Transparente

Eu podia ver beleza naquela natureza, insípida de tão branca, aveludar dos pelos louros que só se via na fresta do sol que encostava em sua face pela janela. Já eram dez e meia. E eu não costumava acordar tão cedo aos sábados. Mas ela veio, compartiu minha cama, meu abraço, e o perfume da virgindade. Blusa cropped, listrada. Jeans cintura alta. Se encolhia pontando os joelhos ao seio, como quem se rendia à santidade do sono. Não a desejava completamente, mas ao mesmo tempo muito. Aquele cheiro invadia os pelos do meu peito, e o entrelaçar de braços anônimos.

Gostava de a ver conversar. Contava o que achava sobre tudo. Gostava do seu medo. Devorava todo seu medo. Gostava de suas mãos em meus ombros, do batom gasto da boca. Gostava do sotaque, da porrrrta aberrrrta. Da apoxta. Do medo. Devorava. Tudo. E não sabia. As lembranças não eram um marco do nosso passo rumo ao emaranhar de seus cabelos em minhas mãos. E a tensão. E a intenção. Era o aqui. O agora. A troca. Desfeita. E o ataque canalizado em minha direção como quem não aceita nada, mas permite o descuido.

Não se apaixone por um poeta. Porque você será marcada.