Ensaio sobre a necessidade de pensamento a respeito do fracasso

No século XXI, existe um esforço em conjunto de uma parcela dos ditos intelectuais, para a aceitação do fracasso como escola. Ainda hoje, porém, existe a difícil aceitação de que falhar não só é necessário, como também o ato em si deve ser observado, analisado, estudado e para que isso ocorra é preciso dedicar tempo, é preciso olhar para o que fizemos de errado, contemplar o nosso erro, a nossa mazela, o momento em que tudo rui em nossa frente. E por vezes isso é doloroso.

O começo do pensamento começa com o fato de que na atual sociedade, olhar para o fracasso é inaceitável, admitir e aceitar sua existência se faz errado. Na pós modernidade a palavra de ordem é sucesso, e o contrario disso deve ser ignorado e jogado fora. O problema dessa abordagem reside em não aproveitarmos o melhor modo de aprender. Errar é preciso, pelo menos quando prepara-se para uma prova, um exame, quando a máxima é levada para o campo dos negócios, porém, do afeto, ou até mesmo dos planos, fracassar não é uma opção. O erro do passado existe, porém tem sua existência como um filho feio que não comparece as reuniões familiares.

O medo que se tem de tentar e não conseguir, hoje, faz com que as pessoas queiram ignorar os seus erros. A apreciação da falha, o olhar mais atento ao que foi tentado, e que não funcionou, gera em nós o entendimento do que não fazer no futuro. O registro de cada uma das tentativas, erradas, de Thomas Edson de construir um lâmpada nos mostra o que não tentar. O seu fracasso retumbante mostra o que não se deve misturar para que se consiga luminosidade, além de mostrar que a tentativa e erro servem sim para o aprendizado.

Mas esse ponto de vista não serve ao homem contemporâneo. O verbo fracassar está sempre fora de nosso dicionário, e porque isso? Medo? Insegurança? Ao certo que uma parte da sociedade simplesmente apenas nunca parou para pensar nisso. E sendo assim, precisa-se de pessoas que reflitam sobre isso, dizendo que está tudo bem em não conseguir e que de tudo isso se pode tirar coisas boas.

Lendro Karnal, em suas várias palestras mostra, ou tenta, que o fracasso é apenas uma outra face do sucesso, e que está tudo bem em não conseguir alcançar o que se almeja, apenas existe de fato uma situação quando se desiste. Felipe Pena, em seu excelente Ted Talk, mostra como o fracasso de alguns, é um sucesso para outros, quando cita seu livro: ‘Meus fracassos na TV: Sinopses e roteiros de uma novela e dois seriados’ (2015), o palestrante mostra como escrever o que fez de errado, ajuda as pessoas a desenvolver um roteiro melhor. Pois com esses textos recusados, Felipe mostra o que não fazer.

Existe um motivo para tanto alarde em cima do ato de prestar atenção as quedas e tropeços cometidos. Para as pessoas que tem múltiplos fracassos, nota-se uma constante, o uso do mesmo como forma de propulsão. Fracassar não é o fim, muito pelo contrário, pode ser o começo de alguma coisa realmente importante, grande e que realmente faça sentido. Mas porque hoje não existe mais o aceite do fracasso? Porque hoje se foge do olhar para dentro de si mesmo e aceitar que, talvez, tenha havido uma precipitação. Pois o homem pós moderno, não consegue lidar com todas as pessoas sendo bem sucedidas ao seu lado. E para nós apenas existem pessoas bem sucedidas, no Instagram, no Facebook, no SnapChat, ninguém está triste, ninguém fala das suas falhas, dos erros, nas redes sócias compartilha-se apenas o bom, o resto é ignorado.

O fato é, a resignação ao fracasso gera um problema enorme. O indivíduo erra, como já é esperado, mas ao invés de aprender com aquele tropeço, ele o ignora. Essa negação a olhar para os momentos de falha, é o que tem prejudicado as mentes no século atual. Precisamos aceitar os erros, conviver com eles, entendê-los e finalmente superá-los.

Pedro Sousa Rocha
Enviado por Pedro Sousa Rocha em 01/07/2018
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