Perguntas que o Kardec não fez

Lendo “O livro dos Espíritos”, do Kardec, ocorreram-me algumas coisas que ele não perguntou – algumas porque não lhe ocorreu e outras que não poderiam ter lhe ocorrido mesmo, visto que dizem respeito a um conhecimento que só existe em nosso tempo. Achei por bem listá-las. Como não tenho compromisso com a doutrina espírita, pude fazer perguntas que imagino incômodas, diante do que me pareceram contradições. Farei outras perguntas conforme for lendo.

1. Dizeis que não há efeito sem causa. Esse princípio não é violado pela existência de um Deus não criado? A que devemos responder aos que perguntam qual foi a causa de Deus?

2. Afirmais que os cometas são um começo de condensação de matéria e mundos em formação. Acaso não seria o contrário, isto é, resquícios de mundos já formados, como diz a nossa ciência?

3. Declarais que seria louco quem pretendesse saber o tempo da formação do mundo e que são quiméricos os cálculos para conhecer a época do surgimento da vida na Terra. Porventura a nossa ciência deveria não buscar responder a essas perguntas? Não estamos, lentamente, chegando a uma resposta acurada?

4. Sugeris que, embora não tenha sido o primeiro, existiu de fato um Adão. Não se trata então de um mito? Se ele não foi o primeiro, como dito, o que há de verdade na história dele?

5. Sustentais que o surgimento simultâneo do ser humano em diferentes pontos do globo não implica na existência de espécies distintas. Hoje são listadas várias espécies humanas que teriam coabitado com o Sapiens. As nossas definições de espécie estão equivocadas?

6. Asseverais que todos os globos do Universo são habitados. Sabemos que há mais planetas no Universo do que grãos de areia na Terra. Deus realmente precisa justificar com a vida cada grão de areia espacial? Por que, neste caso, ele não se preocupa com os grãos de areia de fato?

7. Classificais de orgulho e vaidade a pretensão do ser humano em achar que são os únicos seres racionais do Universo. Não seria também orgulho e vaidade que nós, pessoas vivas, atribuamos à vida a razão de ser de cada esfera do Cosmos? Sem conhecer o pensamento de Deus, qual é o possível embasamento que poderíamos ter para julgar que um globo sem vida no Universo é um desperdício de espaço?

8. Explicais que todos os espíritos se tornarão perfeitos, apenas uns se demorarão mais. Sendo a vida do espírito infinita, que motivo ele teria para se apressar na perfeição, já que a sua salvação é certa?

9. Esclareceis que o espírito não degenera e que sempre aprende a ciência que lhe veio ao passar por uma prova. Enquanto ainda é matéria, por que se observa no indivíduo uma frequente degradação moral?

10. Aduzis que os espíritos que são maus se tornaram assim por sua própria vontade. No mundo espiritual não existem contextos diferentes que podem beneficiar ou privilegiar um espírito em formação?

11. Falais na liberdade do espírito. Entretanto, ele foi criado e, portanto, não escolheu viver. Igualmente, já está destinado, como dissestes, à salvação. Como ele pode exercer a liberdade nessas condições?

12. Censurastes a Kardec por vos parecer que ele parecia querer adentrar nos desígnios de Deus. Visto que procurais dar um sentido e uma explicação para a nossa existência, não é o mesmo que vós fazeis? Logo adiante, afirmais que Deus olha de igual maneira para os que se transviaram. Como sabeis a maneira pela qual Deus olha ou deixa de olhar, sem que isso signifique adentrar nos desígnios de Deus?

13. Comentais o que sucede à alma no instante da morte. Não achastes oportuno mencionar os efeitos das Experiências de Quase Morte, geralmente tão maravilhosos que muitos se convencem da continuidade da vida pelos simples relatos que ouvem? Por que não ressaltastes o prazer que se sente ao morrer?

14. Afiançais que a alma que praticou o mal sentirá vergonha ao se reconhecer no mundo dos espíritos. Os relatos de EQM sugerem que o prazer experimentado ao morrer independe do que a pessoa possa ter feito em vida. Essa vergonha dos malfeitores acontece então depois do prazer?

15. Confirmais que o conhecimento do espiritismo exerce grande influência para amenizar a perturbação da alma no instante da morte. Acaso não acontece o mesmo com outras tradições espiritualistas? Não temeis ser associado a uma única religião de homens?

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 11/06/2018
Reeditado em 11/06/2018
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