Seja sincero: eu sou bonito, ou eu sou feio?

Obs.: Não responda sem ler.

A Filosofia é libertadora. Ela nos livra da tolice dos preconceitos e da ignorância. A Filosofia nos faz rir da ingenuidade das pessoas. Não rio por maldade, nem com sentimento de superioridade, pois ninguém é superior, nem inferior a ninguém. São as pessoas que colocam isso em suas cabeças. Mas vamos ao assunto! Chega de tergiversação! Chega de circunlóquio!

É a sociedade que cria as noções de beleza e feiura. Cada pessoa cria a sua noção do que é belo e do que é feio. As noções de bonito e feio mudam de acordo com a sociedade, o tempo e cada pessoa.

Já houve tempo em que a mulher, para ser considerada bonita, devia ser gordinha. A mulher magra era vista como alguém que não possuía condições para se alimentar bem. Ser uma mulher gorda era sinal de beleza e de boas condições financeiras. Hoje, a mulher gorda está fora do padrão de beleza imposto pela nossa sociedade. Para ser considerada dentro do padrão de beleza, a mulher deve ser magra; é um requisito. Muitas mulheres tiram a própria vida por desejaram seguir esse padrão. Tenha muito cuidado com a sociedade! Ela pode conduzir as pessoas à autodestruição. As formas de autodestruição são várias. Busque a sabedoria. Em certos lugares, para ficarem mais atraentes, os homens arrancam dois dentes da frente. Você riu? Rimos do que nos é desconhecido. Obs.: Eu não quero extrair os meus dentes. Eu os amo.

O escultor francês Auguste Rodin disse: "Em suma, a beleza está em toda parte. Não é ela que falta aos nossos olhos, mas nossos olhos que falham ao não percebê-la". Eu poderia ter deixado essa citação para o final, mas decidi colocá-la aqui.

O filósofo escocês David Hume, do século XVIII, escreveu sobre esse assunto. Uma de suas obras é chamada "Do Padrão do Gosto". Hume (pronuncia-se Rilme), na obra mencionada, afirma: "Temos tendência para chamar bárbaro tudo o que se afasta muito do nosso gosto e de nossas concepções, mas depressa vemos que esse epíteto ou censura também pode ser-nos aplicado". Comentando: você acha esquisito o que é muito diferente da sua cultura, ou do seu modo de viver, sentir, ver, gostar. Mas outras pessoas podem achar o mesmo sobre os gostos que você tem. Os europeus, por exemplo, consideravam os indígenas brasileiros vagabundos, preguiçosos, porque os indígenas brasileiros tomavam banho regularmente. Hoje, porém, reconhecemos que os indígenas estavam certos. Errados eram os europeus, que não gostavam de tomar banho. Portanto, deixe de considerar o seu gosto ou sua maneira de ver a vida e o mundo os melhores. Considere os melhores apenas para você. Deixe de querer que os outros gostem do que você gosta.

Esse assunto de beleza e feiura é um assunto amplo. Eu poderia falar muito e fazer muitas citações, mas não vou fazê-lo. A história da Filosofia nos oferece um amplo conteúdo e uma profunda reflexão sobre esse tema, começando por Sócrates e Platão, até os dias atuais. Mas vou continuar citando o filósofo David Hume, que diz: "A beleza não é uma qualidade das próprias coisas, existe apenas no espírito que as contempla, e cada espírito percebe uma beleza diferente. É possível até uma pessoa encontrar deformidade onde uma outra vê apenas beleza, e todo indivíduo deve aquiescer a seu próprio sentimento, sem ter a pretensão de regular o dos outros". Muito bonito e reflexivo!

Esse pensamento é suficiente para uma hora de palestra ou explicação. É suficiente para várias páginas de livro. Mas vou simplificar. Você pode ampliar a sua reflexão. Significa que a beleza maior se encontra em quem enxerga beleza em outra pessoa. Quem vê beleza onde outras pessoas não veem é mais belo (ou bela) do que aquelas pessoas que não veem. A beleza não está em quem é chamado de belo ou bela, mas em quem vê beleza no outro. A pessoa chamada de bela pode ser mesmo bela. Se tu me achas feio, feio ou feia és tu. Obs.: Estou interpretando o pensamento de Hume. Ele me ajuda muito. Eu assumo ser objetivo e subjetivo também. Hume possibilita isso.

Significa que cada pessoa deve continuar com seus gostos, mas não querer que as outras tenham os mesmos gostos. Eu, por exemplo, gosto muito de filosofia, português, matemática, sociologia, história, psicologia, mas não devo querer que outras pessoas gostem do que eu gosto, ainda que uma postura filósofica (pelo menos como reflexão, autocrítica, observação) seja necessária na vida de todo mundo. Eu não gosto de balada, mas quem gosta tem o direito de gostar. Quem gosta de cerveja é idiota, se quiser que eu goste de cerveja, ou que eu beba. Continue bebendo, sem desejar que eu beba. Eu não uso droga. Quem quiser pode usar. Cerveja é droga.

Hume afirma: "O sentimento está sempre certo, porque o sentimento não tem outro referente senão ele mesmo". Eis por que (razão) toda boa mãe acha o filho bonito, ainda que outras pessoas o achem feio. Obs.: Achar não é filosófico.

Portanto, eu, para mim, sou bonito; quero chegar a ser mais ainda. É algo pessoal. Beleza é o que eu já disse. Quem quiser me achar feio tem o direito de achar o que quiser. Quem não gosta de mim tem o direito de não gostar. Ah... Não me chame de bonito ou de lindo com a finalidade de afagar o meu ego ou por hipocrisia. Quem se dedica diariamente à Filosofia não necessita desse tipo de elogio. Chame-me de feio ou de bonito (ou lindo) se tudo vier do seu coração.

Admito que fui muito subjetivo neste texto, mas também fui fiel à Filosofia e às citações. A Filosofia liberta o homem dos conceitos de beleza e feiura. Segundo Epicteto, um dos meus filósofos preferidos, o homem não é carne nem pelo (ê), mas escolha moral. Se esta for bela, o homem será belo. Eu pergunto: o que é belo? O que é feio?

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 13/06/2018
Reeditado em 15/06/2018
Código do texto: T6363098
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