Memoráveis para quem?

É engraçado ver como o tempo consome tudo o que se quer demonstrar sólido. Gregório já nos alertou sobre uma das únicas verdades irrefutáveis: "a firmeza somente na inconstância". Entretanto, cá estamos, humanos de tudo, querendo provar que nossas decisões foram as mais acertadas, que estamos felizes o tempo todo e chovem aos montes fotos, vídeos, textos, alegrias tão frágeis que chegam a enfadar. Não. Não conseguimos manter a peça por muito tempo, então, eis a pergunta: para que viver uma peça, se por mais que os olhares judiciais te tenham repúdio, seja possível viver a autenticidade, sem forjá-la. Sei que não será agradável viver no exílio. Porque quando você permite que seu "eu" apareça, aqueles que são frívolos não conseguem aceitar, por não entenderem a metamorfose que somos. Porém, é muito mais leve internamente admitir que de nada sabemos ao todo, que nada é definitivo, nada é imutável ao tempo, nem mesmo os eixos que nos sustentam têm isenção ao desmoronamento, à dilaceração, podendo entrar em queda livre no exato instante de contato com uma nova realidade, o revés, é continuar a usar um escudo que impede o transparecer da verdade que quer sair de dentro do aflito, é escolher viver o homem subterrâneo...

Então, para que prender-se em algemas modeladoras, de que adianta reprimir-se, se no final... Tudo é inconstante. Tudo muda, tudo se transforma, nada é o que parece ser, nem sempre será o que um dia foi. Mataste várias versões para dar vida à que hoje é reflexo de quê? Não sei qual a resposta, mas, só saiba de uma coisa: Tempora mutantur. Permita-se a mudança. Não reprima a si, nem os outros. Todos precisamos da conexão com a nossa essência. Esse mundo contemporâneo, ágil, prático em demasia, distante e próximo de modo simultâneo, cria enfado constante.. E principalmente, a necessidade de personagens sólidos, memoráveis, mas, memoráveis para quem?