[ensaio qualquer #1]

Eu sempre quis encontrar o amor da minha vida numa livraria. Mas livrarias são muito barulhentas; então eu resolvi que sempre quis encontrar o amor da minha num sebo, que é mais tranquilo e a única superpopulação [talvez] existente é a de fungos e afins; e esses, por sua vez, não me incomodam tanto.

Passei a frequentar o mesmo sebo durante dias, meses... daqui uma semana comemoro o aniversário de um ano. Parece desespero meu, eu sei; caminhar por todas as seções do lugar por várias vezes pode não parecer algo tão trivial. Mas não, não é desespero. É que eu apenas sinto vontade, também, de expandir meus horizontes; acho que posso encontrar a resposta da minha vida na seção de matemática, esoterismo, ou culinária oriental, por exemplo.

Na verdade, mesmo, é limpo demais aqui. Sebos têm que ser antigos, com estantes empoeiradas, cheiro forte de livros velhos [mas nunca vencidos], livros sem capas e sem preços, corredores estreitos e sem fim; é aí que está todo o encanto. Mas é que eu já me acostumei com essa rotina não tão perfeita. E, sim, eu sei que não encontrarei ninguém por aqui hoje, muito menos agora, na seção de literatura nacional.

Chega de procrastinar! Amanhã eu volto e começo a procurar na seção de música clássica em discos de vinil. Tenho notado que os discos da coleção ‘Mestres da Música’, que eu reorganizo [com o maior prazer] todos os dias, está diminuindo bastante em quantidade e variedade. Estou com o pressentimento de que alguém vai levar o disco do Prokofiev amanhã, e eu estarei esperando esse alguém! Bem discreto, é claro, pois não sou nenhum sociopata ou coisa do tipo. Estarei de gravata borboleta, calmo, receptivo e intelectual; com o vinil do Prokofiev numa mão e um buquê de flores na outra.

Johnny Leal
Enviado por Johnny Leal em 23/04/2018
Reeditado em 23/04/2018
Código do texto: T6317207
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