O PASTOR E O PERFIL DO PREGADOR

Qual deve ser o perfil do pregador?

Qual é postura ideal para o pregador?

Conta entonação de voz, as pausas, o uso de uma linguagem mais elaborada, ou uso de uma linguagem mais simples?

O ideal de pregador é aquele que sabe manejar bem a Bíblia para compor o seu pensamento?

Usar o cotidiano do entorno da igreja para contextualizar sua mensagem?

Ser literalista?

Usar unicamente a Bíblia como recurso, e, deixar que os ouvintes tenham a capacidade de fazer os devidos aportes?

É difícil ser pregador com tantas maneiras de ser, e com tantas exigências. Resolvi parar para pensar.

Pessoalmente, observo os pastores que pregam na igreja onde congrego, ou em qualquer outra igreja, numa reunião, etc. Não sei se estou apenas aprendendo a ouvir o que cada um tem a dizer, independente da sua capacidade de argumentação, a tirar coisas boas de cada um. Acho que isso significa ouvir, e ouvir é preparar-se para isso. Numa linguagem eclesiástica deixar o Espírito Santo falar.

Claro que num auditório há pessoas com os mais variados níveis de conhecimento e formação cristã que inclui maturidade, e de certa forma, buscamos ouvir algo que preencha nossas necessidades. Claro que eu gostaria de ouvir falar de muitas coisas que tenho carência, que ainda preciso aprender, e que comer “feijão com arroz” pode ser “fastioso”. Aliás, no bom português não existe essa palavra. Não sei. Sei que é preciso aprender a ouvir coisas simples e coisas não tão simples. Isso me chama a atenção a um texto de Paulo, que usarei como pretexto, e espero que entendam: “... tanto sei ter fatura, como escassez”. Acho que isso sim, é ser um eterno aprendiz. Saber apreender quando há um palestrante que naquele momento, consegue nos atingir com uma mensagem mais elaborada, diferente, e igualmente apreender quando a mensagem é mais simples. No entanto, não é o Espírito quem atua nas mentes que a ouvirá?

Vejo muitos pastores com grande potencial, mas falta-lhes “carisma”, aquele algo mais, que faz com que ele possa dizer qualquer abobrinha e todo mundo o ache “Dez”. E por sua experiência e sagacidade, sabe cativar os ouvintes. Francamente, acho deprimente. Há outros, que com um bom curso de oratória, faria uma diferença tremenda, pois aprenderiam usar além do texto, o corpo, evitar alguns erros e mensagem arrancaria admiração. É este o objetivo da mensagem? Mas, para aqueles que ainda não se descobriram como oradores com potencial para deixar hipnotizados os ouvintes, orar faz bem, ler muito, ler o entorno da igreja, da sociedade, do cotidiano dos seus membros, do mundo. Ampliar o nível de conhecimento leva tempo! Ah, mas conquistar o seleto auditório é urgente. E aí? Não sei! Que tal começar a orar fervorosamente pelos ouvintes, por si mesmo, e pedir a Deus iluminação que vêm do alto? Para alguns, isso pode parecer gozação, mas não é!

Outro ponto seria trocar o auditório. Afinal, que auditório é esse, que vive de saudosismo, como o povo hebreu com saudade do Egito, das panelas de carne? Precisa, isso sim, aprender a ser misericordioso, tirar o tampão da intransigência do ouvido, e aprender a aprender. Aprender a sentir, e fazer uma avaliação do tipo de comida que precisa ingerir diariamente. Há o momento para o leite e pão com queijo, há o momento para o feijão com arroz e, à hora da feijoada.

Isto faz-me lembrar as inúmeras conferências do passado na minha antiga igreja, da saudade em ouvir aquele pastor que nos levou a mensagem de salvação, das reuniões da mocidade, dos grupos de oração nas quartas-feiras, das campanhas para conseguir fundos para a construção da igreja, das dificuldades, das lutas e das vitórias. E, também do momento em que ficamos enfastiados, querendo ouvir algo novo. Para nosso desalento sua saída não foi legal, e as mudanças não foram para melhor. Mais saudoso ainda, as conferências evangelísticas quando tínhamos cultos matutinos as 5h.30min durante uma semana. O conferencista hospedava-se na casa do pastor, e ao passar por nossa rua, batia em nossa janela, alertando para o horário do culto. Como era gostoso e como sentíamos falta na semana seguinte. Como sentimos falta agora. Como nossas vidas mudaram! A insegurança nos faz retroceder, e isto tem sido um dos empecilhos para o crescimento espiritual.

Lembro também de um aniversário da igreja em que o Pr. Davi Gomes pregou no domingo pela manhã e ao fazer um apelo, a maioria da igreja foi à frente, e alguns de nós ficamos no banco, bem poucos, e como ele nos chamou um a um para saber o porquê continuamos no banco.

O que diferencia o pregador do passado e suas mensagens com os pregadores da atualidade? Havia menor preparo dos ouvintes, e maior credibilidade dos pastores?

Antes de categorizar preletores do excelente ao ruim, deveríamos aprender que cada indivíduo tem um tempo para se adequar. Que a prática ajuda a construir o perfil do pregador, que o estudo da Palavra, que o conhecimento teórico em Teologia, Filosofia, Sociologia, História, etc., leva tempo, e maturidade que acompanha a experiência vivenciada no exercício do ministério. Muitos do seleto auditório levaram anos nessa construção; alguns tiveram melhores oportunidades. A esses eu recomendo paciência, humildade, espírito de cooperação e desprendimento. Precisamos na maioria das vezes, mensagens simples que trabalhem questões do cotidiano sob a orientação de Deus que nos ensina viver em meio as dificuldades, e tomar decisões para melhor proceder e viver. Precisamos de homens cheios do poder do Espírito Santo, conhecedores em profundidade da palavra, e que falem mais com suas vidas que com suas palavras eloquentes, embora elas tenham lugar e hora na igreja.

Os indivíduos que usam do recurso de sair do auditório para poupar seus pobres ouvidos, deveriam aprender a serem misericordiosos. Em todo caso, não os julgo por sua impaciência, ou pela sua imprudência, ou por sua intolerância. No entanto, gostaria de poder ouvi-los, para ver se estivessem no mesmo lugar, o que fariam? Gostaria de poder anotar todas as falas. Aliás, faço isso com qualquer preletor que sobe ao púlpito da igreja em que congrego, ou de qualquer lugar aonde vou. Escrevo e comento as mensagens num bloco há muito tempo. Há sempre algo novo a ouvir, há sempre o que aprender, há sempre uma palavra que toca, e é claro, há as controvérsias sempre. Creia, jamais deixarei você ter acesso aos meus blocos de anotação.

Se você pensa diferente, respeito-o por isso, mas não me inclua no seleto grupo. Eu certamente o decepcionaria.