter efêmero das coisas no mundo.

Seu ponto de partida é agregar algo do outro, os entrecruzamentos de tempo e situações diversas, e na ausência de legendas irá então ressaltar o caráter enigmático da proposta, restando apenas sua frase-conceito para nos servir de guia tal como um Virgílio na razão poética, para entendimento de uma visão totalizante e coerente os clichês aparentes e neutros das tomadas sinalizam a contigüidade dos corpos físicos depositados sobre a mãe-terra, um testemunho de nosso tempo.

 

 

Walter de Queiroz Guerreiro, Prof. M.A.

Membro da Associação Brasileira e Internacional

de Críticos de Arte (ABCA-AICA).

Walter de Queiroz Guerreiro
Enviado por Walter de Queiroz Guerreiro em 16/04/2018
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