Ciência e Testemunhas de Jeová

Recebi uma curiosa revista das Testemunhas da Jeová que procura apresentar elementos científicos que comprovariam o surgimento intencional da vida na Terra. Embora haja muitas daquelas falácias lógicas que estão relacionadas ao princípio antrópico (e que não convenceriam senão aqueles que já estavam dispostos a ser convencidos), achei uma atitude louvável que as Testemunhas de Jeová tenham passado o debate para esse nível.

Nota-se na revista, em vários momentos, que elas tentam se diferenciar do que chamam de “religiosos fundamentalistas” – fundamentalistas são os outros. Parece ser uma tentativa de quebrar a resistência das pessoas de fora em aceitar as teorias religiosas, quando comparadas àquelas que são apresentadas pela ciência. De fato, pega muito mal a pecha de “religioso fundamentalista”. Resta saber se, pelo conteúdo, as Testemunhas de Jeová conseguiram efetivamente esse distanciamento.

É possível que não exatamente. Parece que não há uma leitura completamente literal do relato da criação em Gênesis, apenas porque eles também entendem que os “dias” da criação não corresponderam a dias no sentido tradicional do termo. Isto é, pode ter levado muito tempo, quiçá os bilhões de anos estimados pela ciência, até que a Terra fosse criada. Esse mérito a revista possui, ela consegue conciliar a visão da igreja com a da ciência no que se refere à origem e expansão do Universo até o surgimento da Terra.

A mesma flexibilidade não acontece em relação à Teoria da Evolução, a qual é negada veementemente. Ou seja, admite-se a criação em etapas de um Universo, mas não a do homem ou a da vida. Ou acham que isso tira a dignidade do ser humano ou apenas acham que contraria o relato bíblico

Uma questão que me ocorreu ao longo da leitura diz respeito às características “especiais” que parecem fazer da Terra um local privilegiadíssimo, cuja explicação só poderia estar em uma criação intencional. É quando se fala dos “escudos protetores” da Terra, como o campo magnético e a atmosfera (poderiam citar Júpiter, como muita gente faz também) que impediriam tanto a radiação letal, comum no universo, como o perigo dos meteoroides.

Bem, bem, bem. A minha dúvida é: se Deus precisou criar escudos para proteger a Terra de ameaças do espaço, qual era o plano dele para o resto do Universo, visto que o criou com essas mesmas ameaças de que, depois, precisou nos livrar?

Ora, se Deus não tivesse criado uma radiação letal para o ser humano no espaço e nem fizesse com que tantos corpos potencialmente perigosos passeassem pelo espaço, ele também não precisaria ter criado escudo algum para proteger a Terra. O risco de que Deus nos livrou foi criado por ele mesmo.

A revista não avança em explicar o que é que Deus pretendia com o resto do Universo. A princípio, parece que se admite a vida apenas aqui na Terra, e que a Terra foi criada especialmente para dar lugar à vida humana. Mas para quê foi criado todo o resto dos corpos celestes?

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 12/05/2018
Reeditado em 12/05/2018
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