SENTIMENTO E PALAVRA

Chega de longe o Verbo, via net, com sua aura de doçura e espanto. Logo começo a pensar sobre os versos, e, de chofre, com absoluta espontaneidade, movido pela emoção e intelecção, enfim, pela “lucidez enternecida” a que o estado de Poesia conduz, o coração é sentimento e palavra:

“O AMOR É SOPRO DE VIDA

Tereza é o céu da minha vida

– Sinto tanto amor que tenho medo de perder-te...

Ela é uma sereia querendo me conquistar

Seus olhos são estrelas

brilhando intensamente

é sol dentro do mar

Seus olhos são estrelas

que brilham sem parar

É o sol dentro da lua

É farol beijando o mar.

SM, Rio/RJ, via whatsapp.”

Este depoimento escritural apresentado em versos, nada mais é do que um recado amoroso, denso e derramado, tesudo, que registra, louva e declara o sentir do autor ao seu objeto de desejo. O mais interessante é que o poeta se transmuta, no decorrer do discurso, e, sem cerimônia, curiosamente pretende vir ser este objeto sexual: "... é uma sereia querendo me conquistar". No verso seguinte foge para as estrelas, sol, mar, e coloca os atributos na musa, porque em seu psiquismo confessional percebe que tudo o que ora diz com convicção é em verdade, farsa, fantasia, sonho que ele necessita se torne verdadeiro, prime por veracidade. Aliás, é este sonhar que faz o bardo cantar, dizer o verso doce e derramado, que não chega à dimensão da Poesia, cuja abrangência e destinação é a universalidade e não o intimismo, como é o caso presente. A bem da verdade, o poeta, o vate ou bardo, nunca faz versos para aquilo, aquele ou aquela que possui, que tem sob o seu domínio pleno, e sim para o que não tem, mesmo que por vezes eventualmente a possua... Estrelas, o sol, a lua, em seu texto, são o universo distante, longínquo, impossível de palpável conquista, e o mar (que se movimenta, que se esbate na praia) é a sua inquietação: a angústia de não perder o momento etéreo de felicidade que a poética propicia. No momento não posso analisar sob enfoque das figuras de linguagem que dão estilo e conteúdo poético aos versos, ao assumirem o sentido conotativo da linguagem. Devido ao não comparecimento das metáforas ao texto, o escrito se torna pobre, sofrível. Neste, fala o menino carente de amor dentro da clausura das palavras. E se debate frente à urdidura do cotidiano que lhe é hostil, devido ao insucesso pessoal frente à figura da Amada. O que, em última instância, o poeta-autor resume no seu texto é a sensação de felicidade que o poema lhe dá. Esta é sua sensação de fruição e gozo. E, por esta razão passional, bota a boca no mundo... E eis que o descubro em seu memorável relato intimista...

– Do livro inédito A VERTENTE INSENSATA, 2017/18.

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